ANGOLA GROWING
Eugénio Clemente, empresário e ex-director do Infotur

"Se me tivessem deixado trabalhar, o país teria visto nascer uma 'sonangol' do turismo"

29 Sep. 2021 Grande Entrevista

 Ainda inconformado com a exoneração da direcção do Instituto de Fomento Turístico de Angola (Infotur), Eugénio Clemente lança críticas a quem gere o turismo, lamentando que haja quem esteja a influenciar o Presidente para ficar "dona da situação" e "beneficiar de interesses". E ainda confia que o tempo "vai responsabilizar" quem prejudica o sector. Está convencido de que deixou obra no instituto e sente-se de consciência tranquila, não temendo processos na PGR, acreditando, aliás, que, se o deixassem trabalhar, já tinha criado uma 'sonangol'

"Se me tivessem deixado trabalhar, o país teria visto nascer uma
D.R

Enquanto director do Infotur, defendeu sempre as estradas como alavanca para o desenvolvimento do turismo…

Recentemente, fiz uma viagem entre Luanda e Namibe. Em condições normais, poderia fazer 12 horas, mas encurtei o percurso por nove horas com a reabilitação que está a ser feita entre Dombe Grande e Lucira. Isso demonstra que, com estradas reabilitadas e seguras, deixaremos de ter o alto custo da passagem aérea e do transporte de ligação interprovincial e faremos com que o nosso povo se visite mais e esteja mais próximo. Não só entre famílias, mas também no plano empresarial.

E como vê hoje o turismo?

Enquanto responsável do Infotur, deixei uma carteira de investimentos que poderiam ditar uma estrutura de oferta do país avaliada em não menos de mil milhões de dólares.

Incluindo a construção de unidades hoteleiras depois transformadas em ‘elefantes brancos’?

Estruturámos o modelo de gestão para que esses hotéis, que hoje estão a ser levados à privatização de forma errada, não fossem considerados 'elefantes brancos'.

Como seria feita a gestão?

Trouxemos à mesa de negociações intenções de grandes marcas mundiais como o grupo Radisson, que apresentou um plano de desenvolvimento de cinco hotéis, entre 15 e 20 anos, com uma carteira de receitas na ordem de 320 milhões de dólares. Estruturámos um projecto que visava construir, via participação privada, centrais logísticas de apoio à hotelaria e ao turismo. Desenvolvemos projectos para a criação do primeiro terminal internacional de cruzeiros, fazendo do Namibe a primeira região de Angola vocacionada para o aproveitamento da corrente do Atlântico para a exploração de navios de cruzeiro.

Além disso…

Também projectámos a possibilidade de fazer de Malanje um interface de ligação entre a região de Victoria Falls e Livingstone. Conectando o Zimbábue e a Zâmbia, tendo em conta as quedas de Victoria Falls e as Quedas de Kalandula, levaria Malanje a ser um grande potencial turístico regional. Organizámos um plano de negócios para que parte de Kangandala se aproximasse da região da China, onde reside o panda, e que a palanca negra pudesse ser objecto de visita e de receitas. Portanto, fizemos um trabalho de verdadeiro impacto de turismo que visava trazer para Angola as grandes operadoras turísticas mundiais.

Mas nada foi concretizado?

Olhando hoje para o país, adiámos o turismo e não sabemos o seu valor.

Sente-se desmotivado?

Agora, sou um cidadão espectador, mas sempre disponível para dar a minha contribuição.   

O que pensa da fusão do Turismo com a Cultura e o Ambiente?

Se calhar, o Ministério tornou-se mais pujante por conta do peso administrativo, porque são muitos papéis independentemente de existirem secretários de Estado. É  necessário transformar o turismo, a cultura e o ambiente, não apenas como entes administrativos, mas como sectores que podem impactar o surgimento de grandes negócios e de grandes empresas.

De que forma?

Enquanto não virmos o turismo como um sector capaz de criar uma empresa do tipo Sonangol, não só para fazer pesquisa, mas também produção e comercialização, não vejo o turismo como uma verdadeira fonte de receitas. O grande erro que existe na nossa sociedade é que se reduz o turismo a um mero exercício de dormir num hotel e comer num restaurante, quando a sua amplitude é maior do que isso.

