A REINVENÇÃO DA RODA
“Exemplos como o antecipado encerramento das lojas do Candando reafirmam outras causas de destruição do emprego com fundamentos mais absurdos. Explicam a cegueira e a arrogância dos que teimam em não perceber que o alegado combate à corrupção não pode fazer dos mais vulneráveis, mais uma vez, a principal vítima.” Estas duas frases encerraram o editorial da edição passada, o VALOR número 212. E, na altura em que foram escritas, o jornal não fazia ideia do que seria a reacção das autoridades às declarações de Isabel dos Santos sobre o encerramento de lojas e o consequente despedimento de metade dos funcionários da sua rede de supermercados.
Mas, como veio a provar-se nas horas imediatas à divulgação da notícia, as afirmações do jornal não poderiam ser mais bem confirmadas. Primeiro, pelo posicionamento do Ministério da Indústria e Comércio. Como quem dissocia miraculosamente a causa do efeito e vice-versa, o Ministério afirmou que os problemas financeiros da empresa não lhe diziam respeito. E que acompanharia apenas o processo comercial, exigindo a manutenção dos empregos. Nada mais inacreditável! Como qualquer empresa, uma rede de supermercados em plena fase de desenvolvimento e com forte dependência dos accionistas não pode manter dois mil empregos se não houver uma intervenção normalizada dos seus accionistas. Isso no que respeita aos investimentos. Por todo o poder de que o Ministério se revista, não bastará ordenar que as portas se mantenham abertas e que os empregos sejam preservados. É excessivamente primário. Por isso, a exigência à ‘queima roupa’ de se preservarem os empregos, sem se resolver a origem do problema, é desprovida de qualquer sentido. É o que ficou explícito no comunicado da empresa que controla a rede de supermercados. Comunicado, aliás, que não ratificou à letra as garantias que o Ministério vendeu à opinião pública sobre o futuro imediato do Candando.
O Ministério da Indústria e Comércio não esteve, entretanto, sozinho a ‘reinventar a roda’. Como qualquer coisa coincidente, a Procuradoria-Geral da República demarcou-se de quaisquer responsabilidades numa eventual falência das empresas arrestadas que dependem de Isabel dos Santos. E, entre várias justificações, afirma que a empresária pode financiar os seus investimentos, aumentando o capital das empresas. Das mesmas empresas que foram arrestadas e cuja titularidade definitiva será objecto de sentença judicial! Como diz a sabedoria popular: “há coisas que só vistas”…
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