ANGOLA GROWING

VER PARA CRER

O Congresso do MPLA terminou com uma crítica contundente de José Eduardo dos Santos à classe empresarial. Ou, pelo menos, à parte dela. O líder dos camaradas questionou a atitude de certos empresários desonestos, por recorrerem a práticas que lesam gravemente os interesses do Estado. Dos homens de negócios que acedem, de forma criminosa, aos recursos públicos, e que, por via disso, se enriquecem, pondo em causa as aspirações da maioria esmagadora dos angolanos.

Nada disso é, na verdade, estranho em José Eduardo dos Santos. Nos últimos anos, aliás, o presidente do MPLA transformou-se simultaneamente num dos principais defensores e críticos da actuação dos segmentos favorecidos dos militantes do partido no poder. E a classe empresarial é, na verdade, o grupo mais privilegiado de todos, senão o único.

Curiosamente, uma das mais recorrentes defesas de José Eduardo ao empresariado está relacionada com as acusações também sistemáticas de sectores críticos sobre o chamado enriquecimento pela acumulação primitiva de capital. A última vez em que José Eduardo dos Santos respondeu a essas críticas, rebateu com o argumento de que os sectores adversos ao regime colocavam em causa os esforços legítimos do Estado de criação de uma classe empresarial nacional robusta e garante da soberania económica.

Colocado agora na posição de crítico, o líder dos camaradas sugere que nem todos os empresários são da mesma espécie. Há os que protegem e há os que lesam os interesses do Estado. Mas esta distinção não é necessariamente o mais importante por ser, no mínimo, óbvia. O problema é como identificar uns dos outros. E, mais do que isso, como premiar os bons e punir os maus. Essa é a preocupação essencial. Sobretudo quando se sabe que a maioria esmagadora dos empresários mais relevantes, onde se juntam malignos e benignos, são governantes ou ex-governantes. Ou altas figuras de outras estruturas do aparelho do Estado. Ou simplesmente membros influentes do partido no poder.

É essa a barreira intransponível que esvazia qualquer ‘discurso de boas intenções’, salvo se acompanhado de sinais claros de mudança.

É o que já dizíamos, na semana passada, no texto de antecipação ao sétimo Congresso MPLA. O debate interno sobre a viabilização da probidade pública é obrigatório no MPLA, mas só terá serventia, se for acompanhado de exemplos práticos de punição aos infractores. Se o compromisso com a ‘tolerância zero’ não for mais um recurso político de distracção dos incautos. A mesma receita aplica-se ao combate à corrupção, à gestão danosa do erário e a todos os outros cancros que inviabilizam o progresso de Angola.

Por agora, a bola foi passada aos empresários do lado mau. Vamos esperar se reagem. Mas também aos órgãos de justiça que têm a responsabilidade de punir os que atentam contra os recursos que a todos pertencem. É uma questão de ver para crer.