ANGOLA GROWING

O SIGNIFICADO DA PAZ

Joana Lina, a governadora do Huambo, foi citada há menos de duas semanas a alertar os jovens para os cuidados com a retórica que relativiza os resultados da paz. A preocupação da governante pode ser percebida a partir de uma formulação acessível: ninguém em sã consciência, sob qualquer pretexto, deveria ter o atrevimento de minimizar aquilo que representa o verdadeiro ponto de partida da construção da Angola próspera.

Como já defendemos vezes sem conta, a paz alcançada em 2002 é a segunda maior conquista dos angolanos enquanto povo, superada apenas pela autodeterminação, face ao colono. É, em rigor, a nossa segunda Independência. É um marco definitivo na construção da nossa história colectiva e, em termos lógicos, não é expectável qualquer conquista futura que lhe sirva de paralelo. Mas esses alertas que sublinham a necessidade de valorização e preservação da paz não podem ser confundidos com a narrativa que impõe a paz como um fim em si mesmo. As inumeráveis perdas humanas e não só, consentidas ao longo das quase três décadas de guerra civil, só podem ser significadas se as gerações actuais desfrutarem dos confortos mínimos do seu tempo. E se as futuras puderem viver numa Angola verdadeiramente realizada.

Transcorridos 17 anos após o calar das armas, o futuro imediato anuncia-se mais exigente e muito do que se tolerou até hoje passará a ser simplesmente inaceitável. À porta de fecharmos duas décadas de paz efectiva, ter água potável e energia eléctrica em casa não poderá continuar a ser um luxo, especialmente nos centros urbanos e cercanias. O acesso à escola, particularmente no primário, não poderá manter-se como um privilégio para muitas crianças, incluindo para aquelas que se encontram nos recantos do país. As oportunidades de acesso ao primeiro emprego e o combate ao subemprego têm de ser palpáveis. E as estatísticas que colocam metade da população na pobreza e pelo menos um terço na pobreza extrema devem merecer melhorias significativas, sob pena do falhanço colectivo. É a materialização de todas essas aspirações, individual e colectivamente, que fazem do alcance da paz um meio e não um fim em si mesmo. E os que assumem a condução do país hoje, grosso modo, têm as condições largamente mais favoráveis. Porque quem assegurou a fase mais complexa do percurso, aquela que compreendeu o início imediato da reconciliação e da reconstrução do país, mesmo com imperfeições, legou bases sólidas.