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Investigação marinha paralisada

Dados das Pescas continuam sem a “precisão científica desejada”

10 Mar. 2021 Economia / Política

SECTOR PESQUEIRO. Das poucas vezes que se fez ao mar, o navio de investigação de 80 milhões de dólares que devia determinar a quantidade de pescado voltou avariado. Instituto de investigação admite recurso a “outros métodos, para determinar a biomassa”, mas não os precisou.

 

 

Dados das Pescas continuam sem a “precisão científica desejada”
SAMUE SSECA

O Ministério da Agricultura e Pescas, através do Instituto de Investigação Pesqueira (IIP), prepara-se para dar os detalhes sobre a paralisação do navio ‘Baia Farta’, adquirido para os cruzeiros científicos que servem para se determinar o potencial dos recursos marinhos e as quantidades das capturas.

No país, há cerca de dois anos, o navio chegou, entretanto, “com muitas inconformidades”, que o levam invariavelmente a ficar atracado na baía de Luanda, como confirma fonte do Ministério. “Por causa das inconformidades, infelizmente o ‘Baía Farta’ não pode ser útil aos cruzeiros de investigação que deviam ser regularmente apresentados ao Governo”, precisa a fonte, garantindo estar a trabalhar-se num documento que “brevemente será apresentado com todos os detalhes”.

 

DADOS RECENTES SÃO DE 2017

Com o navio paralisado e pouco se podendo fazer, diversos stakeholders colocam em causa a fiabilidade dos dados apresentados anualmente pelo Ministério, no âmbito do regulamento que determina os números das capturas anuais.

Os dados do regulamento para 2021, por exemplo, não são actuais, e estima-se que tenham sido calculados com base no último rastreio feito por um dos mais avançados navios de investigação norueguês ‘Dridtjof Nasen’, em 2017, ou seja, um ano antes da chegada ao país do ‘Baía Farta’.“O Dridtjof Nasen serviu para estudar, pela última vez, a dinâmica das espécies pelágicas (peixes de superfície, com destaque para o carapau) e os ecossistemas, do Gabão à África do Sul. Nesta altura, a costa angolana foi coberta desde a foz do rio Congo até à do Cunene, durante um mês”, explica a fonte, lembrando que os cruzeiros que incluíam também biólogos angolanos duraram pouco mais de três décadas. “Mas desde 2017 que não se faz um profundo trabalho de investigação”, insiste.

Outra fonte ligada ao Instituto de Investigação Pesqueira descarta, no entanto, que o mesmo esteja à deriva, já que “existem outros métodos que podem ser usados para determinar a biomassa”. Métodos que, entretanto, não especificou. 

O período de apresentação do regulamento sobre a quantidade de capturas, que deve acontecer todos os anos a 15 de Dezembro (depois dos cruzeiros), para entrar em vigor em Janeiro, desta vez, foi anunciado apenas no primeiro trimestre, um atraso que também deve ser abordado no aguardado documento. O regulamento determina a pesca anual de 4.590 toneladas de camarão, lagosta, caranguejos e chocos.

Para os peixes (cachucho, corvina, garoupa, pescada, roncador e similares) o regulamento determina a captura anual de 77.088 toneladas, ao passo que para o carapau e a sardinha estão fixadas em 290.370 toneladas anuais.  

Informações sobre o percurso do navio dão conta que, das poucas vezes que se fez ao mar, “ia às Palmeirinhas e voltava avariado, quando deve operar durante meses”, colocando-se m causa os dados do Ministério.

 

DINHEIRO BEM EMPREGUE, MAS...

Outro facto questionado por técnicos do Ministério é a redução do potencial do navio de investigação aos mares angolanos, considerando a dimensão e os 80 milhões de dólares do sue custo. “Como é grande, porque nós os angolanos temos a mania da megalomania, devia ser operado por Angola, Namíbia e África do Sul, resultando daí ganhos financeiros para o nosso país”, avalia um técnico que menciona elogios ao antigo ministro das Pescas, Salomão Xirimbimbi, de quem partiu a proposta para a aquisição do navio. “No entanto, não foi Xirimbimbi que escolheu o modelo do navio porque depois foi exonerado”, refere a fonte que considera também “bem empregues” os 300 milhões de dólares investidos na compra de barcos para a pesca artesanal.“O que se passou é que as embarcações vieram para além de GPS com sistemas avançados de sonar. Portanto, eram superiores à qualidade dos nossos pescadores”, sendo por isso que “o antigo governante pensava também na criação de instituições de ensino para capacitar os nossos homens do mar”, sendo um dos exemplos a Academia de Pescas do Namibe já em funcionamento.