Especialistas insistem na independência ?ou privatização do BPC
Inquérito bancário. Entidade financeira do Estado é o pior agente bancário ?do país, segundo um estudo da internacional Assertys. Regulador do sector sublinha que ?o inquérito poderá facilitar a actuação do órgão.
Analistas do sector bancário sugerem “maior autonomia” para o BPC ou a sua privatização “urgente”, no sentido de tornar a instituição financeira “mais competente”.
As propostas surgem em resultado do último inquérito sobre a prestação dos serviços bancários, apresentado há quase três semanas pela Assertys, que indica o BPC como o pior do país.
O reitor da Universidade Lueji A’Nkonde sugere mesmo “maior autonomia” do BPC em relação ao Governo e sublinha que o “grande mal” do banco são as “ingerências governamentais e partidárias”. Carlos Yoba desencoraja por isso a nomeação de um novo conselho de administração, defendendo que a solução do banco passa pela “definição clara” da sua função. “A definição a que me refiro não pode ser somente essa tipificada no papel, mas deve ser prática. O Governo deve permitir ao banco ir atrás dos devedores, não se importando com quem quer que seja”, observa o académico, para quem os responsáveis do malparado do BPC “são conhecidos”.
Na perspectiva do docente, a posição da marca BPC não será “melhorada” enquanto continuar o “círculo vicioso de nomeação” de pessoal da “mesma linhagem”, ou a existência de pessoas que beneficiam de crédito sem responsabilização, em caso de não devolução.
No mesmo sentido, o contabilista Michel Pedro defende uma “clara definição” da função do BPC e desvaloriza a argumentação segundo a qual o banco regista maior número de reclamações por excesso de clientes. Para o contabilista, qualquer empresa visa a expansão dos seus serviços e o alcance de maior número de clientes, cabendo, entretanto, à instituição “criar mecanismos que permitam a gerência adequada da carteira de clientes de modo a evitar dispersão e descontrolo de informação”.
Peremptório, Michel Pedro defende a “mudança de patrão” do BPC, sublinhando que o problema do banco “não se esgota no facto de a gestão ser boa ou má”, dado que “passaram bons gestores” à frente do banco. “Na base da má reputação do banco”, observa, “está, entre outras, a ausência de disciplina bancária por parte de alguns funcionários da instituição, que não percebem que manuseiam dinheiro alheio, bem como questões políticas, realcionadas com instruções governamentais ou partidárias” que se “realizam sem garantias claras de restituição”.
À semelhança de Michel Pedro, Joel Caetano, também contabilista, ligado ao sector petrolífero, não tem dúvidas de que a solução do BPC passa pela sua “privatização total urgente”. O contabilista defende que o BPC sofre do mesmo problema que boa parte das empresas públicas sofre, em que os funcionários têm o “vício de deixa andar”, porque, no final do mês, “têm os salários completos”.
O especialista reconhece o mal que as interferências políticas provocam ao banco, mas insiste que os trabalhadores devem “evoluir no comprometimento” com o público e para com o Estado.
O inquérito
Realizado entre os dias 9 e 21 de Janeiro, o estudo apresentado pela Assertys foi encomendado pelo Banco Nacional de Angola e aponta o BPC como o pior banco do país, por registar o maior número de reclamações.
Não é a primeira vez que o BPC tem a marca associada a situações que o descredibilizam. Por exemplo, os últimos dados sobre o crédito no sistema indicam que o banco é responsável por 84% do malparado do sector. Num passado recente, o banco foi tido como a entidade que mais subtrai nas contas dos clientes, entre outras deficiências.
O inquérito, que expõe parte das debilidades do sistema bancário nacional, incidiu sobre a qualidade dos serviços bancários na óptica do consumidor e abrangeu também os segmentos de particulares e empresas, clientes do sector.
No segmento de particulares, o estudo concluiu que 26,6% não possuem gestores de conta, enquanto a nível do sector de empresas 72,9% possuem gestores. No geral, apesar das reclamações e da situação do BPC, Ruth Saraiva, responsável da Assertys, considera “positiva” a qualidade dos serviços prestados, recomendando aos bancos a realização de um “trabalho profundo” para elevarem o nível de “excelência” na prestação dos serviços.
Osvaldo dos Santos, director do departamento de conduta financeira do BNA, considera o número de reclamações “pouco representativo”, face às queixas que se ouvem, mas enfatiza que o inquérito poderá facilitar a actuação do regulador.
Entre as reclamações mais frequentes no inquérito destacam-se as dificuldades que os bancos impõem sobre as transferências para o estrangeiro, reclamações em torno das operações de reconversão para a moeda estrangeira, falhas no sistema, bem como atrasos no atendimento e outros.
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