“A requalificação de monumentos descaracteriza a nossa história”
PATRIMÓNIO CULTURAL. Chefe de departamento do Instituto Nacional do Património Cultural (INPC), Emanuel Caboco, em entrevista ao VE, admitiu que muitos edifícios históricos estão em avançado estado de degradação e carecem de intervenção urgente. E alertou que uma requalificação dos monumentos pode descaracterizar a história do país.
Qual é o número de bens históricos e culturais classificados em Angola?
Estão classificados, como Património Histórico e Cultural, 264 bens.
De que tipologia são?
De variada tipologia. Além do património edificado ou arquitectónico, composto pelos monumentos de arquitectura civil, militar, religioso, funerário e industrial, estão classificados vários conjuntos urbanos, centros históricos, sítios históricos e arqueológicos, bem como paisagens culturais.
Qual é a importância da sua classificação?
A classificação é uma medida de carácter jurídico e administrativo. Torna-se importante na medida em que visa assegurar e salvaguardar os bens culturais. E esse acto é tomado independentemente da sua natureza, idade, localização ou propriedade do bem. Quanto aos critérios, são vários, assentam sobre dois pilares fundamentais: a avaliação do carácter histórico, artístico e estético-estrutural e a avaliação das qualidades de autenticidade e de integridade dos bens.
Quem os classifica?
Os bens são identificados e inventariados pelos órgãos da Administração Local do Estado. Depois do inventário, o bem é documentado. A classificação só ocorre depois de publicado no Diário da República.
E como um património nacional passa a mundial?
A análise de qualquer bem para o seu reconhecimento como Património Mundial passa pela observação do seu Valor Universal Excepcional, que é definido pelos dez critérios em vigor na Convenção da UNESCO de 1972. Mas o primeiro requisito é a inclusão do bem na Lista Indicativa do país junto da UNESCO.
O que difere o monumento natural do património cultural histórico?
Os sítios naturais são caracterizados pela paisagem natural com uma importância ou beleza natural extraordinária ou que seja ainda resultado das obras combinadas entre o homem e a natureza. Já um sítio histórico-cultural pode ser distinguido pela qualidade de testemunho histórico ou cultural do homem correspondente à sua homogeneidade e interesse do ponto de vista histórico ou factual, científico e lendário.
Que importância tem um património cultural para o país?
Para conhecermos um povo, recorremos, regra geral, à análise quanto aos seus hábitos e costumes, suas manifestações espirituais, seus valores e sua história – o que entendemos hoje como cultura. Muitos edifícios históricos estão degradados.
Que medidas o Ministério da Cultura tem tomado para que sejam requalificados?
Há, na realidade, um número ainda elevado de edifícios de valor patrimonial bastante degradados. Os constrangimentos orçamentais obrigaram o Estado a uma racionalização dos investimentos. Sendo assim, registou-se uma desaceleração na recuperação. Contudo, já foi possível implementar uma recuperação ao património. Por exemplo, o edifício da escola Mutu ya Kevela, o Palácio de Ferro, as Ruínas históricas de Cambambe, a Fortaleza de São Miguel, o Palácio das Telecomunicações e muitas outras edificações acabaram por beneficiar de obras de revalorização patrimonial.
Que monumentos são considerados prioridade em termos de intervenção?
Estamos preocupados com a situação das outras duas fortalezas de Luanda, nomeadamente, o Forte de São Pedro da Barra e o Forte do Penedo (antiga casa de reclusão); o Forte da Katumbela, do Forte de São Fernando, no Namibe, os monumentos de Masangano, e várias outras edificações.
A restauração de monumentos não desvirtua a história?
Sim, a requalificação de monumentos históricos descaracteriza a nossa história. Cada vez mais, os monumentos históricos mal intervencionados acabam por ofuscar a paisagem básica das nossas cidades. Estas acabam por desvirtuar a fisionomia da paisagem urbana e histórica das nossas cidades.
E do ponto de vista da sensibilização, o que tem sido feito?
O acesso à informação sobre o património é feito de diversas formas: pela escola, pela administração pública mas também pelos órgãos de comunicação social. Considero que a visão do INPC, que tem como objectivo a preservação do património, fica limitada pelo olhar do técnico que nem sempre coincide com o olhar do educador. Se a educação patrimonial consiste na construção de uma ideologia, apologia ou atitude preservacionista, entendemos que também devia ser revisto o papel da imprensa e da escola.
PATRIMÓNIO CULTURAL HISTÓRICO
Igreja Nossa Sr.ª da Muxima, Bengo
Fortaleza da Muxima, Bengo
Igreja Nossa S.ª do Pópulo, Benguela
Jardim da Pouca-Vergonha, Bié
Igreja de Tchiowa, Cabinda
Foz do Rio Chiloango, Cabinda
Memorial do Rei Mandume, Cunene
Morro do Moco, Huambo
Fendas de Tundavala, Huíla
Palácio do Governo Provincial, Kuando-Kubango
Forte de Massangano, Kwanza-Norte
Ruínas Fortaleza Kibala, Kwanza-Sul
Hospital Josina Machel, Luanda
Museu do Dundo, Lunda-Norte
Governo da Lunda-Sul
Sé Catedral, Malanje
Jardim do Palácio do Governador, Moxico
Pedra do Feitiço, Zaire
Museu de Antropologia, Luanda
Palácio de Ferro, Luanda
Igreja Do Carmo, Luanda
Igreja Nossa Sr.ª Nazaré, Luanda
Igreja Nossa Sr.ª dos Remédios, Luanda
Igreja Nossa Sr.ª do Carmo, Luanda
Palácio D. Ana Joaquina, Luanda
Museu de História Natural, Luanda
Museu Nacional de Antropologia, Luanda
Museu da Escravatura, Luanda
Fortaleza de S. Miguel, Luanda
Banco Nacional de Angola, Luanda
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