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Angola não tem mais de cem palancas

CAÇA FURTIVA. O director-executivo da Fundação Kissama, Vladimir Russo, afirma que o número de palancas negras gigantes não ultrapassa uma centena e que por falta de protecção os rinocerontes já terão desaparecido definitivamente de Angola.

 

A povoação de palancas negras gigantes está cada vez mais reduzida. A espécie que só habita em Angola, concretamente em Malange, não ultrapassa os 100 animais que engrossam a lista dos em via de extinção. De acordo com o director-executivo da Fundação Kissama, Vladimir Russo, se não se tomarem medidas de protecção urgentes, a espécie que é um dos principais símbolos de Angola, pode desaparecer.

Vladimir Russo avançou que julga que os rinocerontes já estarão definitivamente extintos do território nacional e que outros que também estão muito próximos de desaparecer da fauna angolana são os leões, chitas, chimpanzés, gorilas, elefantes, manatins africanos, hipopótamos e as tartarugas marinhas.

“A caça acontece um pouco por toda Angola”, explicou o especialista da Fundação Kissama, que acrescenta que “há cerca de dez anos era uma actividade com maior impacto nas regiões Norte e Centro, mas agora está espalhada por todo o território nacional”. A coberto da caça para subsistência, segundo Russo, animais são abatidos de forma incessante e em muitos casos dentro de áreas protegidas e com recurso a métodos ilegais como o uso de armas de guerra, queimadas e armadilhas de laço. “Não há uma escolha preferencial, pois não existe caça para troféus e a caça para artefactos ainda é reduzida, mas com tendência para aumentar.”

O ambientalista lamentou que o país, apesar de ser um dos mais ricos em África, em termos de biodiversidade, não disponha de informações e projectos de investigação suficientes sobre este potencial da natureza, principalmente da flora e dos insectos. Não avançou o número total de fiscais, mas acredita que o Estado não deverá ter mais de 250 efectivos. Também não há informações estatísticas de quantos animais são anualmente abatidos em Angola. Não há ainda emissão de licença de caça que permita estimar o número de animais mortos.

Melhorar as condições de trabalho e salariais dos fiscais, incluindo formação profissional periódica, é uma das medidas para inverter a situação da vida animal selvagem, apontadas pelo entrevistado. “Há determinadas regras que devem ser respeitadas por quem vive da caça de subsistência, nomeadamente evitar caçar crias e fêmeas prenhas, assim como espécies em perigo de extinção ou criticamente ameaçadas.”

Vladimir Russo, que lembrou que grande parte da legislação relacionada com a vida selvagem é ainda do tempo colonial, entende que deve ser aprovada uma legislação adicional que tipifique a caça furtiva como sendo crime contra o meio ambiente. Por outro lado, reforça o entrevistado, há necessidade de uma melhor estratégia de combate à caça ilegal que passa por processos de educação ambiental e promoção de oportunidades de emprego para as pessoas que se dedicam à caça. “O turismo, por exemplo, pode ser uma dessas soluções de emprego”, sugeriu.

Tráfico de marfim

Um projecto denominado ‘Stop Ivory’ foi posto em marcha desde Janeiro pelo Ministério do Ambiente, com o objectivo de combater o tráfico de marfim e o abate ilegal de elefantes em Angola nos países vizinhos. O plano governamental visa também reforçar a fiscalização nos aeroportos e nas fronteiras terrestes e vai contar com o apoio dos governos dos países envolvidos.

De acordo com o director nacional da biodiversidade, Joaquim Manuel, o Governo pretende elaborar, em breve, um inventário do marfim em Angola, que inclui os pontos de comercialização. Segundo dados da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagens em Perigo de Extinção (CITES), Angola é um dos três países do mundo que preocupa a comunidade internacional por estar a servir de trânsito intercontinental para o comércio ilegal de marfim em grande escala.