“A aquisição de divisas deveria estar equiparada ao rácio de crédito”
A conversa com Hugo Teles, administrador do BIC e filho do presidente do mesmo banco, concentrou-se, sobretudo, na análise do sistema financeiro. Afirma que pelo menos quatro bancos angolanos estão em condições de trabalhar com qualquer banco interncional, incluindo com os norte-americanos. E diz que a venda de divisas deveria priorizar quem da crédito à economia.
Que análise faz, enquanto quadro sénior do sector da banca, sobre a actual situação económica do país?
A situação económica não é a mais fácil. Se olharmos para o PIB angolano, veremos que cerca de 70% resulta da exploração petrolífera e a partir do momento em que o preço deste produto está baixo, a rentabilidade é mais reduzida. Por outro lado, há excesso na produção de petróleo e a produção, internamente, está relativamente reduzida. Claramente, a situação económica do país não seria a mais fácil, nem será nos próximos tempos, enquanto dependermos tanto do petróleo.
Nesse cenário, quais são os principais desafios para os administradores bancários, tendo em conta, sobretudo, a falta de divisas que é uma consequência?
Também não é fácil. Os bancos tiram ou deveriam tirar maior parte da sua rentabilidade, através da concessão de crédito e execução de operações de transferências, mas o que se vê é que a maioria dos bancos tira rendimento através das operações de cambiais. Esta não é a função primária do banco, não é das operações nucleares de um banco normal. Se tivermos em atenção que a Luibor passou de pouco acima de 9% para 24% e, sobre isto, os bancos ainda têm de pôr a sua margem, veremos que as taxas de crédito estarão entre 27% e 29%. Ninguém tem condições para pagar créditos nestes termos nem os bancos querem conceder, sabendo que as pessoas terão muitas dificuldades em pagar. Ou vão fazer créditos de valores muito reduzidos, mas mais para os particulares, porque as empresas simplesmente não vão fazer crédito, porque não vão ter rentabilidade para isso.
Como é que o Banco BIC tem feito a gestão das divisas a que tem acesso?
Decidimos ter sensibilidade a tudo o que é questão de saúde, mas devidamente comprovada (este foi o ano em que mais vi relatórios médicos). Também procuramos ajudar aqueles que têm menores rendimentos e têm os filhos a estudar fora, fazendo um esforço muito maior. Procuramos ajudar, pelo menos, a fazer o pagamento directo para as escolas no sentido de evitar atrasos, mas não é fácil. A pressão é muito grande por parte dos clientes e com razão, mas os bancos não têm como atender porque compram ao banco central cerca de um décimo ou um vigésimo do que necessitam. Não estamos a falar de uma pequena, mas de uma grande escassez. Sei que a vida de quem está no banco central ou no Ministério das Finanças também não está fácil. Temos todos de procurar fazer o melhor para conseguirmos gerir da melhor forma possível o pouco que há.
Quais são, em média mensal, as necessidades do BIC, em divisas?
Depende muito. Há três anos, o valor era quatro ou cinco vezes superior. Entretanto, as empresas dispensaram muitos colaboradores com destaque para os expatriados e as necessidades, todos os meses, reduzem. A nível de salários a expatriados, chegamos a ter uma média equivalente, entre 11 e 12 milhões de dólares por mês e, neste momento, há de estar próximo dos 4,5 milhões. Mas compramos ao banco central um milhão, no máximo, o que não dá para pagar a todos. Há muita gente com salários em atraso. Por outro lado, temos os nacionais que têm de ir menos vezes de férias e com menos valores.
Há informações de que, no ano passado, o BIC ficou excluído de algumas sessões dos leilões. Algum motivo em especial?
Não lhe posso precisar com certeza nem devo fazer. Posso dizer que, todos os meses, compramos menos do que devemos comprar. Para haver alguma justiça e trabalharmos de forma séria, um banco que se candidata aos leilões do banco central e que comprove que tem operações para o estrangeiro e que tenha os kwanzas depositados deve concorrer à compra destas divisas. Não me parece que faça muito sentido que os bancos que tenham poucos depósitos e poucas operações sejam beneficiados com divisas de que não necessitam.
Mas a ideia não será dividir o pouco para todos?
