PRODUÇÃO INDUSTRIAL

AIPPA quer ver Governo a obrigar importadores a apoiarem nacionais

23 Feb. 2022 Economia / Política

INDÚSTRIA. Líder dos panificadores denuncia tratamento “discriminatório” dispensado a empresários pelo Governo e volta a apontar o dedo contra os “cartéis que levam tudo e não deixam nada”, precisando que a importação é protegida porque rende comissões.

AIPPA quer ver Governo a obrigar importadores a apoiarem nacionais

 A entrada em funcionamento de duas fábricas do grupo Carrinho em Benguela foi elogiada pelo presidente da Associação das Indústrias de Panificação e Pastelaria de Angola (Aippa), Gilberto Simão, para quem as unidades “alavancam a produção interna”.

Gilberto Simão critica, no entanto, o alegado tratamento discriminatório dado aos empresários, argumentando que uns são “filhos de pai e outros não”. “Enquanto não houver uma medida do Governo de apoiar e proteger a produção interna, as coisas não poderão funcionar”, observa, precisando que os apoios ao Grupo Carrinho devem ser extensivos aos empresários que demonstrem competência. “Além disso, é necessário impor aos importadores a regra de alocar uma parte do dinheiro à produção nacional”, sugere.

O responsável da Aippa nota que a associação não é contra a importação, mas “contra os cartéis que levam tudo e não deixam nada”, manifestando-se “agastado” com o facto de, por exemplo, as importações de trigo para as três moageiras do país custarem 300 milhões de dólares anuais. “Não sobra nada para incentivar os produtores do trigo, como o empresário Vinevala, que, muitas vezes, tem produto mas não é comprado, quando o dinheiro que vai para a mão do importador é do Governo”, contesta. “Se o Governo decidisse que, dos 300 milhões de dólares da importação, 20% ou mesmo 30% devem ser subtraídos para impulsionar o cultivo local, estaríamos, desta forma, a implementar o Prodesi”, calcula, ressaltando que “o problema é a falta de vontade política, já que as importações feitas desta forma sem travão rendem comissões”.

CARRINHO À FRENTE

Dizendo-se preocupado com a problemática da matéria-prima, o director executivo do Complexo Industrial Carrinho (CIC), Décio Catarro, especificou que os técnicos da Carrinho Agri já estão no campo a fazer o cadastramento de famílias para fomentar a produção agrícola, com o objectivo de reduzir a importação e, dentro de um ano, ter também fornecedores nacionais.

A refinaria de óleo vegetal e a fábrica de ração animal do CIC já estavam prontas desde 2019, carecendo apenas da montagem das linhas de produção por especialistas estrangeiros, entretanto, travados pela pandemia.

A refinaria está a produzir com óleo cru importado e a engarrafar o produto em embalagens de 250ml, 500ml, um, três e cinco litros, colocado em caixas de cartão. Conta com uma capacidade diária de 400 toneladas, numa primeira fase, e pode duplicar a produção, com a entrada da segunda linha no próximo mês de Maio.

Quanto à fábrica de ração animal, de acordo ainda com Délcio Catarro, está a transformar e a embalar farinha granulada e migalhada, em sacos de 30 quilos, bigbags de 100 kg ou a granel.

O ministro da Indústria e Comércio, Victor Fernandes, e o governador de Benguela, Luís Nunes, presenciaram o arranque destas unidades industriais às quais se vão juntar a unidade de extracção de óleo de girassol e de soja e a refinaria de açúcar, cuja inauguração está prevista para dentro de 18 a 20 meses.

Com a inauguração das duas unidades fabris, o CIC garante mais 320 novos postos de trabalho. Localizado no bairro da Taka, em Benguela, o complexo conta já com 17 fábricas, nomeadamente moageiras de trigo, fuba e a fábrica de descasque de arroz, polimento, branqueamento e classificação e embalamento de produtos transformados como bolachas e cereais, num investimento inicial de 600 milhões de dólares.