Adalberto Costa Júnior eleito presidente em congresso que custou mais de 600 milhões kz
ELEIÇÃO. Novo presidente do maior partido na oposição faz estreia com um discurso diferente do do seu antecessor que, durante a abertura do congresso, destacou a “importância” da “reconfiguração dos discursos e das alianças”, além de proferir duras críticas ao anterior Governo e elogios ao novo Executivo.
Adalberto Costa Júnior foi eleito presidente da Unita com 594 votos, dos 1.138 validamente expressos, num congresso avaliado em mais de 600 milhões de kwanzas.
O valor é avançado por um dos responsáveis das candidaturas ao congresso que justificou os números com o financimento aos cinco concorrentes e com as despesas logísticas do conclave, incluindo a deslocação dos delegados das províncias e do exterior para Luanda.
Rúben Sicato, o porta-voz da reunião magna, não confirmou o montante, mas reconheceu ter sido um “congresso muito caro”. O responsável apontou a inflação com uma das razões dos “altos” custos incorridos e adianta que a direcção do partido se encontra ainda a consolidar as contas, para a produção do relatório final.
Ao que o VALOR apurou, para a corrida eleitoral nesse XIII Congresso Ordinário, o partido atribuiu 2,3 milhões de kwanzas a cada um dos cinco concorrentes, perfazendo um total de 11,5 milhões de kwanzas. Os candidatos tiveram ainda a prerrogativa de realizar incrementos financeiros à própria campanha de até 40% do valor conferido pela organização.
O VALOR não conseguiu apurar quanto a Unita terá concedido a cada concorrente a presidente do partido durante o XII Congresso de 2015, nem quanto o partido investiu do ponto de vista geral naquele conclave. Mas altos quadros da organização sublinham que o congresso de 2019 teve “custos significativamente maiores” ao passado, face à diferente realidade financeira do partido.
Em 2015, por exemplo, fruto dos resultados eleitorais de 2012, a Unita teve 16 deputados, o que lhe permitiu encaixar do Estado pouco mais de mil milhões de kwanzas por ano, com base no cálculo previsto na lei de financiamento dos partidos e coligações políticos, que é de mil kwanzas por voto. Nesse ano eleitoral, a Unita obteve 1.074.565 votos a nível nacional.
No entanto, nas Eleições Gerais de 2017, em que João Lourenço foi eleito Presidente da República, enquanto cabeça-de-lista do MPLA, a Unita obteve 1.800.860 votos, o que de acordo com a legislação em vigor, lhe permite receber 1,8 mil milhões de kwanzas por ano. Ou seja, o partido teve um aumento financeiro de 67%. Na perspectiva de alguns responsáveis da organização, os “superiores gastos” realizados no presente congresso em relação ao passado justificam-se face às diferentes dotações orçamentais.
‘Desconvergência’ discursiva entre o novo e o antigo líder
Eleito presidente, na noite do dia 15, com 594 votos, representando cerca de 53,4%, Adalberto Costa Júnior estreou-se com um discurso oposto ao proferido pelo seu antecessor Isaías Samakuva que, durante a abertura do congresso, apelou à “mudança de alianças”, sem explicar ao pormenor o que isso significa, além de fazer vários ‘ataques’ ao anterior Governo liderado por José Eduardo dos Santos, e elogiando João Lourenço, face ao alegado combate à corrupção que tem empreendido.
Isaías Samakuva considerou que a “pátria está sob ataque de forças oligárquicas” que, na sua perspectiva, “capturaram o Estado e apoderaram-se da economia”, visando subjugar o povo. Referindo que “essas forças” estão agora em conflito entre si, porque “alguém ousou romper o elo tríplice” que as mantinha unidas. “Este facto político altera a correlação de forças e obriga os políticos a reconfigurarem o discurso e as alianças”, sublinhou Isaías Samakuva.
Entre outras, o presidente da Unita dos últimos 16 anos tomou por “corajosa” a posição de João Lourenço e apelou-o a continuar o “trabalho” que tem realizado “com determinação”. Isaías Samakuva, que, ao longo de seu mandato, foi tido por muitos como exageradamente pacifista, referiu que a sua política de “engolir sapos” surtiu efeitos, dado que hoje “o povo perdeu o medo” e as “verdades vieram a lume”.
Fruto dessa política, assegura Isaías Samakuva, “o arquitecto da corrupção foi forçado a deixar o poder”. “Desde 2014 que vimos reclamando que nos explicassem o paradeiro dos mais de 130 milhões de dólares que, segundo os nossos cálculos, representam o valor do diferencial positivo do preço do petróleo que havia ficado por lei sob sua guarda. Até hoje, Angola não recebeu nenhuma explicação. E tudo indica que mesmo o novo titular do Poder Executivo também não terá recebido explicações detalhadas sobre a situação financeira real do país”, destaca Isaías Samakuva. Franco Marcolino Nhany, o último secretário-geral da Unita, da era Isaías Samakuva, também optou por proferir uma mensagem virada à governação passada.
No seu primeiro discurso, Adalberto Costa Júnior optou, no entanto, por se distanciar da leitura de Samakuva, virando o discurso para frente. O novo presidente da Unita apontou a luta pela revisão da Constituição como uma das divisas do seu mandato e propôs-se trabalhar pela despartidarização do Estado, além de visar uma comissão eleitoral independente.
Além da vontade de ver devolvidos os patrimónios do partido, o ex-presidente do grupo parlamentar do ‘Galo Negro’ defendeu a criação de um regulador do sistema financeiro independente do Executivo, bem como a melhoria das condições dos ex-militares e das viúvas de guerra.
Mudanças internas
Além de eleger uma nova direcção, o congresso da Unita também alterou o ciclo de realização dos próximos conclaves. Ao contrário da actual rotina de quatro em quatro anos, os futuros congressos passam a realizar-se de cinco em cinco anos, estendendo assim o mandato do presidente para mais um ano. Diferente do passado, o partido passa a ter dois vice-presidentes.
O novo líder, que entrou em funções no dia da sua eleição, já nomeou os membros de direcção. Arleth Chimbinda é a primeira vice-presidente e será coadjuvada por Simão Albino Dembo, sendo Álvaro Daniel o secretário-geral. Mwata Virgílio Samussongo é o primeiro secretário-geral adjunto e Lázaro Kakunha é o secretário-geral adjunto paras as autarquias. O até então secretário provincial do Huambo, Liberty Chiyaka, é o novo presidente do grupo parlamentar.
JLo do lado errado da história