Parece-me mais uma forma administrativa de fazer crescer alguns bancos, mas não é o que se pede. Pode haver diversas razões, mas, para mim, o que faz sentido é que um banco que tenha as operações comprovadas e os valores depositados se candidata à compra das divisas. Nós passámos de um banco que comprava mais de 20% das divisas nos leilões para 11% e depois 9%. Poderá dizer-me que os outros bancos cresceram e pelo facto nós estamos a comprar menos. Mas é certo que, se eu passar a dar divisas a outros bancos mais pequenos (que até só têm agências em Luanda), os clientes vão para lá. Portanto, é uma maneira de lhes fazer crescer. Acho, no entanto, que ninguém deve crescer por favor, mas sim por trabalho. Nós temos mais de 330 balcões, estamos em 98 municípios, fazemos um esforço para atender a toda a gente pelo país e, sinceramente, acho que devemos ser tratados de uma forma ligeiramente diferente. Não queremos favor, mas que sejamos todos tratados de forma justa e correcta.
Não esclareceu. Ficaram sem comprar?
O que posso garantir é que, em mês nenhum, nós (e provavelmente, nenhum dos cinco maiores bancos) tenhamos conseguido comprar, ao banco central, um quinto (1/5) das nossas necessidades. Todos os meses os atrasados aumentam. Mas também devemos considerar a possibilidade de que algumas coisas eram mal feitas e agora passaram a ser bem-feitas.
Criticou o facto de os bancos fazerem das operações cambiais o seu negócio nuclear. É um problema generalizado?
Nunca fomos um banco que desse grande importância às operações cambiais. O que sabemos fazer é banca e banca é conceder crédito, proteger os depósitos dos clientes e fazer operações. As operações cambiais vêm mais lá para trás. Mas, actualmente, há muitos bancos que só fazem operações cambiais, vivem disso. Nós fazemos como qualquer outro banco e uma das maneiras para se combater toda esta falta de rentabilidade foi toda a gente aumentar as margens no que toca às operações cambiais. Entendo que alguns têm esta operação como principal por ser mais fácil de fazer, não precisam de conceder crédito, nem fazer transferência para ninguém, basta comprar e vender divisas com a margem fixa, é fácil de fazer, mas não é o nosso principal negócio, não somos uma casa de câmbio.
Mas é uma rubrica com destaque também nos relatórios do Banco BIC?
É mais uma rubrica que, no balanço dos bancos, gera rentabilidade, toda a gente sabe, é público. Eu também acho que seria muito mais fácil fecharmos os nossos balcões todos e fazer apenas câmbio, mas não é o nosso negócio, não é com este intuito que temos o Banco BIC aberto.
Qual foi o nível de redução de solicitação de crédito?
Diminuiu drasticamente o número de solicitações. No caso da diversificação da economia, felizmente, temos um programa brilhantemente criado, mas que, infelizmente, não está a ter a saída que deveria (pelo menos, nós, Banco BIC, achamos que deve ter), que é o Angola Investe. A taxa para quem vai investir é de 5% e a diferença para taxa Luibor é assumida pelo Estado. Temos ainda o Fundo de Garantia de Crédito, que também pode garantir até 70% do investimento. No entanto, o facto de haver essa entidade que assegura uma parte do financiamento não vai fazer com que analisemos os processos sem rigor. Pelo contrário, todos os projectos do Angola Investe que consideramos fiáveis estamos a apoiar. Em relação às solicitações, fora do abrigo do Angola Investe, houve uma quebra de quase 85% a nível de solicitações de créditos.
Actualmente, qual é o desembolso do Banco BIC no âmbito do Angola Investe?
De todos os projectos que analisamos, temos um desembolso que estará na ordem dos mais de 300 milhões de dólares. Temos mais cerca de 180 milhões aprovados, mas ainda não em fase de desembolso. Gostaríamos que fosse muito mais, porque há muito mais a ser feito a nível do Angola Investe. Contudo, é necessário que haja pessoas com ideias credíveis, experiência e com vontade de fazer. Não basta ter um estudo de viabilidade muito bonito. Nunca nos apresentaram um estudo que não fosse viável, mas, às vezes, até preferimos aqueles estudos à moda antiga, como as contas do merceeiro. Muitas vezes, preferimos que o cliente nos explique o projecto como se as pessoas do banco fossem todas crianças, porque assim conseguimos perceber que a pessoa tem uma ideia e sabe perfeitamente como a vai executar. Quando um empresário tem em mente, exactamente, o objectivo bem traçado é meio caminho andado para apoiarmos. No entanto, há pessoas com projectos bem-feitos, mas, nos encontros, mostram não ter nenhuma noção dos números do projecto. Não auguram nada de bom.
