“A música ?é um negócio ?que pode ser muito ?rentável”
ENTREVISTA. Afastou-se dos palcos por muito tempo, para se especializar em dermatologia, no Brasil. Aos 34 anos, Erica Nelumba “nunca tentou viver da música”, porém, acredita ser possível viver desta arte. A cantora, e também médica, entende que a falta de um sector empresarial “forte” no entretenimento condiciona a internacionalização dos músicos angolanos.
Ausentou-se por algum tempo para se dedicar à medicina. Valeu a pena?
Com certeza! O meu objectivo era concluir a minha formação em medicina (licenciatura e especialização) até aos 32 anos e assim o fiz. Infelizmente, tive de abdicar temporariamente da minha carreira como cantora, mas não há ganhos sem sacrifícios.
Prometeu lançar o 3.º álbum em 2016…
Realmente o objectivo era esse. Porém, tive alguns contratempos relativos à minha agenda profissional (como médica), que não permitiram que me ausentasse do país. Queria muito trabalhar com alguns músicos, que, infelizmente, não residem em Angola.
Vive dividida entre a música e a medicina. Como concilia?
Tentando equilibrar o tempo que dedico a uma e a outra. Gosto de ambas, pois nelas exploro lados completamente diferentes da minha personalidade. Então, ainda que esteja física ou psicologicamente cansada, consigo arranjar ânimo para continuar.
Onde se sente mais confortável: no consultório ou em palco?
Em qualquer um deles. Mas confesso que fico sempre nervosa antes de subir ao palco.
E onde vê maiores possibilidades de ascensão social?
Na verdade, não penso nisso. Tenho uma carreira musical porque gosto de cantar e tenho talento, e uma carreira médica porque gosto de cuidar das pessoas e estudei para tal. Tudo o que vier daí é resultado do amor e dedicação que ponho em tudo o que faço.
É possível viver só da música em Angola?
Nunca tentei (risos), mas penso que sim. Quando está no consultório, é reconhecida? Sou, sim. Quase sempre. É bom porque acabo por ter um contacto directo com os apreciadores da minha música e não só. Recebo sempre muito carinho.
O facto de ser médica condiciona a música?
De certa forma, sim. Por exemplo, gostaria de ter mais tempo para poder praticar e dominar um instrumento musical ou ter aulas para aperfeiçoar a voz, mas é difícil encontrar espaço para fazer isso.
A sua família influenciou na decisão entre ser cantora e médica?
Não. Os meus pais fazem as suas sugestões, mas apoiam e respeitam as minhas decisões.
Que dificuldades teve para lançar o seu primeiro álbum?
Quase nenhuma, uma vez que o Beto Max (na altura meu produtor), cuidava de tudo (risos). Era tudo muito novo para mim.
O que falta para haver mais músicos angolanos reconhecidos internacionalmente?
Falta um sector empresarial forte no entretenimento, que entenda que a música também é um negócio que pode ser muito rentável, de acordo com grau de investimento e com o potencial do produto apresentado.
Sente que o número de fãs reduziu após a ausência dos palcos?
É uma pergunta difícil de responder, porque eu não sei como comparar. Mas os que foram voltarão (risos).
O que é mais difícil: ter reconhecimento dos fãs ou de organizadores de eventos?
É mais difícil ter o reconhecimento dos fãs, pois tens que os tocar de alguma forma e eles, por sua vez, são capazes de ‘obrigar’ um organizador de eventos a reconhecer o teu potencial.
Que desafios teve ao interpretar a música ‘Filha de Deus’?
Foi uma música difícil de interpretar, pois o tema em si fugia um pouco daquilo que eu estava acostumada a cantar. Mas sinto um prazer enorme sempre que canto essa música.
A música ‘Tua’ é dedicada a alguém em especial?
É sim. Aos meus fãs.
Quais são as suas referências musicais?
Actualmente, nenhuma. Oiço de tudo um pouco.
Como avalia o contexto sociopolítico que Angola atravessa (cenário eleitoral)?
Penso que é a reafirmação de que temos realmente um Estado democrático e de direito. Teremos a oportunidade de escolher quem vai liderar os nossos destinos nos próximos cinco anos, portanto, é um momento de reflexão, para que possamos fazer a melhor escolha.
Que papel os músicos podem desempenhar para a consciencialização da sociedade diante desta realidade?
Os músicos, assim como outras figuras que gozam de alguma visibilidade, tais como desportistas, por exemplo, são vistos como modelos a seguir, principalmente pelos mais jovens. Devemos usar essa visibilidade para melhorar a nossa sociedade, através dos nossos próprios exemplos.
E as mulheres, em particular, têm uma palavra a dar?
Com certeza! As mulheres têm o poder de moldar a sociedade, de acordo com a educação que oferecem aos seus filhos.
PERFIL
Nome completo: Erica Judite Pimentel Nelumba
Data de Nascimento: 19 de Maio de 1983
Naturalidade: Luanda Estado
Civil: divorciada
Filhos: nenhum
Cor: branca
Um músico: Michael Jackson
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