“Apontei várias irregularidades na Sonangol ao então candidato a PR João Lourenço e ao Bureau Político do MPLA”
Na semana em que ficou conhecida a acusação do Ministério Público contra Isabel dos Santos, a empresária reagiu, em exclusivo à Rádio Essencial, para a explicar o que considera de “farsa” contra si, montada por motivações políticas. Isabel dos Santos revela que que a cúpula do MPLA e, particularmente o Presidente João Lourenço, foram informados de gestão danosa na Sonangol que, só em terraplanagem e refeições gastou cerca de 1,6 mil milhões de dólares na Refinaria do Lobito. A empresária conta que ela e a sua empresa foram contratadas pelo Estado angolano, por determinação de Edeltrudes Costa, actual director de gabinete de João Lourenço e lamenta que as autoridades portuguesas só cumpram as instruções e ordens que recebem do poder angolano.
Ministério Público já deduziu o despacho de acusação contra si. É acusada de 11 crimes no processo que envolve a sua gestão na Sonangol entre 2016 e 2017. No despacho de acusação, Isabel dos Santos é acusada de crimes de peculato, burla qualificada, abuso de poder, abuso de confiança, falsificação de documentos, associação criminosa, participação económica em negócio, tráfico de influências, branqueamento de capitais, fraude fiscal e fraude fiscal qualificada. Como é que avalia este este despacho de acusação?
Imagino que haja dúvidas emuita curiosidade em relação a este assunto e, sobretudo, o porquê e agora é que vem o poder Executivo e a Procuradoria-Geral da República fazerem uma acusação, quase cinco anos mais tarde. Saí da gestão da Sonangol em 2017. Porque é que vêm agora cinco anos mais tarde, fazer uma acusação sobre a gestão danosa da Sonangol? Há pessoas que me conhecem, é verdade, mas também há muitos ouvintes que apenas ouviram falar de mim e que não me conhecem, sobretudo não conhecem o meu passado e não conhecem a minha experiência profissional. Sou engenheira de formação. Comecei a trabalhar muito jovem. Enveredei para o sector privado, onde comecei a criar as minhas empresas ainda nos anos 1990. Algumas das minhas empresas conseguiram ter algum sucesso e tornaram-se empresas conhecidas em Angola, como a Unitel, a Zap, Candando, o banco BIC, por exemplo, onde empregámos muitos jovens e prezamos sempre pela formação. Em função disso, desta experiência empresarial de mais de duas décadas, que levo comigo, em 2015 fui convidada pelo Ministério das Finanças, mais concretamente pelo Dr. Armando Manuel, para preparar uma estratégia e uma visão sobre o sector petrolífero. Ou seja, como é que o sector dos Petróleos em Angola podia se tornar mais eficaz e, sobretudo, como é que a Sonangol podia ser mais rentável. 2015 foi um ano muito complicado. O preço do petróleo tinha baixado muito e havia muitas dificuldades financeiras. Pela primeira vez, a Sonangol não conseguiu dar durante alguns meses dinheiro ao Ministério das Finanças e ao Estado. E, perante essa situação preocupante, o Ministério das Finanças pediu-me, na qualidade de empresária privada e com conhecimento vasto no ramo dos negócios, se eu poderia fazer uma análise do que poderia ser melhorado. E é assim que sou convidada a ser consultora do Comité de Avaliação do Sector dos Petróleos e da Comissão. Ou seja, sou convidada na qualidade de engenheira Isabel dos Santos e a minha empresa, que é uma consultoria, é contratada. O Estado angolano tomou a decisão de contratar-me a e a minha empresa conjuntamente. Esta decisão de ser contratada não é tomada por mim, mas sim pelo Estado angolano. A comissão era presidida pelo Dr. Edeltrudes da Costa, que ainda está hoje no Governo. Nessa comissão, estava também o ministro dos Petróleos e o governador do Banco Nacional. O ministro era o Botelho de Vasconcelos e o governador do BNA era o Dr. José Pedro de Morais. Estas pessoas trabalharam nesse comité e eu trabalhei como consultora. Quando terminámos o trabalho, apresentámos um relatório e um projecto de como a Sonangol e o sector petrolífero podiam ser melhorados. O trabalho foi pela minha empresa e também houve a subcontratação autorizada pelo Ministério das Finanças, em contrato auditado e aprovado pelo Tribunal de Contas. Fomos autorizados a subcontratar outras empresas de categoria mundial. Não só a minha empresa foi contratada, mas também foram contratadas empresas internacionais: BCG (Boston Consulting Group), a PWC (Price Waterhouse and Coopers) e a VVDA, que é um grande escritório de advogados que prestou muita consultoria a muitas empresas de petróleos em Angola e a Accenture, que também é uma das ‘top 5’ mundiais. Todas essas empresas subcontratadas não eram minhas. Os ministros das Finanças e dos Petróleos, o governador do banco, o Sr. Presidente da República, sobretudo os ministros doutores Edeltrudes Costa tinham conhecimento, uma vez que eu reportava directamente a Edeltrudes Costa. Reportava várias vezes por semana sobre a reestruturação da Sonangol. O projecto foi adaptado pelo Estado angolano por decreto-lei. Foi mudado o sistema de gestão do sector petrolífero e foi aprovada a restruturação da Sonangol.
Pelo trabalho que foi feito por si?
Correcto. Pelo trabalho que foi feito por mim em função do modelo, eu e a minha empresa fomos contratadas pelo Estado. Não fui eu que contratei a minha empresa. Quando a PGR vem dizer que a engenheira Isabel Dos Santos contratou a sua empresa, em conflito... não, senhora! A minha empresa não foi contratada por mim. A minha empresa foi contratada pelo Comité de Avaliação, que era presidido pelo Dr. Edeltrudes da Costa e outros que já citei. Tinha também o Dr. Armando Manuel, na altura ministro das Finanças, que foi substituído, pelo Dr. Archer Mangueira, que também acompanhou esse processo e com quem eu tive várias reuniões e várias audiências.
Toda a gente que está a citar teve conhecimento ou estava a par do que estava a acontecer na reestruturação da Sonangol?
Sim. Tinham. Tanto mais que reportava várias vezes, às vezes semanalmente, às vezes quinzenalmente, enviava relatórios. Ia também a audiências pessoalmente. Muitas vezes, era convocada para audiências por essas pessoas pessoalmente e dava informação completa do que se estava a passar. Sou convidada para mera consultora e o Estado pretendia que as pessoas que tinham feito o projecto também ajudassem a implementar. Eles diziam “os senhores fizeram um projecto, nós gostamos, mas precisamos de ajuda para implementar e como vocês sabem o projecto que desenharam, gostaríamos que continuassem”. Foi assim que fui convidada para ser presidente do conselho de administração da Sonangol. Na altura, dirigia as minhas empresas que já tinham mais de 10 mil ou 20 mil trabalhadores em Angola. E mais empregos indirectos do que estou a dizer.
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