Empresários sem receitas para pagar salários
CRISE. Gestores e patrões queixam-se de problemas que se arrastam desde o início da crise em 2014. Há quem estime apenas 30 dias para as empresas “aguentarem” sem actividade.
Gestores, líderes de associações empresariais e proprietários de várias empresas receiam dos efeitos de um eventual alargamento do Estado de Emergência, admitindo dificuldades no pagamento de salários, por falta de receitas.
Jorge Baptista, presidente da Associação dos Empreendedores de Angola (AEA), detalha que manter salários sem receitas “é impensável”, visto que as empresas trabalham com “margens apertadas”. E acrescenta: “a rentabilidade hoje, face à anterior crise, não permite sequer pensar nisso”.
O empresário, que acredita que se vai alargar o Estado de Emergência, defende que se pense agora na pandemia. “Se estamos limitados aos direitos fundamentais, obviamente que preferimos dizer que morremos como empresa amanhã, mas, desde já, pensar no futuro incerto não faz qualquer sentido”, lamenta o representante de uma associação com cerca de 70 empresas e 800 trabalhadores.
Na mesma ‘onda’, o empresário brasileiro e vice-presidente da Associação dos Profissionais Imobiliários de Angola, Cleber Correia, acredita que, se for feita uma pesquisa, as empresas não têm receitas para mais do que um mês. “Se elas ficarem 30 dias sem facturação, ainda podem pagar um salário. Mas depois não pagam mais. Essas empresas vão fechar”, estima.
Proprietário da imobiliária Proimoveis, com oito funcionários, o empresário brasileiro acredita que, em economias informais como a angolana, as pessoas não têm dinheiro para mais de dois ou três dias.“Na minha obra (um projecto habitacional em Viana), há um rapaz que trabalha como ‘kupapata’ e recebe por semana. Ele mantém a casa dele.
Em frente ao restaurante Chitaka, há um rapaz de 12 anos que leva para casa todos os dias 2.500 kwanzas e sustenta a família. Era importante não parar e sim diminuir o volume de trabalho”, exemplifica.
Cleber Correia teme ainda que Angola, por causa da situação económica, não respeite, durante a vigência o Estado de Emergência, a propriedade privada, que “começa pela comida, mas depois vão a outros serviços, principalmente nas periferias”. “E começa por um sofrimento por causa da fome”, ressalta.
Por sua vez, a empresária Elizabeth Dias dos Santos garante que gostaria de continuar a pagar os salários aos funcionários, mas avisa que, se não vender não há ‘cashflow’ para salários, matéria-prima, amortizações e financiamentos. “Grandes economias estão a ser dizimadas pela Covid-19. Devemos apelar à contenção, à união e ao espírito de missão. Mas, em primeiro lugar, está a prevenção e a vida humana.”
A empresária lembra que um projecto avícola tem de ser monitorizado 24 horas por veterinários, electricistas, técnicos de maneio, de informática e de alimentação animal, entre outros. “Parar um projecto com esta dimensão implicará, para a sua recuperação, um prazo mínimo de dois anos e meio ou até mais”, calcula. Elizabeth Dias dos Santos prefere “nem colocar este cenário” sobre a mesa. Por enquanto, tem adoptado as medidas impostas pelo Estado de Emergência.
O grupo Organizações Chana fez o pagamento antecipado do salário de Março. O director-geral, Paulo Vaal Neto, afirma, no entanto, que, se continuar o Estado de Emergência, a empresa “não tem condições para se manter sem actividade em função dos compromissos existentes”.
Medidas adoptadas pelas empresas contra a Covid-19
A empresa Proimoveis, de Cleber Correia, decidiu dispensar os funcionários a partir desta semana, depois de ter começado por colocá-los a trabalhar de forma alternada. As grávidas foram dispensadas.
Já o grupo Deside, da empresária Elizabeth Dias dos Santos, disponibilizou máscaras, luvas descartáveis e álcool em gel para uso “permanente dos funcionários”, entre outras medidas. O grupo fez ainda restrição do número de clientes. Foram dispensados funcionários com mais de 60 anos, grávidas e mães com filhos menores de 12 anos.
A direcção das Organizações Chana, por seu lado, decidiu manter apenas em funcionamento serviços de assistência técnica e reparação de automóveis, das 8 às 13 horas. A empresa dispensou as mães com filhos menores de 12 anos, implementou a medição da temperatura dos trabalhadores e a desinfecção obrigatória.
BCI fica com edifício do Big One por ordem do Tribunal de...