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Campanha agrícola à espreita e importação encalhada

Adubos subvencionados ainda sem ‘luz verde’ do Governo

11 Aug. 2021 Economia / Política

Agricultura. Operadores avisam que atraso na importação dos fertilizantes suportados pelo Governo vai afectar a produção deste ano. FertiAngola, maior importador, afirma que os termos ainda estão “confusos”.

Adubos subvencionados ainda sem ‘luz verde’ do Governo

O presidente da Associação dos Empresários do Kwanza-Norte (AEPKN) alerta que a campanha agrícola 2021/2022 poderá estar comprometida ao registar "os mesmos constrangimentos, ou ainda piores, por causa do atraso na implementação do plano do Governo de importação e comercialização de fertilizantes subvencionados".

Gilberto Simão mostra-se preocupado com o facto de a concertação do Governo com os operadores "ir muito devagar, quando os adubos já deviam ter chegado para distribuição antes de Setembro", alertando  que isso "vai dificultar o arranque do ano agrícola".

"Tudo indica que há atrasos na importação de fertilizantes para serem comercializados a preços acessíveis. Os que já estão no país continuam a ser ‘despachados’ a preços que rondam os 24 mil kwanzas, quando há anos já compramos a 3 mil kwanzas o saco de 50 quilos do adubo 12-24-12”, observa o líder associativo, antevendo “sérios problemas”.

Gilberto Simão elogia, por outro lado, a intenção do Governo “em ajudar as pequenas e médias empresas, sobretudo nesta fase de pandemia”, mas, ainda assim, entende que “o melhor seria atrair investidores para o fabrico local de fertilizantes”.

Uma ideia também partilhada pelo agricultor Monteiro Queiroz, para quem a contínua importação de 'inputs'  eleva os custos de produção e, consequentemente, o produto final. “Assim a nossa produção não pode ser competitiva a nível interno e no mercado regional”, estima o agricultor, para quem, "se o Governo quiser mesmo impulsionar a actividade dos agricultores nesta fase complicada de pandemia, os adubos já tinham de ter sido importados e comercializados”.

NADA DEFINIDO

Os importadores queixam-se do atraso e consideram que “ainda nada está definido, nem mesmo os termos desta isenção anunciada pelo Governo”. Um responsável da FertiAngola, sediada em Benguela, manifestou-se céptico quanto à concretização do plano uma vez que “não se sabe ainda a forma como o dinheiro será disponibilizado”. “Está tudo confuso, quando já estamos na véspera de Setembro para o arranque da campanha agrícola”, afirma.

A empresa tem, no entanto, em armazém, 60 mil sacos dos fertilizantes 12-24-12, que estão a ser vendidos a 22.600 kwanzas, em Benguela. O preço aumenta à medida que se distancia do litoral, havendo províncias onde o saco de 50 quilos custa 24 mil kwanzas.

A FeriAngola, com escritórios em Luanda e no Huambo, é o maior importador de fertilizantes do país, entre mais de uma dezena de empresas, que movimenta anualmente perto de 75 milhões dólares, para a importação de 40 mil toneladas do ‘famoso’ adubo 12-24-12, muito utilizado pelos camponeses.

CAMINHOS DA SUBVENÇÃO 

O Governo anunciou, em Junho, a subvenção em 35% do preço real dos fertilizantes NPK-12-24-12, sulfato de amorim e ureia "para tornar mais fácil a vida dos produtores agrícolas, sobretudo daqueles que se dedicam à agricultura familiar".

Na altura, o ministro da Agricultura e Pescas, Francisco de Assis, esclareceu que a intenção era "permitir que os fertilizantes cheguem aos produtores a um preço mais acessível, que possam pagar".

Para operacionalizar o plano, o Governo escolheu o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário (Fada) que devia receber, numa primeira fase, cerca de 17 mil milhões de kwanzas.

 O Fada pagaria aos empresários o valor de mercado que fosse acordado em leilão. A instituição teria também a missão de trabalhar com os importadores ou empresários com fertilizantes à venda no país, estabelecendo com elas contratos. As empresas seriam ainda seleccionadas mediante um processo de leilão para, depois, estabelecerem com o Fada contratos de fornecimento dos fertilizantes para as cooperativas, escolas de campo e produtores organizados.