“O turismo interno está parado”
ENTREVISTA. Entradas para o lazer “débeis” e bilhetes de passagem caros são alguns dos constragimentos que Ramiro Barreira, secretário-geral da Associação de Hotéis e Resorts de Angola (AHRA), identifica no turismo.
Como avalia o turismo em Angola?
Houve alguns passos que precisamos de saudar e reconhecer, como a abertura aos vistos. Mas continua a ser uma medida insuficiente para atrair turistas. Além disso, os bilhetes de passagem são caros e isso não ‘arrasta’ turistas quer internos, quer estrangeiros.
O que deve ser melhorado?
As estradas. Estão em muito mau estado. Precisamos de voos ‘charters’. E não só. Não se compreende que um bilhete num voo de 45 minutos, Luanda-Huambo-Luanda, custe 76 mil kwanzas. Se juntar o hotel, alimentação e transporte, num fim-de-semana de três dias para um casal, estaremos a falar num gasto de, pelo menos, 300 mil kwanzas. É muito caro para os rendimentos actuais da classe média. Por isso, o turismo interno está parado.
E os preços dos hotéis?
Temos de reconhecer que há hotéis e restaurantes que praticam preços altos e precisamos de nivelar. Na generalidade, os preços reflectem os custos operacionais altos no mercado nacional, devido ao difícil ambiente de negócios. Os produtos que consumimos são caros. Vejamos os preços do peixe, marisco, carne, batata, cebola, tomate, carne, azeite, vinhos, etc.
Mas são produtos que podem ser adquiridos localmente?
Talvez. Este ano, a AHRA vai realizar um congresso de hotelaria e uma Expohotel para relançar o sector do ponto de vista empresarial, avaliarmos o potencial industrial e agrícola e, com isso, estudarmos as vias para adequarmos os preços face ao mercado. Esta questão dos preços tem sido uma preocupação constante da nossa parte e vamos continuar a trabalhar no sentido de responder positivamente às reclamações.
Se comparados aos SADC, os preços são competitivos?
Os nossos preços na região ainda não são competitivos e principalmente os de serviços. Precisamos de ultrapassar muitos dos nossos constrangimentos. Muitos dos hotéis membros da AHRA, fora do centro da cidade de Luanda, praticam preços na ordem dos 30 dólares que já são mais atractivos. Provavelmente, precisaremos de melhorar alguns serviços, de alojamento, restaurantes e comodidade dos clientes.
O serviço das pensões é aceitável?
Temos pensões e residenciais para todos os bolsos. Talvez Luanda precise de mais unidades com baixos preços, não apenas de quatro e cinco estrelas.
Em quartos e camas, o que o país tem como oferta?
Temos cerca 22 mil camas, sem as pensões residenciais e albergarias, o que é manifestamente insuficiente para os desafios futuros, embora actualmente responda ao nível da demanda nacional. Há zonas onde as taxas de ocupação não passam de 20%.
Quais são os principais constrangimentos dos hoteleiros?
Temos vários constrangimentos e o maior é, sem dúvida, o ambiente de negócios reflectido, designadamente, nas elevadas taxas de juro e na falta de energia e de água nas unidades hoteleiras. Podemos ainda destacar o financiamento para a recapitalização do sector, quadros capazes, a pressão da AGT face às empresas descapitalizadas, num contexto que deveria exigir da parte deles muita sensibilidade principalmente para as pequenas e médias empresas, embora em algumas zonas do país já haja muito diálogo e melhor compreensão. Faltam materiais de apoio logístico às unidades hoteleiras.
Qual é a relação entre os hoteleiros e as agências de viagens?
Temos uma relação privilegiada, aliás, temos em vigor um memorando de entendimento entre a AHRA e a AAVOTA que estabelece as bases de cooperação que permitem que as agências de viagens possam colocar hóspedes nos nossos hotéis e tenham um papel mais contributivo para o desenvolvimento do turismo.
Luanda continua a ter maior investimento. Não se devia investir mais noutras províncias?
De uma maneira geral, sim. Não só por ter mais de 30% da população angolana, tendo-se tornado numa grande metrópole, mas também pelas infra-estruturas que tem. Até finais do próximo ano, provavelmente teremos mais de 1.200 camas, só de hotéis de quatro e cinco ‘estrelas’. No âmbito das políticas actuais do Executivo, prevê-se um aumento de investimento nas várias zonas do país, principalmente nos pólos de desenvolvimento turístico, na zona de Okavango Zambeze, no Kuando-Kubango, Cabo Ledo, Kalandula, entre outras.
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