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Académicos e sindicalistas questionam

Políticas de criação de emprego postas em causa

TRABALHO. Director do CEIC entende que o Estado perde muito tempo e dinheiro em definir políticas de criação de emprego que nunca funcionaram e ironiza com os dados do INE. Sindicatos reclamam que há muita força de trabalho no desemprego e que o Governo não revela estatísticas reais.

Criação Emprego

O director do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica criticou as políticas de criação de emprego gizadas pelo Governo nos últimos anos. Numa plateia recheada de ministros, na ENAD, em Luanda, Alves da Rocha foi frontal ao afirmar que “o Estado perde muito tempo e dinheiro em definir políticas de criação de emprego que nunca funcionaram”.

O director do CEIC entende que o país “precisa de reflectir e alinhar-se melhor porque a taxa desemprego em Angola é gritante, é das mais altas da África Subsariana e as projecções apontam para pior, de 21% em 2018 para 30% em 2022”.

Alves da Rocha desconfia da taxa de desemprego apresentada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), de 24% segundo o Censo de 2014 e que baixou para os 21%, afirmando “não entender como é possível uma economia, cuja taxa de crescimento está estagnada e, nalguns casos , decresceu, ver a taxa de emprego crescer”. “É isso que o INE nos seus relatórios está a querer dizer, mas o CEIC não aceita”, desafiou, acrescentando, de forma irónica, que os dados do INE até “mereciam um prémio Nobel da economia”. “As estatísticas oficiais têm problemas sérios e por isso não confio nelas, mas temos tido debates para perceber que livros de macroeconomia estudam”, insistiu.

Em declarações ao VALOR, o director-geral do INE, Camilo Ceita, defendeu-se, lembrando que o problema na discrepância está nas metodologias utilizadas. O INE, sendo a instituição oficial para produzir dados oficiais, obedece às normas da carta de África e das Nações Unidas, ao passo que as igrejas e outras instituições fazem com base nos seus critérios.

Alves da Rocha lembrou ainda que, em todo o mundo, quanto maior é a taxa de desemprego mais elevada é a pobreza.

“São estas a evidências que os governos devem ter em conta.” Segundo projecções do CEIC, com base nas taxas de crescimento da economia previstas no Plano Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018-2022, a taxa de desemprego em 2022 poderá rondar os 30%.

Para o economista, o PDN está “cheio de intenções”, mas é preciso que resolva o problema do desemprego, que é “preocupante”. Alves da Rocha reforça que Angola precisa de produtividade para competir com outros países, mas a “competitividade faz-se com emprego e um sistema onde as instituições funcionem e Angola não tem instituições”.

Ao VALOR, Francisco Jacinto, secretário executivo dos Sindicatos Independentes e Livres (SGSILA), considerou que Angola “está muito longe” de diminuir o desemprego. “Temos muita força de trabalho no desemprego, o Governo até foge em falar da percentagem. Mas a SGSILA calcula que esteja acima dos 36%.” O secretário-geral da UNTA, Manuel Viage, não tem dúvidas de que o emprego está “cada vez mais escasso”.

O líder sindical defende que o emprego está relacionado com o ambiente de negócios e que, por isso, “o Estado deve desenvolver políticas que propiciem um ambiente económico atractivo para se criarem ou manterem os empregos já criados”. “Há políticas, mas os resultados ainda são pouco visíveis”, entende o responsável da UNTA.