Panificadoras contrariam moageiras
INDúSTRIA. Depois de, na semana passada, as moageiras apresentarem um cenário optimista em relação à disponibilidade de farinha de trigo, representantes da indústria apresentam um quadro completamente diferente.
A Associação das Indústrias de Panificação e Pastelaria de Angola (Aippa) garante que não sente os benefícios da capacidade de produção das moageiras nacionais que, na semana passada, garantiram estarem em condições de assegurar as necessidades totais do país, estimadas em 600 mil toneladas/ano.
“Há uma divergência muito grande. Por um lado, as moageiras dizem que têm uma capacidade de 60 mil toneladas de farinha disponível por mês, por outro, no terreno, a situação é totalmente diferente”, observa o presidente da Aippa, Gilberto Lucala.
Um comunicado conjunto da Grandes Moagens de Angola, Kikolo Moagens e Carrinho Indústrias dava conta, na última semana, que o stock de 115 mil toneladas de trigo em grão, matéria-prima para a produção da farinha de trigo, das três moageiras nacionais assegura as necessidades de consumo do país, pelo menos, nos próximos dois a três meses, “pelo que não há motivo para recear a escassez do produto nem o aumento repentino dos preços”, citando César Rasgado, administrador da Grandes Moagens de Angola e porta-voz das três moageiras nacionais.
A Aippa vê, entretanto, uma disparidade entre os números apresentados pelas moageiras e a escassez de farinha no mercado testemunhada pelas panificadoras, pelo que solicitou uma audiência ao ministro da Indústria e Comércio “para esclarecer está situação”, segundo Gilberto Lucala. “Os armazéns que vendem farinha de trigo não têm, mas as moageiras garantem 60 mil toneladas de farinha de trigo por mês, onde é que vai? Alguém nos deve dizer”, insiste o representante dos panificadores, confirmando a resposta positiva de Victor Fernandes para a reunião de concertação que deve ocorrer já na próxima semana. “Pedimos a presença das moageiras, precisamos de uma reunião do Governo, as moageiras e os representantes dos consumidores que somos nós da associação”, explicou, admitindo o encerramento de mais padarias, face às dificuldades que, segundo conta, são maiores fora de Luanda. “No Kwanza-Norte, o saco de farinha está a 30 mil kwanzas, no Cunene, 28 mil kwanzas e, no Huambo, 25 mil kwanzas. Em 2019, a farinha estava a 12 mil kwanza e, em 2020, a 14 mil kwanzas. Portanto, teve uma subida de mais de 70%, em face disso, não se sabe se as padarias poderão vir a fechar, se não houver uma tomada de medida, não sabemos como vamos ficar”, alerta.
Ao VALOR muitos panificadores revelaram também existir uma “máfia” no negócio da farinha de trigo, dominado por grupos estrangeiros. E denunciam alegadas práticas de discriminação no atendimento aos angolanos. “O gerente do Angoalissar diz que não tem farinha para nós, mas os estrangeiros são atendidos com carrinhas carregadas de sacos de 50 quilos. Isso deixa-nos insatisfeitos, é uma situação que já se arrasta há alguns meses”, conta um gerente de uma das padarias. O responsável da empresa acusada garante, entretanto, ao VALOR tratar-se de uma “informação falsa”.
Sobre esta denúncia, o líder da associação diz desconhecer a situação, mas considera “grave” a ser verdade. “Deve ser denunciado publicamente os armazéns que fazem essa separação, vendendo um saco de farinha de trigo para os compradores angolanos mesmo com o alvará e em quantidades para os compradores estrangeiros, temos de combater essa comparação, tem que haver igualdade para todos”.
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