100 dias debaixo de protestos
BALANÇO. Em 100 dias, Michel Temer não tem escapado aos protestos em todo o lado para onde se desloca. Mas conseguiu ser um conciliador. E prepara-se para tomar medidas duras, como o aumento de impostos, já para o final de Agosto, e o congelamento de salários.
O presidente interino do Brasil, Michel Temer, cumpriu 100 dias de governação, entre protestos, polémicas com ministros envolvidos em problemas com a justiça e múltiplas concessões para tentar agradar a todos.
Com um governo aprovado por 14% da população, Michel Temer assumiu o poder, a 12 de Maio, na sequência da aprovação do pedido de destituição de Dilma Rousseff, acusada de irregularidades orçamentais.Visto como “traidor e golpista” pela ex-presidente, num processo que dividiu a população e gerou até comentários de líderes mundiais, Michel Temer não escapou às vaias na abertura dos Jogos Olímpicos 2016.
As denúncias de corrupção que assombraram o Partido dos Trabalhadores (PT), de Dilma Rousseff e de Lula da Silva, chegaram também ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e ao governo de Michel Temer, num país onde os habitantes vêem a corrupção como o maior problema da nação.
Em pouco mais de um mês, o governo perdeu três ministros por causa da ‘Operação Lava Jato’ - que investiga o maior esquema de corrupção do país, envolvendo dezenas de políticos. Temer não foi acusado nessa operação, mas já foi indicado por ter recebido subornos.
Na posse aos ministros, Michel Temer entrou como se fosse um presidente efectivo e defendeu um “governo de salvação nacional”. Tem tentado responder a todas as críticas, recuando na decisão de extinguir o Ministério da Cultura e contornando a falta de mulheres no executivo, nomeando três para cargos importantes.
Apesar das medidas mais impopulares que se prevêem para depois do esperado afastamento definitivo de Dilma Rousseff no final do mês, o governo, empenhado no ajuste fiscal, recusou extinguir programas sociais de apoio aos mais necessitados, lançados na era PT, como o ‘Bolsa Família’. E voltou atrás na decisão de travar a construção de 11.250 casas do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’.
Temer tem sido um negociador, que já recebeu mais parlamentares em três meses do que a sua antecessora num mandato e meio. Deste modo, foi possível aprovar medidas económicas liberais que Dilma Rousseff não conseguiu no Congresso.
O presidente contou ainda com o apoio do Congresso para fixar a meta do défice em 170,5 mil milhões de reais (50,1 mil milhões de dólares) este ano, já este mês, o Executivo teve de ceder na proposta de congelar os salários dos funcionários públicos, numa altura em que o Brasil enfrenta uma recessão profunda.
Contando com o apoio dos empresários desde o início devido à impopularidade de Dilma Rousseff e com alguns indicadores a mostrarem um aumento de confiança devido às medidas tomadas, Michel Temer tem simultaneamente tentado agradar a parlamentares e sindicalistas.
Diante da pior recessão desde 1901, quando o Produto Interno Bruto (PIB) começou a ser calculado, e com uma dívida que supera 70% do PIB, o ministro da Fazenda (Finanças), Henrique Meirelles, avisou que seria necessária “uma redução de despesas muito importante”, com cortes diversos. Em Julho, o governante admitiu privatizações de empresas e concessões, nos petróleos e aeroportos. No final deste mês, o governo deve decidir aumentos de impostos.
Na cena internacional, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, informou que a diplomacia brasileira vai deixar de funcionar por “preferências ideológicas”, mas continuou a linha do governo anterior de encarar a China como uma prioridade. Distanciando-se dos aliados na América Latina, da era PT, Brasília tem travado uma “guerra” contra o facto de a Venezuela, de Nicolas Maduro, ter assumido a presidência rotativa do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Ao lado do Paraguai e da Argentina, o Brasil sustenta que a Venezuela não cumpre todos os pré-requisitos para a integração no bloco.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...