São muitos projectos nestas condições?
O que mais tem chegado são projectos que não convencem os bancos. Já nos apareceram projectos que, no primeiro plano, para um pequeno projecto agrícola, um dos custos que lá estava é o da compra de um Range Rover. Porque não uma ´pick-up´ que é o que é necessário? Logicamente, nós não avançamos para o financiamento, porque, para piorar, a equipa que estava a defender o projecto mostrou que o desconhecia por completo. Queremos apoiar, mas também queremos coisas a serem feitas. Neste aspecto, diria que somos ´chatos´, gostamos de ir lá ver e acompanhar o desenvolvimento do projecto, porque o banco acaba por ser um parceiro do empresário. Pessoalmente, acho que quem pensou no Angola Investe pensou bem e nós, bancos, temos de ter a responsabilidade e a firmeza para fazer com que, no futuro, se olhe para o Angola Investe como tendo sido um programa bem feito.
Nota-se alguma tendência do BIC em apoiar projectos agrícolas. Alguma razão especial?
Nós apoiamos todos os sectores, mas há mais investimentos na agricultura porque consideramos ser a chave. Ninguém vive sem comida e nós, infelizmente, importamos cerca de 95% do que comemos. Não faz sentido. Temos de ser auto-suficientes, senão passaremos o resto do tempo a depender dos outros. Somos um país muito grande, com mais de 25 milhões de habitantes, é muita gente para comer. À medida que a população cresce, se continuarmos a importar 95%, estaremos a falar de um valor muito maior porque este 95% é apenas uma taxa. Temos, urgentemente, de produzir comida porque o buraco está na comida. É o maior sorvedor de divisas que Angola tem, é onde gastamos mais divisas quando temos tanta terra boa que inveja a outros países.
Mas é um sector que foi sempre visto como ‘parente pobre’, era ignorado pelos bancos devido aos elevados riscos.
Não é que fosse um sector desprezado mas, como disse, tem um risco alto. Porquê? Porque a terra não tem, se calhar, a documentação que deveria, o que não permite, muitas vezes, usar a fazenda como garantia. Vou dar-lhe um exemplo do Brasil. Vá abrir uma fazenda, lá na última esquina do Mato Grosso do Sul, sabe qual é a primeira coisa que lhe vão dar? Energia eléctrica. É outra coisa que não podemos descurar. Andamos todos a produzir sem luz e gasta-se muito. Se o investidor puder dar a sua fazenda como garantia, certamente, lhe vão emprestar o dinheiro, porque isso tem um duplo sentido. O banco, quando vir que um indivíduo está a dar a sua própria terra, tem logo a percepção de que esta pessoa acredita no seu projecto. Os bancos todos deveriam apoiar mais a agricultura. Se há um banco que, ao longo dos anos, fala em agricultura, pecuária e pescas é o BIC. Se calhar, há bancos que têm, nos seus balanços, grandes créditos para estas áreas mas será que estes projectos estão feitos, existem? Se calhar não. Não estou a generalizar, mas, se calhar, nós apoiamos menos projectos mas muitos deles estão aí. Dou o exemplo da Agrolíder que está aí a produzir com força, numa zona em que lhes diziam que não era possível porque não havia água. Como este, há outros.
Regressando à temática das divisas. As actuais dificuldades não terão resultado também de alguma má gestão dos bancos comerciais?
Percebo perfeitamente o que quer dizer, mas também confio que as pessoas têm cabeça para pensar e apercebem-se das coisas tal como elas são. Não quero, de maneira nenhuma, estar a apontar dedos, nem é esta a minha função, mas também concordo que a gestão das divisas deveria ser feita de maneira diferente, de uma forma mais eficiente. No caso do BIC, posso garantir que não andamos a fazer operações esquisitas. O BIC não põe um dólar na rua, mas não posso falar pelos outros bancos. Procuramos gerir da melhor maneira, mas não fazemos milagres. Candidatamo-nos às compras no banco central e é-nos vendido aquilo que o banco central acha que devemos comprar. Actualmente, o banco central vende 95% das divisas via alocação directa. Ou seja, o banco central diz aos bancos comerciais que vai comprar X para esta empresa e Y para aquela, e depois temos de reportar todas as operações feitas por esta empresa e que o valor todo já foi gasto. Os bancos não têm autonomia para gerir divisas. Quando oiço que os bancos costumam gerir mal, pergunto-me: gerir mal o quê? Não temos para gerir. É-nos indicado para que empresas estamos a comprar (e de algumas destas empresas nunca ouvi falar). Não podemos usar estas divisas para vender a outras pessoas, não é possível.