O Plano Director do Turismo é para esquecer?

O tempo vai responsabilizar todas as pessoas que fizeram com que todos os projectos dimensionados para o turismo entrassem no esquecimento. Se deixássemos as pessoas trabalhar, evitar confusão e exonerar, porque as pessoas não estão alinhadas com o nosso querer, de grupos ou de famílias, se calhar o turismo teria dado passos. Não sou herói, mas fiz parte de uma geração que incutiu a responsabilidade de que o turismo era um sector verdadeiro para o país.

E quanto ao projecto Okavango/Zambeze?

Se tiver de acontecer, vai levar mais de 20 anos, porque perdemos muito tempo a pensar. Com o petróleo e outras coisas que pretendem explorar na bacia do Okavango, não iremos longe. É só uma questão de olhar para Kalandula.

O que lhe parece?

Até hoje, só apareceu um empresário para reabilitar a pousada. O resto é capim. A nossa maka é o excesso de burocracia, em que ‘se o projecto não for meu não avança’.

Sente que a sua exoneração foi uma injustiça?

Não só uma injustiça para mim, mas também para o país. Falo de mim e do então secretário de Estado, Varo Caputo, que também foi afastado sem contemplação.

Mas há quem diga que o seu afastamento decorre de uma suposta má gestão e, por isso, até terá um processo na PGR...

É um esforço vago.

Não o preocupa um alegado processo na PGR?

Quando me fizeram chegar essa informação tive o cuidado de me dirigir à PGR. E foi-me dito que qualquer instituição do Estado pode ser alvo de inquérito. Assim, o facto de existir um inquérito não significa que a pessoa seja arguida. Quando alguém é arguido, a própria Procuradoria vem à liça e torna o assunto público. 

Tem a 'folha limpa'?

O que as pessoas querem fazer é denegrir a minha imagem, o meu bom nome. Estou de consciência tranquila. Se o turismo começou a ganhar expressão em Angola é porque tirei da minha mente ideias que poderiam ditar uma nova história. Agora, se pretendem desconstruir o meu potencial, podem ficar à vontade, porque ainda posso suportar, com vida e saúde, o embate e contribuir para a construção de um país melhor.

Aceitaria voltar ao Governo?

Sim, porque sinto que o país pode contar com a minha humilde inteligência. Sou um homem polivalente. Aliás, muita gente pensava que era o fundador do Infotur, mas fui o quinto gestor. De resto, a minha missão foi resgatar a importância desta entidade.

E conseguiu?

Como se justifica um instituto público que existe desde 1997 não ter património? Quando lá cheguei, não existia uma motorizada sequer para não falar de um carro para levar documentos e expediente importante. Dei dignidade funcional com telefones, internet, computadores e viaturas. Mas a questão agora é saber com quem ficou a participação no Grande Hotel da Huíla, no Mombaka, e em tantos outros empreendimentos. Sei qual era o meu trabalho e cumpri. Se me tivessem deixado trabalhar, o país teria visto nascer uma 'sonangol' do turismo.

E qual seria o horizonte para a concretização dessa ideia?

Repito: se me deixassem trabalhar, em 2017, surgiria essa grande empresa do turismo. Só faltou remeter o projecto ao Conselho de Ministros, mas, infelizmente, esta minha iniciativa foi combatida para não ser aprovada. Os detractores um dia serão conhecidos.

"A estabilidade política e as oportunidades de negócio que Angola oferece fazem com que a maioria dos turistas que visitam o nosso país tenha interesses comerciais e não de lazer". Estas palavras são suas. Continuam actuais?

Foi uma perspectiva com indicadores que, na altura, dimensionaram o número de entradas de turistas. Foi no período em que tivemos o ‘boom’ petrolífero, a construção e outros sectores a dar o crescimento que impulsionaram o maior fluxo de excursionistas.

