ANGOLA GROWING
Erica Nelumba, cantora

“A música ?é um negócio ?que pode ser muito ?rentável”

29 May. 2017 Marcas & Estilos

ENTREVISTA. Afastou-se dos palcos por muito tempo, para se especializar em dermatologia, no Brasil. Aos 34 anos, Erica Nelumba “nunca tentou viver da música”, porém, acredita ser possível viver desta arte. A cantora, e também médica, entende que a falta de um sector empresarial “forte” no entretenimento condiciona a internacionalização dos músicos angolanos.

 

Ausentou-se por algum tempo para se dedicar à medicina. Valeu a pena?

Com certeza! O meu objectivo era concluir a minha formação em medicina (licenciatura e especialização) até aos 32 anos e assim o fiz. Infelizmente, tive de abdicar temporariamente da minha carreira como cantora, mas não há ganhos sem sacrifícios.

Prometeu lançar o 3.º álbum em 2016…

Realmente o objectivo era esse. Porém, tive alguns contratempos relativos à minha agenda profissional (como médica), que não permitiram que me ausentasse do país. Queria muito trabalhar com alguns músicos, que, infelizmente, não residem em Angola.

Vive dividida entre a música e a medicina. Como concilia?

Tentando equilibrar o tempo que dedico a uma e a outra. Gosto de ambas, pois nelas exploro lados completamente diferentes da minha personalidade. Então, ainda que esteja física ou psicologicamente cansada, consigo arranjar ânimo para continuar.

Onde se sente mais confortável: no consultório ou em palco?

Em qualquer um deles. Mas confesso que fico sempre nervosa antes de subir ao palco.

E onde vê maiores possibilidades de ascensão social?

Na verdade, não penso nisso. Tenho uma carreira musical porque gosto de cantar e tenho talento, e uma carreira médica porque gosto de cuidar das pessoas e estudei para tal. Tudo o que vier daí é resultado do amor e dedicação que ponho em tudo o que faço.

É possível viver só da música em Angola?

Nunca tentei (risos), mas penso que sim. Quando está no consultório, é reconhecida? Sou, sim. Quase sempre. É bom porque acabo por ter um contacto directo com os apreciadores da minha música e não só. Recebo sempre muito carinho.

O facto de ser médica condiciona a música?

De certa forma, sim. Por exemplo, gostaria de ter mais tempo para poder praticar e dominar um instrumento musical ou ter aulas para aperfeiçoar a voz, mas é difícil encontrar espaço para fazer isso.

A sua família influenciou na decisão entre ser cantora e médica?

Não. Os meus pais fazem as suas sugestões, mas apoiam e respeitam as minhas decisões.

Que dificuldades teve para lançar o seu primeiro álbum?

Quase nenhuma, uma vez que o Beto Max (na altura meu produtor), cuidava de tudo (risos). Era tudo muito novo para mim.

O que falta para haver mais músicos angolanos reconhecidos internacionalmente?

Falta um sector empresarial forte no entretenimento, que entenda que a música também é um negócio que pode ser muito rentável, de acordo com grau de investimento e com o potencial do produto apresentado.

Sente que o número de fãs reduziu após a ausência dos palcos?

É uma pergunta difícil de responder, porque eu não sei como comparar. Mas os que foram voltarão (risos).

O que é mais difícil: ter reconhecimento dos fãs ou de organizadores de eventos?

É mais difícil ter o reconhecimento dos fãs, pois tens que os tocar de alguma forma e eles, por sua vez, são capazes de ‘obrigar’ um organizador de eventos a reconhecer o teu potencial.

Que desafios teve ao interpretar a música ‘Filha de Deus’?

Foi uma música difícil de interpretar, pois o tema em si fugia um pouco daquilo que eu estava acostumada a cantar. Mas sinto um prazer enorme sempre que canto essa música.

A música ‘Tua’ é dedicada a alguém em especial?

É sim. Aos meus fãs.

Quais são as suas referências musicais?

Actualmente, nenhuma. Oiço de tudo um pouco.

Como avalia o contexto sociopolítico que Angola atravessa (cenário eleitoral)?

Penso que é a reafirmação de que temos realmente um Estado democrático e de direito. Teremos a oportunidade de escolher quem vai liderar os nossos destinos nos próximos cinco anos, portanto, é um momento de reflexão, para que possamos fazer a melhor escolha.

Que papel os músicos podem desempenhar para a consciencialização da sociedade diante desta realidade?

Os músicos, assim como outras figuras que gozam de alguma visibilidade, tais como desportistas, por exemplo, são vistos como modelos a seguir, principalmente pelos mais jovens. Devemos usar essa visibilidade para melhorar a nossa sociedade, através dos nossos próprios exemplos.

E as mulheres, em particular, têm uma palavra a dar?

Com certeza! As mulheres têm o poder de moldar a sociedade, de acordo com a educação que oferecem aos seus filhos.

 

PERFIL

Nome completo: Erica Judite Pimentel Nelumba

Data de Nascimento: 19 de Maio de 1983

Naturalidade: Luanda Estado

Civil: divorciada

Filhos: nenhum

Cor: branca

Um músico: Michael Jackson