Em anos anteriores, era possível cada um dos bancos saber quanto o outro comprou, mas actualmente parece não ser assim. Certo?
É uma informação que também deixou de existir não sei por que razão. Achamos normal ser público quanto é que cada banco está a comprar. Antigamente, vinha um mapa com os nomes dos bancos e o valor que compravam, actualmente vem o mesmo mapa, mas o valor apenas correspondente ao do banco destinatário. O espaço corresponde ao valor dos outros bancos vem em branco. Na minha opinião, era bem mais transparente e dava para toda a gente descortinar muito melhor como é que as coisas eram geridas.
Angola está a pagar por incumprimentos internacionais que levaram os Estados Unidos a cancelar o acesso do país ao dólar. Acha que se está a fazer o suficiente para, num futuro breve, se inverter o quadro?
Não vamos confundir. Alguns bancos angolanos, neste momento, cumprem cabalmente. Nós, nos últimos três anos, investimos 7,5 milhões de dólares em sistemas informáticos de controlo. Há, pelo menos, quatro bancos angolanos que cumprem praticamente as mesmas normas que qualquer banco na Europa; que têm todos os sistemas de controlo que tem qualquer banco na Europa. Mas, quando falamos da banca angolana, estamos a falar do banco central e dos bancos comerciais. Todos temos de cumprir as mesmas máximas e os mesmos pressupostos internacionais. Enquanto todos não cumprirmos, não fará sentido. Nós, por exemplo, achamos não fazer sentido fazer mais qualquer investimento, enquanto o supervisor não fizer o mesmo tipo de investimento.
E será boa ideia deixarem de investir pelos outros?
Nos últimos três anos, temos estado a participar de uma espécie de reunião mundial dos bancos que acontece anualmente. Participamos para tentar fazer o nosso ‘lobby’ no sentido de voltarmos a abrir as nossas contas em dólares e manter as contas em euros (porque também começa a ser equacionada o encerramento das mesmas) e o que nos dizem é: “Ok, vocês investiram muito bem, estão de parabéns mas a nossa decisão não vai mudar porque o vosso banco central não está a fazer o mesmo”. Só o facto de haver alocações directas de divisas faz com que o banco central não possa, de forma alguma, cumprir determinados pressupostos, porque o supervisor é o regulador. A função do banco central é regular e supervisionar, fazer com que as coisas se cumpram, mas a alocação directa de divisas é uma maneira de funcionar de um banco comercial. Este é um dos sistemas que tem de mudar. Julgo que o banco central tem perfeita noção disso, tem tido muitas consultorias e sabe perfeitamente o que é que temos todos de fazer para estarmos dentro daquilo que são os mínimos exigidos pelos meios financeiros internacionais. Temos todos de o fazer. Neste aspecto, nós, BIC, somos ‘fully compliant’, estamos em condições de trabalhar com qualquer banco em qualquer parte do mundo, inclusivamente americanos.
Ou seja, os bancos que, como o BIC, estão ‘alinhados’ estão a ser prejudicados pelos outros e pelo Banco Central?
Temos trinta bancos e todos têm de o fazer, porque a soma de todos é que dá o total e as normas internacionais não valem para um ou três, valem para todos e todos temos de ser obrigados a cumprir, inclusive o banco central. Ou seja, toda a banca tem de seguir os mesmos parâmetros, porque a banca de um país é avaliada como um todo. Chega uma altura que qualquer investimento que venhamos a fazer já é em vão, porque não irá produzir os resultados.
Mas continuarão a fazer o ‘lobby’ ou também desistirão?
Continuaremos, porque acreditamos que ‘água mole em pedra dura tanto bate até que fura’. Continuaremos a investir neste encontro, temos mais de cem reuniões em uma semana, falamos com todo o tipo de bancos, ouvimos: “não, não e não” mas chegará o dia que ouviremos o “sim”. É uma maneira de estarmos presentes, darmo-nos a conhecer. Estamos lá também a representar Angola e acho que temos estado a representar bem.
Quais são os números da actividade do banco no primeiro semestre?
