“A música também está em crise”
MÚSICA. Nas vésperas de lançar o primeiro álbum ‘Entrega Total’, Helga Fêty projecta criar um lar infantil, para formação de crianças nos mais variados ramos das ciências. Em 2016, viu-se envolvida num caso de burla, com oficiais do exército, sobre um terreno, que garante ser seu. Alerta que seja valorizada a cultura nacional. Além de cantora, é actriz com participações em novelas, como ‘Reviravolta’, ‘Caminhos Cruzados’ e ‘Vidas Ocultas’.
Mais do que preparar o primeiro álbum, em que trabalhos esteve envolvida?
Depois de quase 20 anos de tanta luta, consegui fechar o primeiro álbum de originais. Se tudo der certo, ainda este ano, fazemos o lançamento do álbum ‘Entrega Total’. Lancei apenas um ‘single’ especial solidário, com três faixas que troquei por alimentos não perecíveis, material didáctico e brinquedos a favor do hospital ‘David Bernardino’ e do Lar infantil Horizonte Azul. Trabalho há 12 anos para o Estado angolano como ‘Analista de Sistemas e Administradora de Base de Dados’.
Ausentou-se por questões de saúde…
Estive ausente por conta de um acidente que resultou numa fractura, tive de ser submetida a duas intervenções cirúrgicas à minha perna esquerda para recuperar e tive de fazer muita fisioterapia e ainda faço.
As músicas têm preservado a cultura nacional?
Sinto que também está em crise e precisamos urgentemente de mudar o quadro, porque, se não valorizarmos mais os nossos fazedores de cultura e se não dermos mais dignidade, corremos o risco de os perder. Temos de admitir a importância de todos os profissionais no desenvolvimento do nosso país e a cultura potencializa o turismo e a nossa economia com a industrialização do entretenimento e serve de cartão-postal de uma nação.
Toda a música valoriza a cultura? E de que forma deve contribuir para a valorização da cultura?
Procurar composições com temas mais assertivos e dentro da nossa realidade cultural, a arte é livre, mas, se o fizermos sempre com um sentimento de cidadania, podemos aproveitar para dar voz às questões sociais através da nossa arte assim como faziam os N’gola Ritmos e outras referências importantes da nossa cultura.
Há preferidos ou cada um deve conquistar o seu público com trabalho e talento?
Temos de respeitar o tempo de todos e conquistar de forma honesta e com trabalho o nosso lugar. Não basta talento. É preciso ter muito trabalho, foco, fé, humildade e dignidade.
Todos os dias há relatos de violações a menores. De que forma os artistas podem intervir?
Usar as nossa imagem para sensibilizar e passar mensagens assertivas.
Os jovens mostram uma conduta menos boa. O que deve ser feito?
Melhorar as condições do povo, diminuir as assimetrias sociais que aumentam o analfabetismo, a prostituição, o uso de estupefacientes e álcool, a proliferação de DTS e de outros transtornos psicológicos na nossa população, etc.
Há alguns meses esteve envolvida num caso de ocupação de terrenos ilegais, no caso, de um terreno. Como ficou a situação?
Levei a tribunal, estou no terceiro advogado e, mesmo assim, o processo não andou, fui chamada depois de dois anos e, até então, parece ter sido arquivado ou esquecido apesar da minha constante busca pela justiça. Tenho noção de que é um caso muito comum em Angola, pessoas usarem o poder que têm para intimidar e usurpar o bem do próximo.
Como está a sua agenda, para os casos de solidariedade?
Anualmente, fazemos o natal solidário com a comunidade do Kikuxi, semestralmente recolho com a família e amigos donativos para as comunidades do Huambo, Bengo, entre outras. Sou madrinha do lar de acolhimento infantil ‘Horizonte Azul’ e, quando posso, abraço causas de filantropia a favor de outros lares e do hospital pediátrico de Luanda ‘David Bernardino’. Entreguei tudo o que foi arrecadado com o single especial solidário do qual saíram os temas ‘Maravilhoso’, ‘Porquê que acabou’ e ‘C’est mói’.
É de uma família das artistas Selda e da Eva Rap Diva. Que outros artistas há na família e de onde vem a inspiração?
A Selda é minha prima por parte do pai dela e do meu, a Eva é prima da Selda por parte da mãe dela, mas sentimo-nos todas primas e tenho um grande orgulho nelas pelo seu percurso. O meu avô e o meu tio Neco gostavam de tocar guitarra, tenho quatro tios arquitectos e desenham muito bem. O meu pai é escritor, sinto que isso e ter sido colocada muito nova pelos meus pais a fazer ballet, canto e teatro, de certa forma, influenciaram-me, embora sinta que sempre tive tendência para as artes e muito cedo já dizia que seria artista.
Ainda veremos a Helga na dramaturgia nacional?
Representarei apenas nos meus vídeos ou em projectos de pouca duração como filmes, peças teatrais. Assumi muitos compromissos e ainda tenho o meu lado familiar tenho de me dividir e ainda reservar tempo de qualidade para a família.
Perfil
Helga Fêty (Helga Gomes), de 35 anos, natural do Huambo, casada e com três filhos, tem gravado o single ‘Especial Solidário’ e está a programar o lançamento do álbum ‘Entrega Total’, para Dezembro. Tenciona internacionalizar a carreira e ter o um Lar Infantil, que permita formar crianças nos ramos que se maior urgência como a Medicina, Pedagogia, Agronomia, Veterinária, Construção Civil, Artes, Tecnologia e Gestão. Participou em várias novelas angolanas como ‘Reviravolta’, ‘Caminhos Cruzados’ e ‘Vidas Ocultas’.
BCI fica com edifício do Big One por ordem do Tribunal de...