BAJULADORES DE BORLA
A última capa de 2024 do Valor Económico escolheu João Lourenço como a ‘Personalidade do Ano’ essencialmente por duas razões. A primeira fundou-se na política doméstica. Por cobardia e medo dos dirigentes do MPLA, João Lourenço conseguiu realizar um congresso sem respaldo estatutário, impondo a sua vontade. Mandou expurgar o artigo que lhe retirava a mínima ambição de manter-se na liderança do MPLA, depois de 2026 e cumpriu-se. Foi a sua batalha política do ano e, doa a quem tenha doido, venceu-a. E continuará a soar-lhe a vitória, a menos que o Tribunal Constitucional reclame o respeito que devia merecer e anule o congresso extraordinário do MPLA, por inequívocas violações estatutárias.
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A outra razão ficou explicada com as incertezas geradas com os seus movimentos na política externa. Houve quem dissesse baixinho que João Lourenço foi de tal sorte inábil que conseguiu trazer ao país um Joe Biden tecnicamente na condição de ex-Presidente dos Estados Unidos. Isto mesmo quando todos os ventos sopravam para uma mais do que provável mudança de humores na Casa Branca.
E, se alguma dúvida houvesse, o ‘furacão Trump’ confirma de forma loquaz a confusão em que João Lourenço embrulhou o país. Lançando-se de corpo e alma à subjugação dos Estados Unidos, o Presidente angolano apontou o dedo vezes sem conta à China por ter exigido petróleo como colateral para ceder empréstimos, após o fim da guerra. Não contente, decidiu humilhar a Rússia, classificando o equipamento militar do parceiro de todos os tempos do MPLA praticamente como ferro velho e obsoleto em plena Washington DC. Mas a machadada final ainda estava por vir. Depois de, em Março de 2022, ter optado pela abstenção na condenação da Rússia pela invasão à Ucrânia numa votação nas Nações Unidas, em Outubro do mesmo ano, no mesmo palco e numa outra votação, condenou energicamente o país de Putin.
De passagem por Angola, em Junho de 2023, António Costa, então primeiro-ministro português, elogiou a coragem de João Lourenço. Não podia haver ambiguidades entre agredido e agressor, dizia Costa. O que aparentemente o português não sabia ou ignorou por conveniência é que o voto angolano de desaprovação da Rússia não resultou de vontade e convicção próprias. Fazia antes parte dos custos que Angola tinha de pagar para ver aterrar em Luanda um Presidente que já não era Presidente e que seria a antítese do novo Presidente.
Hoje, atordoado pela devastação do furação Trump, o agora presi dente do Conselho Europeu talvez não tenha cabeça para perguntar-se o que se passou com Angola. Ainda bem que assim é, porque com certeza ninguém no Governo de João Lourenço poderia dar-lhe alguma resposta que dissimulasse o óbvio, sem fazer papel de tolo.
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