ESTAÇÕES DE SERVIÇOS RESISTEM À CRISE E À FRACA CLIENTELA

Sem carros e com salários a baixar

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. Falta de clientes e redução de preços são os reflexos da crise que também atinge as estações de serviço. A alternativa passa por prestar outros serviços e por reduzir salários.

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A lavagem de viaturas nas estações de serviço nos bairros de Luanda deixou de dar os lucros que já deu. Por isso, tentam disponibilizar, além da lavagem, pintura, bate-chapa, tratamento de ar condicionado, manutenção e serviços de mecânica.

Desse modo, o cliente que leva a viatura para a pintura, mecânica ou outro serviço, já não precisa de lavar a viatura noutro lugar porque, a maioria das estações já garantemtodos os serviços.

As estações que chegavam a lavar oito carros por dia, de segunda a sexta-feira e, 12 aos sábados e domingos, lavam, actualmente, apenas um ou dois carros por dia, de segunda a sexta-feira e seis carros aos fins-de-semana.

Na oficina ‘Matrixi Li’ Grupo, no Benfica, em Luanda, gerenciada por um cidadão de nacionalidade chinesa, a facturação baixou significativamente, desde o princípio de 2017. A lavagem, que rondava os seis mil kwanzas, passou a custar entre os 2.500 e os 3.500 kwanzas.

Os únicos dois lavadores são angolanos e confirmam que “sábado e domingo são os dias que têm tido mais trabalho, porque conseguem lavar seis a sete carros”. A estação é composta por três chineses, dois lavadores angolanos e uma secretária, também angolana. Segundo Eugénia Máquina, secretária e recepcionista, “tem sido difícil, nos últimos dias, conseguir clientes à segunda-feira, mas às terças e quartas, no final da tarde, quando a maior parte do pessoal está a sair dos locais de trabalho, aproveitam para lavar as viaturas”.

É difícil saber os salários dos chineses, mas o Valor apurou que os dois angolanos, que ganhavam 35.000 kwanzas mensais, agora ganham 25.000 kwanzas cada um e, a remuneração da secretária sofreu uma redução dos 45.000 kwanzas para os 35.000 kwanzas por mês.

Reduções

Alexandre Buta é gerente e dono da Estação de Serviço AB, no Calemba 2, mas, começou o negócio nas áreas dos transportes e educação. Por causa da crise, viveu situações complicadas. Já faltavam clientes no final de 2014.

Depois desse periódo, Alexandre Buta pensou num outro negócio que pudesse acudir a área dos transportes. Abriu uma estação de serviço e reconhece que “a situação actual é diferente” de quando começou.

Em 2014 e 2015, Alexandre Buta conseguia, em média semanal, 800 a um milhão de kwanzas, só na estação de serviço. Actualmente, a média semanal oscila entre os 150 e os 200 mil kwanzas. “A média semanal passou a ser a média mensal e, às vezes, não chega para cobrir as despesas.”

Apesar das dificuldades,não baixou os salários dos funcionários, que variam dos 25 mil kwanzas aos 50 mil. Alexandre Buta decidiu implementar uma oficina que ainda prestasse assistência técnica, mecânica, manutenção, lubrificações e recauchutagem para conservar o empreendimento e manter a freguesia.

Tem 12 funcionários. Os preços das lavagens variam dos mil kwanzas aos 2.500. Anteriormente, a lavagem mais barata custava 3.500 kwanzas e a mais cara rondava os cinco e os seis mil kwanzas.

Com a implementação dos outros serviços, a estação consegue atender 20 a 30 viaturas por dia. Na AB, fazem-se lavagens normais e ‘vips’, com utilização de produtos especiais e que custam mais caro.

As ‘vips’ vão dos quatro aos seis mil kwanzas. Os preços da lavagem a seco e de interiores variam dos 12 aos 16 mil kwanzas, e leva algumas horas para terminar. As viaturas com manchas ficam, no máximo, dois dias na estação.

A resistir…

A Estação de Serviço Avima, na avenida Comandante Fidel Castro, tem 11 funcionários e dois sócios. O gerente, António Ginga, garante que os finais-de-semana são os dias de eleição dos clientes, mas o número de viaturas baixou significativamente. Mesmo assim, lava entre cinco e sete carros por dia. De segunda à sexta-feira, lavam dois a três carros por dia, ao preço de 2.500 kwanzas cada um, no caso dos carros pequenos, e as maiores custam 4.000 kwanzas.

Por causa da fraca clientela, o salário dos lavadores baixou de 35 para 25 mil kwanzas. Segundo Ginga, “a situação mantém-se porque os clientes preferem as oficinas que fazem outros serviços além das lavagens, por isso, o patrão está a analisar a redução do preço das lavagens para preservar os ‘clientes da casa’”.

Em confronto com a ‘AB’, a estação TDT também implementou outros serviços para manter a freguesia. A TDT está situada na Zona das ‘Quinhentas Casas’, em Viana, e pertence a vietnamitas. Mas o gerente é angolano, chefiando nove colegas, igualmente angolanos, entre lavadores, mecânicos, bate-chapas e pintores. A estação lava mais de 10 carros por dia porque os preços baixaram. Os carros grandes, tipo Toyota ‘Land Cruiser’, pagam 3.500 kwanzas, os do tipo Hiace 6.000 e os da classe turismo 2.500. A lavagem de interior demora quatro dias enquanto a seco leva 15 dias por 25.000 kwanzas.

‘Dibinza’ também na rua

Os lavadores de carros de rua também estão a viver momentos difíceis e diferentes de outros tempos. Adilson Hilário trabalha rua do Projecto Nova Vida há mais de seis meses. Antes, conseguia 15 mil kwanzas por dia. Agora, consegue apenas quatro mil nos dias de semana e oito mil nos finais-de- semana. Para lavar uma viatura numa rampa, cobra 2.500 kwanzas e fora da rampa 1.500 quando, antes, na rampa cobrava seis mil kwanzas e 3.000 fora.

Adilson Hilário lava cinco carros, mas tem de entregar a maior parte do lucro ao gerente. Ainda tem de convencer clientes, em disputa com os outros colegas. Se lavar um carro e receber 2.500 kwanzas, tem de dar ao gerente 1.700, ficando apenas com 800.

Fernando Paulo lava no Bairro Prenda, há mais de cinco anos. Antes da crise, lavava entre seis e sete carros por dia. Agora, só com muita sorte consegue dois ou mesmo um. As sextas e sábados são os dias em que mais consegue clientes.

Cada um paga 500 kwanzas só para limpar o carro e mil se quiser uma lavagem de dentro e fora da viatura. Domingo é o dia que não pode faltar porque lava cinco viaturas ou mais e recebe cinco a oito mil kwanzas.