Seis razões pelas quais vale a pena confiar!
Quanto mais se moderniza a sociedade, mais importante se torna a Confiança no plano prático das relações e das interações sociais a todos os níveis da nossa vida. Podemos concluir que existem, pelo menos, seis razões que reforçam a importância da confiança nas sociedades em geral.
Em primeiro lugar, praticamente todas as sociedades humanas, independentemente do seu grau de modernização, precisam de encapsular a ideia de desenvolvimento a partir de estruturas humanas (tal como as instituições), e cada vez menos como processos de «fé», ou baseado nas relações pessoais e de proximidade. Para lidar com as incertezas do futuro, os indivíduos necessitam, absolutamente, de confiar, seja nas instituições, seja nos seus sistemas, processos e «agentes», cuja actividade consiste, justamente, em dirigir e gerir o próprio desenvolvimento da sociedade.
Em segundo lugar, o mundo moderno baseia-se em avançadas divisões do trabalho e de diferenciação de papéis que produzem cada vez mais dependências, tanto no seio das sociedades, como entre elas. Estas dependências, por sua vez, são tanto portadoras como, ao mesmo tempo, geradoras de (mais) incertezas e riscos. Donde, e consequentemente, uma maior necessidade de mais e melhores esforços de cooperação com os outros, o que aumenta a procura da confiança e a própria necessidade de a (re) produzir e expandir. Mas atenção: convém aqui diferenciar «risco» de «incerteza». O risco é uma probabilidade percebida como perda potencial, interpretada por quem toma a decisão de confiar. A incerteza é a incapacidade de conhecer o próprio risco.
Em terceiro lugar, o nosso mundo tende para a aceleração do seu processo de transformação global e para a «conquista social» da terra, com um impacto total não apenas na nossa vida, como na nossa própria condição de viver. Por via das modernas tecnologias de informação, comunicação e transporte utilizadas, o mundo tende a ficar cada vez mais «pequeno», «rápido» e «plano», aproximando inevitavelmente as pessoas e as sociedades e criando com isso (inevitavelmente), novos riscos e ameaças. Portanto, quer a nossa existência, quer a nossa preservação decorrem num contexto e num ambiente de vulnerabilidade e mudança acelerada. Dito de outra forma, a nossa existência e a nossa condição acontecem cada vez mais numa «sociedade de risco». Este facto contribui fortemente para a necessidade de conseguir produzir confiança ao nível inter individual e colectivo.
Em quarto lugar, dado que temos de lidar com um número cada vez maior de opções na vida moderna, precisamos de recorrer à confiança nas nossas rotinas e no funcionamento dos designados «sistemas abstractos, técnicos e periciais», seja quando escolhemos a escola para os nossos filhos, um banco para depositarmos poupanças, uma companhia aérea a quem confiamos a nossa viagem ou uma grande superfície onde adquirimos alimentos. A confiança «existencial» é a melhor forma de lidar com as exigências de decisão permanente, porque criam um cenário de previsibilidade que mantém a «ilusão» da narrativa colectiva. Diariamente, somos todos confrontados com múltiplas escolhas e oportunidades, pelo que temos de efectuar decisões sobre, em quem, e no que confiar, e cada opção significa uma renúncia a outra. Em comum, encontramos o facto de todas as escolhas terem um preço. Porém, a nossa própria história colectiva ensina-nos que, quando comparado ao preço da desconfiança, concluímos que esta última opção é mais dispendiosa.
Em quinto lugar, há nas sociedades modernas uma progressiva tendência para uma certa «opacidade» de alguns segmentos do seu funcionamento em relação à maioria dos seus cidadãos. É o caso do funcionamento dos mercados, da máquina e da engrenagem burocrática tanto governamental como institucional de muitos serviços públicos de que dependem biliões de indivíduos em todo o mundo. Quando as pessoas são confrontadas com essa enorme «caixa-negra», os não-especialistas (que são a esmagadora maioria dos indivíduos e cidadãos), necessitam de confiar, caso contrário ficariam paralisados e seriam incapazes de agir.
Finalmente, em sexto lugar, nos contextos modernos o número de «estranhos» e «estrangeiros» tende a aumentar, seja devido às migrações, ao turismo ou simplesmente às facilidades de viajar em geral. Portanto, a confiança torna-se não só a abordagem necessária, como a mais adequada ao comportamento social e cooperativo e ao funcionamento das grandes redes nas quais estamos inevitavelmente envolvidos.
Um tanto paradoxalmente, podemos concluir que quanto menor é o conhecimento que se tem de uma pessoa, de uma organização ou de uma instituição de quem se necessita ou depende, seja para obter serviços, produtos ou informação, mais necessária se torna a confiança. Ora, dada a complexidade crescente das sociedades modernas em que vivemos, é altamente improvável que consigamos ter o completo conhecimento de tudo. Resta-nos arriscar porque, de resto, já vivemos numa sociedade de risco.
E você, em quem já confiou hoje?
Director Executivo da Noosfera – KnowledgeMatters
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