AS RAZÕES DA CONTRADIÇÃO
As dificuldades de compreensão dos aparentes paradoxos no combate à pandemia da covid-19 mantêm-se. Grosso modo, a população continua a interrogar-se sobre a razão de se flexibilizarem as medidas de restrição à actividade económica e social, quando os casos de infecção no país aumentam ao ritmo diário. No ‘Fórum Essencial’, por exemplo, o espaço matinal de opinião dos ouvintes da Rádio Essencial, os questionamentos sobre as contradições das decisões governamentais são diários. O mesmo sucede nas redes sociais, em que as mais diversas opiniões sobre o tema se cruzam nas críticas a um Governo que se limita a imitar as decisões que são tomadas em Portugal pelas autoridades desse país. E a população, nesse quesito particular, não poderia estar mais certa. Tal é a dependência ao caso português que Angola foi obrigada a aprovar às pressas uma lei que permitiu a declaração do estado de calamidade pública esta segunda-feira, seguindo precisamente a indicação que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa haviam antecipado para Portugal.
Excluindo, entretanto, a parte humilhante da imitação – a que se refere às leis – o resto que o Governo vai imitando na gestão da pandemia é perfeitamente compreensível. Porque, em bom rigor, o combate global da covid-19 está a ser feito numa lógica de replicação dos melhores exemplos. Ao mesmo tempo que se condenam os considerados exemplos-a-não-seguir, como é o caso do Brasil, dos Estados Unidos e da Suécia, esta última que terá optado até pela chamada ‘imunidade de rebanho’. A tal prática que consiste na tentativa de imunização natural da população, atingindo o maior número possível num curto espaço de tempo.
Voltando aos paradoxos e porque os editoriais também servem para esclarecimentos, recuperemos parte do editorial do VALOR, de 27 de Abril: “As decisões contraditórias na gestão da crise sanitária explicam o que ainda não sabe sobre a pandemia da covid-19. É o que se passa um pouco por todo o mundo e Angola não é excepção à regra. Nas três etapas já decretadas do estado de emergência, as restrições à actividade económica e social foram sendo desagravadas à medida que os casos confirmados de infecções aumentavam. É um paradoxo com uma explicação aceitável: em certa medida, as autoridades sanitárias começaram a gerir a crise em meio a uma ignorância generalizada. A solução passou por endurecer primeiro para desagravar depois, consoante se foi sabendo mais do comportamento do vírus. É por isso que o Ministério da Saúde começou, por exemplo, por desincentivar o uso das máscaras particularmente por pessoas não infectadas e agora afirma que as máscaras são imprescindíveis. É compreensível, mas é também lamentável que não haja humildade suficiente para se reconhecer isso, que não se sabia. Ao invés disso, muitos preferem mesmo brincar aos heróis”, escrevemos, neste espaço, no mês passado.
E entre finais de Abril e finais deste Maio, não deixaram de surgir vários outros factos que confirmam a ignorância generalizada. Que o diga a própria Organização Mundial da Saúde que, depois de ter alertado para a sobrevivência do vírus em diferentes superfícies, ao longo de dias, veio cá dizer que talvez a coisa não seja bem assim.
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