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DEPOIS DE FECHAR O ESCRITÓRIO EM LUANDA

Banco do Brasil promete manter financiamento

BANCA. Maior banco brasileiro confirma ao VALOR ter encerrado escritório em Angola devido à necessidade de ter “eficiência operacional”, mas promete manter financiamento a empresas exportadoras e importadoras. Accionistas falam numa estratégia de redução de custos que já fechou filiais em Portugal e em França.

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O conselho de administração do Banco do Brasil (BB) confirma ter abandonado o plano de instalação em Angola, com encerramento, em Novembro do ano passado, do escritório em Luanda, mas garante que as operações de financiamento às empresas exportadoras e importadoras que operam com Angola ficam salvaguardadas, através de outras representações que a instituição tem pelo mundo, sobretudo em África.

A confirmação da retirada de Angola surge quatro meses depois de o VALOR ter noticiado, em exclusivo, em Setembro de 2017, que o banco se preparava para encerrar escritório de representação no país. Facto que viria a acontecer em Novembro.

No período, o maior banco brasileiro, detentor de 447 mil milhões de dólares em activos, tinha já rescindido contrato com vários trabalhadores e com o arrendamento da residência oficial em Luanda. Porém, nunca tinham explicado as razões oficialmente.

Através de um ‘e-mail’ enviado ao VALOR, o banco justifica a retirada com razões de “eficiência operacional” e com um plano de redução de custos em todos os países onde a entidade tem operações ou representação.

“O Banco do Brasil revê permanentemente a sua rede de pontos de atendimento no Brasil e no exterior, a fim de buscar eficiência operacional e adequar os canais de atendimento às demandas dos seus clientes”, justifica o conselho de administração, sem precisar, no entanto, o desempenho do banco que mantinha um escritório em Luanda desde 2003.

FINANCIAMENTO GARANTIDO

O conselho de administração do BB garante manter as operações de financiamento: “O encerramento do escritório em Angola não interfere na assistência às empresas importadoras e exportadoras que actuam no fluxo comercial entre o Brasil e África”.

“Por meio de outras unidades de negócios em todo o mundo e das mais de 800 instituições parceiras, o Banco do Brasil continua a actuar no continente africano e mantém o papel de principal agente financiador do comércio exterior brasileiro”, garante o banco.

CORTES POR TODO MUNDO

Angola não é o único país que vê os brasileiros do BB fecharem portas. Em Portugal e em França, o banco decidiu igualmente encerrar todas as sucursais, mantendo “apenas operações com empresas e investidores institucionais, além dos clientes de altíssima renda, do segmento ‘private’”, medida justificada pelas mesmas razões e no mesmo período da retirada do banco em Luanda. “Por questões de governança e rentabilidade ao accionista, vamos concentrar os esforços nas operações com pessoas jurídicas nesses países, especialmente às voltadas ao comércio exterior”, assegurou António Maurano, vice-presidente de negócios grossistas do BB, citado pela imprensa especializada brasileira, quando anunciava, em Setembro do ano passado, os cortes pelo mundo.

Segundo dados da entidade, o BB actuava em 23 países. O plano do banco é manter o atendimento a retalho na Ásia, onde possui mais 100 mil contas, e nos Estados Unidos. “Fora disso, não faz sentido ter uma operação que não seja de ‘private banking’”, considerou Márcio Moral, outro quadro sénior do banco para a área de banca grossista.

RESTRIÇÃO NA OPERAÇÃO

Do plano de contenção de custos no estrangeiro e restrições nas operações, o banco anunciou, no final do ano passado, a redução para a metade das operações de crédito no exterior a concentração nos negócios no país. A carteira de crédito externa da instituição encerrou o primeiro semestre com 14 mil milhões de dólares, um corte de 12,4% face ao mesmo período do ano passado. “Reduzimos bastante o apetite em operações directas e optámos por fomentar o comércio exterior brasileiro e investimentos”, afirmou António Maurano, ao fazer o balanço de 2017.

Fundado em 1808, o banco é controlado maioritariamente pelo tesouro nacional brasileiro, com 50,7% do capital, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do BB, possui 9,2% do capital e os demais 40% estão nas mãos de investidores na bolsa. De Janeiro a Setembro do ano passado, o banco registou um lucro líquido de 2,5 mil milhões de dólares, um crescimento de 11,8% em relação ao mesmo período de 2016. Em Setembro, o banco possuía uma rede com 4.885 agências e 2.117 postos de atendimento.