Há mais café quente nas ruas de Luanda
COMÉRCIO. Pequenos comerciantes dizem que a pandemia fez recuar a facturação, mas o negócio continua a ser uma alternativa ao desemprego. Há muitos a iniciarem-se na venda de café.
No período da manhã, sobretudo no intervalo das 5 às 12 horas, é comum verem-se, nas paragens de táxis, nas zonas comerciais ou em outros pontos de concentração de pessoas, em Luanda, jovens a comercializar café instantâneo.
O ofício ganha espaço há mais de seis anos, mas é particularmente nos últimos seis meses, com o aumento do desemprego, que o número de jovens a vender café disparou nas ruas da capital.
Joana Domingos, de 18 anos, e Sebastiana Miguel, de 22, operadoras na zona do São Paulo, viram-se obrigadas a abraçar a actividade, depois de despedidas nas empresas em que trabalhavam. Com o valor da indemnização, decidiram aplicar 10 mil kwanzas para começar o negócio, mas o início não está “fácil”. Em dois meses, a facturação diária não vai além dos mil kwanzas, face à “elevada concorrência” e à reduzida procura.
Imaculada Pedro, 20 anos, também se queixa da sorte. A jovem estudante conta que os dias têm sido “amargos” e que as vendas diárias se ficam por entre 400 e 600 kwanzas, insuficientes para manter o negócio em que aplicou 7 mil kwanzas. “Tem sido bastante difícil, não há clientes e o pouco que faço tenho de mexer para o táxi. Fica ainda mais difícil”, conta a jovem, que viu adiar o sonho de cursar jornalismo por falta de bilhete de identidade.
Outro exemplo é de Fernando Fernando, que está há apenas duas semanas na actividade, em Viana. Pedreiro de profissão, o jovem entrou no negócio em consequência da paralisação das obras, aplicando 8.900 kwanzas. E, ao contrário de Joana, Sebastiana e Imaculada, diz que os resultados “são um pouco animadores”, já que, em 14 dias, juntou 9 mil kwanzas, ao vender o copo de café a 150 kwanzas e a 200 kwanzas o de galão.
Experientes mantêm-se “firmes”
Se é verdade que os novos pequenos comerciantes se queixam da baixa clientela, o mesmo não se diz em relação a quem está há mais tempo. Anália Marta, 18 anos, a vender café há dois anos por conta próprio, explica que a facturação quedou, mas manteve-se em níveis “bons” para continuar com o negócio, graças aos habituais clientes. Ao contrário dos anteriores 9 mil kwanzas de receitas diárias, com a pandemia, os números ficam-se pelos 6 mil kwanzas. Valores de que ficam perto das vendas diárias de outro vendedor, Francisco Salvador. Segundo este jovem que já conta oito meses na actividade, para já, está a facturar entre 3 mil e 5 mil kwanzas, face aos anteriores 7 mil. “A redução deve-se ao receio dos clientes de apanharem covid”, explica.
Um dado curioso é o facto de a maior parte dos comerciantes estar a operar autonomamente, diferente de há algum tempo em que a maioria prestava contas a um patrão. Mas, segundo vários comerciantes, quem ainda tem um patrão trabalha, em média, dois meses para ficar independente. É o caso de Gilberto Membo, de 18 anos. Há apenas três semanas que vende café para uma senhora que lhe paga até 5 mil kwanzas por semana, já pensa, dentro de pouco tempo, ser patrão de si próprio. Assim como Ana Manuel, de 20 anos, a quem a patroa paga 10 mil kwanzas por duas semanas. A meta é “poupar para também investir no meu negócio”.
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