Há três anos, chegámos a ter, em depósitos quase oito mil milhões, o equivalente em dólares, e, neste momento, estamos em 4,8 mil milhões. Ou seja, quase que caímos para a metade. Não há actividade, não há transferências, as empresas todas estão a trabalhar menos e é natural. Por outro lado, vamos sofrendo com algumas transferências de alguns bancos para os outros, porque as pessoas andam a rondar para ver onde é que conseguem as transferências mais rápidas. Os bancos, no geral, quase que caíram para a metade nos depósitos. A nível de crédito, continuamos com mais de seis mil milhões, sendo que cerca de três mil milhões são de crédito ao Estado. Esta é outra das rubricas que, pessoalmente, penso que deveria ser mandatória na aquisição de divisas ao banco central. Um banco que não dá crédito a ninguém não deveria adquirir divisas, porque não está a exercer a sua função de banco. Porque é que eu vou dar divisas a um banco que não produz, não faz acontecer, não contribui para o crescimento do país? Nós somos um dos grandes financiadores da economia, isto não há como negar, basta olhar para a carteira de crédito de todos os outros bancos. A aquisição de divisas deveria estar equiparada ao rácio de crédito. Talvez obrigaria a que os bancos trabalhassem mais em prol do crescimento da economia e tivessem mais responsabilidades a conceder crédito e evitassem a que o crédito ficasse malparado.
Qual é a realidade no BIC?
Saiu dos 2% para cerca de 12%. Ou seja, tínhamos cerca de 70 milhões de dólares e agora estamos com quase 180 milhões de dólares e a tendência é de subir.
Caso a Recredit já estivesse a trabalhar com os bancos comerciais, o BIC estaria disponível a negociar?
Nós procuramos não dar mau crédito. Possivelmente, haveria uma ou outra operação que poderíamos discutir com eles, mas valores não muito grandes. Mas não tenho informação suficiente para falar sobre a Recredit, não sei como funcionará no futuro.
Quais são os mecanismos utilizados pelo banco para a recuperação do malparado?
A recuperação do malparado envolve muito trabalho, muita persistência, muita insistência. A par do compliance, a outra área do banco que, ultimamente, mais cresce é a de recuperação do mal parado. Fazemos sempre o possível de dar a possibilidade de as pessoas pagarem o seu crédito, dando oportunidade para reestruturar, aumentar prazos. O banco é flexível para falar com os devedores, tentar arranjar uma solução porque não queremos ficar com o património das pessoas, não queremos bater à porta do avalista. Queremos é que a pessoa pague o seu crédito na íntegra sem problemas e, se tiver com dificuldades, mais vale dizer para encontrarmos outros mecanismos, podemos adequar as prestações em função das capacidades do cliente. É verdade também que há uns que são mesmo ‘malandros’, mudam de província e de telefone e por isso é que os bancos tentam defender-se no momento da concessão porque depois de conceder as pessoas não querem saber mais do banco.
Olhando para o histórico de recuperação, qual é a percentagem de sucesso?
Tem vindo a melhorar cada vez mais, porque, logicamente, havendo mais malparado, investimos mais nas equipas de recuperação e há mais resultado deste trabalho. Tem havido, de facto, uma recuperação bastante intensa, senão invés de ser de 180 milhões estaríamos em cerca de 300 ou 400 milhões. Nestas negociações, tem de haver bom senso, não podemos ser anjinhos, mas também não podemos ser os diabos.
Recentemente veio a público o nome de dois clientes do banco que tinham dívidas. Como acontecem situações do género?
Achei esta notícia surreal, porque estas pessoas não são devedoras, são avalistas de créditos. Acho que foi alguém que quis, de alguma forma, prejudicar estas pessoas, mas são casos que estão em tribunal há anos. Para uma dessas pessoas, a sentença saiu um pouco antes da notícia e o outro tinha saído um ano antes da notícia, mas, se vir as sentenças do tribunal, há muitos clientes do BIC que foram a tribunal. Não é por serem figuras públicas, não temos nada contra ninguém e sempre fomos um banco que não gosta de prejudicar a imagem de ninguém.
Quando falou dos números referentes ao semestre, não fez referência aos lucros. Qual é a realidade?
A situação é igual para quase todos os bancos. O crescimento dos lucros dificilmente acontecerá. Talvez, conseguimos manter porque também encareceram alguns outros produtos, mas isso é tudo muito aparente porque, na verdade, o banco não tem crescimento e, em última instância, isto é que conta.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...