Mas não se atingiram as metas de quatro milhões de turistas e de um milhão de novos empregos até 2020...

Aquilo foi um indicador que serviu de base para dimensionar o futuro. Se me perguntar porque não chegámos ao fluxo turístico capaz de permitir uma maior visibilidade, diria por não termos sabido tirar partido do potencial nacional.

Como deveria ter sido aproveitado?

Faço um desafio: vá à Santa Clara e procure registos estatísticos. Há-de ver que esta é a região de Angola que mais recebe turistas por via terrestre e não deixa receitas. Recebe turistas vindos da Namíbia e da África do Sul com destino à foz do Cunene e ao Namibe. Não encontram ambiente para gastar. A única coisa que fazem é usar a pesca, levando daqui recursos, pesca, mas, no fim das contas, o país nada ganha. Temos de fazer um plano económico de viabilidade sobre como é que o turista deve gastar dinheiro.

E como?

Como é que até hoje, no aeroporto de Luanda, em ambiente de pandemia ou não, não se encontram autocarros para levar excursionistas para Mussulo, Cabo Ledo ou Quiçama? Porque temos a infelicidade de não termos um plano de negócios e só nos lembramos do turismo no Dia Mundial, a 27 de Setembro. O sector tem condições  de fazer com que o país desenvolva turismo de cruzeiro, aéreo, com operadoras que trarão turistas para Angola. Enquanto não tivermos capacidade de fazer isso, vamos continuar a utilizar os argumentos do turismo como mera retórica.

Não se coloca a questão das infra-estruturas?

Não! A Zâmbia é muito mais pequena do que Angola, tem o aeroporto de Lusaka que não se compara aos nossos aeroportos. Livingstone inaugurou um aeroporto em 2016,  mas recebe mais turistas do que Angola toda. A ideia de que é preciso criar condições para que o turismo aconteça não serve. As condições são criadas no decurso da caminhada. Se não caminhar, não vai perceber onde e quando melhorar.

Durante a sua gestão, os pólos de desenvolvimento turístico saíram do papel?

Enquanto estive no sector, havia pessoas que achavam que o Estado tinha de fazer tudo. Sou daqueles que dizem: o Estado faz uma parte e o resto tem de ter capacidade de atrair investimento privado. Acha normal que Cabo Ledo comece a ter ocupação ilegal de terrenos? E muita gente que poderia pôr lá resorts e não consegue porque está tudo ocupado.

Não foi capaz de travar essa anarquia?

O nosso problema é o excesso de burocracia. Às vezes, em vez de ajudar, só atrapalhamos o próprio desenvolvimento.

Mas porque é que só agora há a privatização dos hotéis do Infotur?

Depois da minha saída, os hotéis já eram ‘elefantes brancos’. Esconderam a verdade da matriz dessas unidades hoteleiras ao titular do poder Executivo. ‘Venderam’ uma falsa ideia! É preciso ir ao fundo! O Instituto rege-se, em termos administrativos, por princípios de uma empresa pública e tem de ter os seus elementos capazes de permitir o plano de negócios porque só recebe 25% da dotação orçamental. Os restantes 75% têm de ser trabalhados. Como é que se vendem activos de uma instituição que precisa deles para sobreviver? Logo, foi uma grande mentira, porque os 'elefantes brancos' são as pessoas que foram colocadas no sector e descontinuaram o trabalho para beneficiar interesses.

Como se explica a intervenção do Igape no processo de privatizações?

É subestimar a capacidade dos outros. Não gostamos de assumir as coisas e as responsabilidades. A ideia de que existem no sector empresarial público entes mais importantes do que outros. Os activos da Sonangol, que vão para a privatização, são dirigidos por esta empresa quando ela não é nenhuma unidade de gestão hoteleira. É uma grande confusão.

Então quem devia dirigir o processo?

A única entidade que podia assumir a gestão hoteleira era o Instituto, ou o Ministério de Hotelaria e Turismo. Porque é que os hotéis confiscados à seguradora AAA encontraram, como fiel depositário, o Cofre de Justiça se este não tem técnicos para os gerir? Não devemos subalternizar a posição dos entes estatais desta forma. É uma pena ver o país conforme está a ser trabalhado por algumas pessoas que, se calhar, conseguem influenciar o Presidente e ficam donos da situação.

