Angola arrisca ficar em recessão económica até 2023
O departamento de estudos económicos do Standard Bank considera que Angola deverá manter-se em recessão este e no próximo ano, podendo prolongar o crescimento negativo até 2023, essencialmente devido à pandemia de covid-19 e ao petróleo barato.
"Na nossa previsão base vemos a recessão a continuar neste e no próximo ano já que a recuperação das exportações não compensa o impacto negativo da queda da despesa pública, do baixo consumo privado, do aperto orçamental e do reduzido investimento privado", escrevem os analistas do Standard Bank.
No mais recente relatório sobre algumas economias africanas a que a Lusa teve acesso, os analistas escrevem que, "devido quer à covid-19, quer ao petróleo barato, a economia só escapará temporariamente à recessão em 2022, mas o risco de manter-se em crescimento negativo dura até 2023".
A previsão central do Standard Bank aponta para uma queda de 4,8% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano e de 3,1% no próximo, a juntar às sucessivas contracções económicas desde 2016, e coloca o preço do petróleo nos 31,3 dólares por barril este ano e 31,8 dólares em 2021, "significativamente mais baixo que os 35 dólares assumidos na revisão do Orçamento do Estado, que inicialmente estimava o preço em 55 dólares por barril".
A queda do valor do petróleo, que representa mais de 90% das exportações de Angola e vale 65% das receitas fiscais do país, reduz de forma muito expressiva o encaixe financeiro esperado nos cofres das Finanças.
"A conta corrente da balança de pagamentos deverá registar um défice de 9,2 mil milhões de dólares, representando 13,3% do PIB, já que a queda dos preços do petróleo fará as exportações valerem 16,7 mil milhões de dólares, o que compara com 34,7 mil milhões de dólares no ano passado", lê-se no relatório.
O documento prevê um défice orçamental de 2,1% e 2,6% do PIB neste e no próximo ano, obrigando o Governo a recorrer a 1,5 mil milhões de dólares do Fundo Soberano, que ainda assim são insuficientes.
"Tentar emitir títulos de dívida soberana em moeda estrangeira [Eurobonds] e procurar reestruturar a dívida soberana à China serão iniciativas provavelmente a ser consideradas", aponta-se na análise, que alerta que "o valor total dos juros pode chegar a valer 40% das receitas", num contexto em que o rácio do serviço da dívida (amortizações mais pagamentos) face ao PIB subiu de 91% em 2019 para 113% este ano".
Assim, apontam, a magnitude dos desafios orçamentais "vai provavelmente obrigar Angola a procurar financiamento externo, que pode vir na forma de uma emissão anual de 3.000 milhões de dólares em Eurobonds e uma reestruturação da dívida bilateral com a China", mas, concluem os analistas, "ambas as opções são desafiantes".
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...