“Redução dos preços dos alimentos passa pelo combate aos cartéis”
Entrevista. Líder associativo encontra solução para a redução dos preços dos produtos essenciais no combate aos monopólios “que não agregam nenhum valor”, em prejuízo da utilização das divisas na dinamização da produção interna.
Intenção manifestada pelo Governo de reduzir o preço da cesta básica é exequível?
É possível, desde que o Governo emita leis que combatam as causas, porque as importações de alimentos, como têm sido feitas, não agregam nenhum valor à economia.
Onde estão essas causas?
A especulação é comandada por um punhado de ‘chicos espertos’ que têm o monopólio da importação, distribuição e comercialização dos produtos. Portanto, a nossa economia está entregue a esse cartel que dita as leis do mercado.
E qual é a sua sugestão para a inversão desse quadro?
O problema está na fiscalização débil e no fraco apoio que o Governo presta às associações e cooperativas de produtores. Para a operacionalização das medidas que, por vezes, são bem tomadas, não somos chamados. Portanto, não somos tidos pelo Governo. Hoje, por exemplo, é triste constatar que os produtos da cesta básica estejam a ser comercializados por estrangeiros. Os angolanos não são chamados até mesmo para vender óleo de palma que eles próprios produzem.
Então o apoio ao produtor nacional reduziria os preços, é isso?
Se o Governo pretende baixar os preços, aqueles que produzem têm de ser apoiados. Se eu tiver 500 hectares de milho, é preciso que o Governo venha ao meu encontro. Não há nenhum apoio ao produtor. Nenhum apoio!
Que apoio sugere?
Se precisarmos, por exemplo, de 500 toneladas de milho, e temos apenas 300 disponíveis, o remanescente devia ser encontrado no mercado nacional, saber onde está o produtor para a aquisição da sua colheita e, por esta via, incentivá-lo a produzir mais e melhor. Isso não acontece, porque as importações acabam por ser mais fáceis e mais rentáveis para o cartel que domina o mercado.
É um círculo vicioso instalado?
Hoje qualquer empresário quer importar. Todos querem ir para o caminho mais barato das importações. Tivemos, em tempos, uma boa safra de trigo, mas ninguém foi lá ter connosco para absorver essa colheita para incorporar no fabrico do pão farinha de trigo de produção nacional.
Manifestaram-se nesse sentido?
Os importadores devem ter uma quota de produção nacional.
Como?
Os grandes importadores, antes de pensar na aquisição de produtos, devem pesquisar o mercado interno. Saber o que existe ou se pode produzir localmente. Depois, é preciso evitar a saída de produtos da cesta básica das nossas fronteiras, sob pretexto de que trazem divisas para o país. Esse dinheiro usado para importar, ou ainda, para exportar os mesmos produtos para outros países vizinhos, faz falta para alavancar a produção interna.
Portanto, não vê no horizonte a hipótese que leve a tornar os preços dos alimentos essenciais mais baratos?
Reitero que é preciso disciplinar a especulação dos preços que tomou conta do mercado. O pouco bem gerido pode transformar-se em muito.
Por causa da covid-19, há importadores que estão tendo problemas na aquisição de produtos lá fora. Os produtos encareceram. Assim, o preço de um contentor que custava, por exemplo, 8 mil dólares subiu para 10 mil dólares. Este é o momento de aproveitarmos para alavancar a nossa produção interna a todos os níveis, usando os poucos recursos disponíveis, ao invés de esbanjar divisas com as importações. Obviamente, podemos sofrer um ano para acertar o passo, mas temos de começar por aí.
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