E o que pensa do combate à corrupção?

Olho para esse combate como um bem necessário. Mas precisamos de encontrar Angola, porque se procurarmos formas de ir em busca de todos os problemas do passado, fica muito complicado. A corrupção é um facto, mas não é apenas esse fenómeno que está a destruir o país. O abuso de poder também.

E fala-se numa alegada selectividade nesse combate?

Valorizo a coragem de trazer esse assunto à nossa reflexão, mas é preciso encararmos o país. Aliás, aprendi que os processos danificam muito, não só os recursos materiais, mas também humanos.

Está difícil aprender com os outros países do continente lições de desenvolvimento…

Somos muito influenciados. Às vezes, achamos que só é bonito o que vem da Europa, mas África tem muito para nos ensinar. Quando falo do turismo, por exemplo, falo de países muito pequenos e muito subestimados por nós, mas que retiram significativo proveito desta indústria da paz, como a Namíbia, Botsuana e Zâmbia. Isso enche-me de muito orgulho. Temos um país, mas o nosso grande problema são os angolanos. Temos de ultrapassar o problema silencioso que corrói angolanos: a luta pela ascensão e o protagonismo. Em determinadas coisas, achamos que só tem de haver uma pigmentação clara. Noutras, temos medo da pigmentação preta e achamos que o erro do preto é alvo para ir para a cadeia, mas o do branco é natural. Estou cansado disso!

A intenção manifestada ao Governo pelo consórcio turco Beta-Tek  para a construção de auto-estradas não passou disso mesmo?

Tudo parou! Um grupo de empresários em 2019 apresentou ao Executivo a pretensão de uma parceria público-privada para o desenvolvimento de auto-estradas, mas gerou-se uma incompreensão administrativa, criando-se um cenário que afastou o diálogo dos empresários, afugentando-os e ficamos sem saber quem era o interlocutor para esse processo.

Quem de concreto travou o projecto?

O Ministério da Economia e Planeamento usou todos os argumentos administrativos para impedir que o processo tivesse um diálogo abrangente.

Porque tinha de passar pelo MEP?

A pergunta que se coloca é: porque é que as intenções que existiram para o desenvolvimento das parcerias foram, de alguma forma, redireccionadas para o MEP, quando esse pelouro não estava preparado. Hoje temos de perguntar onde anda o tal processo de que seriam lançados 54 projectos para o desenvolvimento de parcerias público-privadas. E se os empresários haviam de esperar a nossa boa vontade para fazer marchar os processos. O projecto parou no MEP.

O Ministério da Construção e Obras Públicas não interveio?

Tivemos todo o apoio administrativo do Ministério da Construção que manifestou boa vontade, recebeu os investidores, conversou com os promotores, mas o grande problema tem que ver com a dispersão de competências.

Pode explicar melhor...

Se o processo é para o desenvolvimento de auto-estradas, ou seja, de infra-estruturas viárias, porque se passa para um ministério? O país fica refém dele e ninguém presta contas sobre o passo administrativo que se deu. A verdade é que o processo ‘morreu’ e não me perguntem se é por falta de vontade política ou pessoal. As pessoas ficaram desmoralizadas, porque já não sabem com quem dialogar.

E com o pelouro das Finanças?

Nas parcerias público-privadas, voltadas para a modalidade de BOT (construir e operar por um determinado período antes da infra-estrutura transitar para o Estado) é fundamental que o Presidente da República crie um grupo de trabalho restrito, mas coordenado pelo Ministério das Finanças, porque, em última instância, é este, por via das suas unidades técnicas, que vai olhar para os contratos e contrapartidas de prestações à luz desses contratos para definir qual é a capacidade ou não que o país tem de facilitar todo um ambiente capaz de permitir o retorno do capital aplicado pelos investidores.

A construção de auto-estradas seria mesmo viável?

