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SOBRE O PAPAGRO

Há três semanas, mais precisamente na sua edição número 19, de 25 de Julho, o VALOR publicou uma matéria que noticiava a passagem do Programa de Aquisição de Produtos Agro-Pecuários (PAPAGRO) do Ministério do Comércio (MINCO) para o Ministério da Família e Promoção da Mulher. A matéria citava e identificava uma fonte oficial do Comércio, no caso o director do gabinete do ministro, Conceição Gaspar, que falou a este jornal, confirmando a mudança institucional de mãos do conhecido programa, lançado em 2013 pela então ministra Rosa Pacavira. Para que não houvesse espaço para dúvidas e especulação, além de identificar claramente a fonte, o articulista preferiu passar um trecho da breve declaração do responsável do MINCO em discurso directo: “O PAPAGRO passou agora para o Ministério da Família e Promoção da Mulher”. E o texto prosseguia, com outras referências de ‘background’ sobre o titubeante histórico do programa. A rádio ‘LAC’ – Luanda Antena Comercial – retomou oportunamente a matéria, citando o VALOR, e, por consequência, a notícia chegou a um público muito mais vasto.

Pouco depois, o Ministério do Comércio distribuiu à imprensa um comunicado com seis pontos. E, logo no primeiro, anunciava que a informação divulgada pelo VALOR e retomada pela LAC “não corresponde à verdade”. O MINCO aproveitou o comunicado para corrigir que o projecto transferido para a Família e Promoção da Mulher era o Programa Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza (PMIDRCP) e não o PAPAGRO. Acrescentou outras referências, como o facto de o ministro Fiel Constantino nunca ter relatado, em nenhuma das suas intervenções “o insucesso do programa, nem a exoneração de técnicos do Ministério”. O comunicado fecha com o ponto seis, em que o MINCO “reconhece o empenho e vontade por parte dos órgãos em informar, e apela a que o exercício seja feito com a prudência e o zelo que tal exercício exige”.

Tudo estaria bem feito e esclarecido, não fosse o Ministério ter falhado num detalhe de natureza ética. Numa tentativa lamentável de autoprotecção, o MINCO ocultou, de forma tendenciosa, que foi o único responsável pelo facto de a informação ter passado com a imprecisão em causa. O que parece absolutamente óbvio para qualquer pessoa que tenha tomado contacto com a matéria. Foram precisamente “a prudência” e o “zelo”, questionados no comunicado, que levaram o jornalista a apurar a informação junto do MINCO, que acabou por confirmá-la. É, por isso, no mínimo desonesta a omissão deliberada do Ministério em assumir o erro, transferindo-o para os órgãos de informação.

Sobre as declarações do ministro do Comércio, coloca-se também o devido esclarecimento. Não há uma única frase no texto do VALOR que cita o ministro Fiel Constantino a declarar o insucesso do PAPAGRO. O jornal cita fontes não reveladas que atribuem o insucesso do programa a uma alegada falta de coordenação entre o Ministério e o BPC, a entidade financiadora.

Posto isto, é preciso dizer que os jornais também cometem erros. E, sempre que isto sucede, é prática terem a sobriedade de os reconhecer. O VALOR, pelo menos, assume-os. Por honestidade e obrigatoriedade profissionais e pelo respeito que nos merecem os leitores. É exactamente por essas razões que também não assumimos erros alheios.