Quatro anos após…
No rescaldo dos quatro anos sobre a realização das eleições de 2017, há factos que têm de ser necessariamente escritos e reescritos. Para que se eternizem na nossa memória colectiva.
Para que, como ensinam os propósitos da História, ajudem as gerações futuras a superarem-se, compreendendo as raízes do nosso prolongado fracasso. Mas também para que sirvam de ajuizamento às gerações actuais sobre as mudanças incontornáveis que se impõem hoje. As tais que deverão colocar o país no curso do tão sonhado progresso.
Quatro anos após a promessa do início de uma nova Angola, tem de ser reescrito e lembrado, por exemplo, que o MPLA decidiu levar 'pastores' a comícios para rezarem pela baixa dos preços da cesta básica. E que se desengane quem tenha visto nas preces do MPLA um mero reconhecimento tácito do falhanço das tentativas do BNA de controlar os preços. Foi mais do que isso. Foi a assumpção da incompetência acumulada dos longos e cansativos 46 anos de poder, 19 dos quais com o calar das armas.
Quatro anos após a troca de cabeças no comando do país, tem de se reescrever que o compromisso com a aceleração da liberdade de imprensa foi deixado para as calendas gregas. Implantando, em sua substituição, uma perseguição desavergonhada à imprensa privada e um controlo criminoso da imprensa pública.
Quatro anos sobre a promessa do aprofundamento dos processos democráticos, tem de se recordar que o que se vê hoje é um regime mais empenhado do que nunca em livrar-se de todas as ameaças ao seu poder. Usando instituições soberanas para combater e inviabilizar projectos alternativos credíveis.
Depois de quatro anos sobre o lançamento da esperança num Estado menos partidarizado, tem de ficar registado que o que vemos hoje é um Presidente que transforma uma das principais dirigentes do seu partido em responsável máxima do Tribunal que tem, como primeiro e último fundamentos, a salvaguarda da Constituição.
A um ano do fim do mandato oferecido a João Lourenço em 2017, tem de ser escrito que sobra um Governo que, visivelmente desorientado, vai sacando da cartola projectos cuja complexidade exigem debates demorados e reflectidos. Como o que ficou designado por ‘revisão pontual da Constituição’ ou a mais recente proposta de uma nova divisão administrativa do país.
Quatro anos sobre as últimas eleições, tem de ficar grafado que o que resta é um Governo que fundamenta o inoportuno retalhamento de províncias com a promoção de equilíbrios económicos. Como se as províncias mais pequenas do país estivessem diferenciadamente mais avançadas que as mais esticadas.
Depois de quatro anos, é preciso reescrever que temos um Governo que fez do combate à corrupção o seu principal projecto. Apesar de não apresentar qualquer estratégia neste sentido a um ano do fim do seu mandato, apesar de resistir em alterar o regimento de declaração de bens dos governantes e apesar de consolidar as adjudicações directas como a principal modalidade de alocação de projectos públicos.
Quatro anos após as eleições de 2017, tem de se escrever que o país ficou mais pobre, mais miserável e menos democrático.
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