A arte milenar que tira jovens das drogas
DESPORTO. Artes marciais, quando praticadas com verdadeiro espírito de guerreiro e sabedoria, podem tornar-se a mais poderosa arma de defesa, de ataque e de enriquecimento, dizem os seus praticantes. Há ginásios que albergam artes marciais para melhor rentabilizar espaço e rendimentos ultrapassam um milhão de kwanzas mensais.
O crescente número de academias que surgem em Luanda e arredores dá sinal da expansão do negócio à volta da prática das artes marciais. Uns usam-nas como projecto social para ajudar a tirar os jovens da delinquência, drogas e do álcool. Outros ainda fazem dos treinos uma empresa que gera empregos e receitas para o Estado. As artes marciais são uns dos desportos milenares que têm a origem na Ásia, mais concretamente na China, Japão e Índia. Apareceram em Angola há pouco menos de 50 anos e são uma das modalidades que muito têm crescido e tem feito aumentar os pequenos negócios.
Nos dois ginásios geridos por Carlos Miguel Neto, de 38 anos, a única modalidade é o jiu-jitsu brasileiro. Mas o maior rendimento provém do ginásio.
Um deles rende mensalmente perto de um milhão de kwanzas que pode sempre ser superado e poucas vezes decai. Os dois ginásios têm mais de 20 funcionários que recebem salários entre os 40 mil e os 120 mil kwanzas. Actualmente, estão inscritos mais de 600 pessoas, que pagam, por cada inscrição, cinco mil kwanzas. E por mês dez mil para à musculação, cinco mil infantil no jiu-jitsu, oito mil para as aulas em grupo, e uma mensalidade de 13 mil kwanzas para o ‘pacote livre’, que dá direito à prática do jiu-jitsu e de frequentar o ginásio.
Carlos Neto esperou 12 anos para inaugurar o primeiro ginásio, no Mártires de Kifangondo, onde paga 150 mil kwanzas mensais pelo espaço. Não precisou de um empréstimo bancário nem quis comprometer-se com bancos para erguer a própria empresa. Foi o dinheiro que recebeu de uma dívida que conseguiu realizar o sonho de abrir o ginásio. Para ele “é um bom negócio para fazer investimento”.
Carlos Neto acredita ainda que o primeiro passo, para quem deseja abrir um negócio destes, é fazer um estudo da zona. “O segredo de abrir um ginásio ou academia é não ter concorrência por perto.”
Já a Escola de Judo do Rangel, que existe desde 1992, dirigida pelo mestre Cheno, tem como principal objectivo resgatar os jovens da delinquência, drogas e do álcool. Mas não dispensam os patrocínios e parcerias. Ensina judo, jiu-jitsu e xadrez.
Dos 126 atletas activos, só 50 pagam uma quota de mil kwanzas mensais não regulares o que perfaz 50 mil kwanzas mensais. Os professores não têm salários por falta de apoios, mas, sempre qual há verbas, recebem intervaladamente, um valor não fixo.
A escola luta para subir ao nível de clube, pela delegação provincial do desporto.
O local foi oferta de um particular. Neste momento, conta apenas com o apoio da Administração do Rangel, que se prontificou em arranjar um espaço definitivo.
No Rangel, há Associação que controla boa parte dos quatro grupos organizados das artes marciais.
As academias de artes marciais devem estar inscritas nas destintas federações, quer seja de judo, karaté, quer de jiu-jitsu, entre outras.
Uma das funções das academias é também lançar atletas para competições locais, provinciais, nacionais e internacionais de modo a torná-los profissionais, mas é necessário a injecção de uma ‘mão invisível’, ou seja, um ‘patrocinador’.
Para gerir uma academia, é recomendável que se seja amante das artes marciais. Segundo, que se tenha algum capital inicial. “É das profissões que poucas vezes têm patrocínio”, adverte António Vicente, director da ‘Tony’s Team’, que fica no CDUAN, em Luanda. “A Tony’s Team aposta na formação e promoção dos atletas, para lançar nas competições. Demos oportunidades a treinadores, escolas e grupos que pertençam aos clubes e damos o período de duas ou mais horas para treinar.”
Nem todas as modalidades fazem pagamentos, excepto a ginástica, que raramente são atletas, mas sim particulares que pagam, pela inscrição, 6.000 kwanzas incluindo um mês e 3.000 de mensalidade. Treinam cerca de uma hora e meia de segunda à sexta-feira.
Para os atletas de competição, é aberta uma excepção para quem não tenha possibilidades. António Vicente, explica a prioridade “não é o dinheiro”, mas sim ter um “maior moldura humana a praticar desporto e um maior número de competidores”. Aos atletas que podem pagar a academia cobra um valor entre 2.000 e 3.000 kwanzas mensais e os sócios mil.
Sem ajudas extra, a académia vai sobrevivendo com as mensalidades dos atletas. António Vicente gostava que o Estado e as empresas apostassem mais no desporto e que “as artes marciais não fossem deixadas para trás”.
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