Quando oiço falar que determinados projectos não avançam, porque não são prioritários para um país como Angola, fico triste. Desde muito cedo que conheço o país, de Cabinda ao Cunene. Se quisermos que o país se desenvolva e tenha uma dimensão de desenvolvimento territorial, se não evoluirmos para um modelo de estradas que permitam fluidez, segurança e maior capacidade de resposta em relação ao tempo, não vamos atingir os resultados económicos que queremos.

Mas o projecto encalha quando temos o mesmo traçado de estradas da época colonial…

O país é muito extenso, As viagens aéreas são caras, as ferroviárias são muito demoradas e só há um meio intermédio capaz de ligar o país: as estradas. Logo, as auto-estradas devem ser vistas como um projecto de perspectiva de crescimento que vai assegurar o crescimento demográfico. Se assim acontecer, daqui a alguns anos, morar no Luau já não será tão distante de Luanda.

Qual deve ser o passo seguinte?

O titular do poder Executivo deve, de alguma forma, criar um grupo técnico que olhe o país na dimensão do sonho que os angolanos de boa-fé têm. Se não tivermos de encarar Angola de frente, considerando o seu potencial e as perspectivas para daqui a 30 ou 50 anos. Continuaremos estagnados. Um projecto como este, de auto-estradas ou de eixos viários modernos, deve ser levado a peito pelo titular do poder Executivo.

Já existe um Conselho de Concertação Económico Social que deve dar essas visões ao Presidente?

Estamos a falar de um projecto, mas, ao mesmo tempo, de interesses económicos. Como não existem almoços grátis, também não existem conversas facilitadas quando os interesses não estão devidamente alinhados.

É contra o conselho?

Pensa-se que é a única entidade que deve dizer o que o país deve ou não fazer. Está errado! O país deve fazer aquilo que é viável para o seu desenvolvimento independentemente da vontade ou da existência de um conselho. Não vamos meter a capacidade de outros empresários reféns do Conselho de Concertação Económica. Não quero misturar as coisas. Respeito o que se criou, mas não se condicionem determinados projectos à luz desses entes que se criaram.

Quer dizer que esse ente atrapalha, certo?

Estamos a ver à distância, não é por não estarmos incluídos nesses conselhos de concertação, ou em grupos técnicos, que nos vamos sentir excluídos ou inferiores de apresentar projectos. Todos os países têm os seus empresários e grupos empresariais, mas é preciso olhar com clareza o que estamos a defender.

Portanto, não há foco?

A questão que se deve colocar é saber qual é a fonte de financiamento de um projecto de oito mil milhões de dólares. A fonte é externa e o ganho são as infra-estruturas que ficam para as gerações vindouras. Porque estamos a colocar pedras de tropeço em projectos que podem criar desenvolvimento ao país quando sabemos que essas pedras são meramente artificiais?

Perfil

Obrigado a declarar falência técnica

Oriundo de uma família fabricante de azeite de oliva, no Namibe, Eugénio Kango Clemente, 43 anos, lembra que, depois de assumir o Infotur e ‘atacar’ a conclusão dos hoteleiras de quatro estrelas e com capacidade para 132 quartos, em finais de 2013, vieram ao seu gabinete “para que declarasse falência”. Como não cedeu, criou inimigos.  “É assim no nosso país, ou seja, o Estado constrói, mas depois já tem um grupo preparado para ficar com as infra-estruturas”, insiste o jurista, que se fez empresário nas Pescas, muito antes de entrar na função pública. Hoje, tem um volume de negócios de 26 milhões de dólares. Entre 2017 e 2018, aliado a um sócio russo, iniciou, a título experimental, a exportação de caranguejo para o Japão. Prevê erguer uma unidade de transformação de pescado no Tômbwa. Na construção civil, opera com a GEAV Construções, da qual é CEO. “Sempre geri mais dinheiro nas minhas empresas do que no Infotur”, ‘dispara’ Clemente, também vice-presidente da assembleia-geral da Associação de Pescadores de Luanda e membro da associação congénere do Namibe.