Restaurantes com movimentos “razoáveis”, hotéis “ainda vazios”
TURISMO. Restaurantes com menos de 50% e alguns hotéis proaticamente sem clientes. Hoteleiros não acreditam na mudança de cenário mesmo com autorização das viagens do e para o estrangeiro, a partir do próximo mês.
Mais de duas semanas desde a entrada em vigor do estado de calamidade pública, os restaurantes registam uma procura entre os 30 e os 45%, fluxo considerado “razoável” pela Ahoresia, enquanto os hotéis “contam, pelos dedos, o número de reservas”.
Notando que, no caso dos restaurantes, “a dinâmica não é a mesma do período anterior à pandemia da covid-19”, o presidente da Associação dos Hotéis, Restaurantes e Similares de Angola, João Gonçalves, acredita que a normalidade vá “levar tempo” e que os clientes “já não têm tanta disponibilidade por causa dos condicionalismos”. “Melhorou um pouco. Agora já podemos abrir até às 22 horas, sendo que antes era só até às 15 horas. E essa hora é normalmente a altura em que as pessoas que frequentam hotéis e restaurantes estão a sair”, observa.
O líder associativo acredita que a reposição da normalidade e a taxa de ocupação também vão “depender do poder socioeconómico dos clientes”. E garante que muitos dos associados estão a criar condições para receber os clientes com segurança. “Temos um normativo que foi enviado pelo Ministério [da Cultura, Turismo e Ambiente] que já começámos a divulgar. Os restaurantes terão de cumprir para proteger a vida de quem vai frequentar esses locais. Não é só abrir por abrir. Têm de ter as condições de segurança sanitária”, acautela.
Hotéis continuam vazios
Muitos dos hotéis e resorts continuam vazios por causa da pandemia. Segundo o secretário-geral da Associação de Hotéis e Resorts de Angola (AHRA), há hotéis em algumas províncias que não têm nenhum cliente, enquanto alguns conseguem ter um ou dois. “São poucos” desde que começou o estado de calamidade, como lamenta Ramiro Barreto.
O associativista justifica a fraca procura com o facto de Luanda estar sob cerca sanitária, sendo a província que emite mais turistas para as outras províncias e onde se encontram as grandes empresas. Por isso, as reservas não podiam ser diferentes em relação ao período de estado de emergência.
“2020 é um ano para esquecer. Não se sabe como vai ser amanhã. Mas é para esquecer”, sentencia Ramiro Barreto, que espera por medidas adicionais depois de 30 Junho, data prevista para a autorização das viagens internacionais para e a partir de Luanda. Barreto lembra que há “muitos países a permitirem viagens para outros destinos, mas com outras medidas, como o certificado com exames a provar que não se tem covid-19. Nós ainda não temos isso. Esperamos ter.”
Para os associados da AHRA, a permissão para se começar a frequentar as praias apenas a partir de 15 de Agosto é uma “aberração” e vai “ter impacto muito grande para o turismo”. Ramiro Barreto discorda que se possa considerar que Angola tenha época balnear como acontece em alguns países europeus. “Todos os dias são dias de praia em Angola”, reforça o empresário.
Apoios financeiros só a fundo perdido
O Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente submeteu um inquérito aos operadores do turismo para perceber o estado do sector e o impacto da pandemia. Ramiro Barreira explica que os hoteleiros, por exemplo, já responderam às questões e que só aguardam pelos resultados do inquérito. Mas vai adiantando que um possível apoio financeiro só funcionaria se fosse a fundo perdido. “Podem dar apoios financeiros aos hotéis. Mas se os hotéis não tiverem clientes, como é que pagam? O Estado diz que tem dinheiro para vocês. Mas tem de ter um programa para sustentar isso. Tem de ter medidas adicionais. Tudo bem, vou receber o dinheiro. Mas, para pagar, vai ser complicado. É sempre boa alguma coisa. Mas não resolve o problema. Não é aí onde está o problema do sector hoteleiro.”
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