Bancos entram no 3.º ano sem dólares
BANCA. Entidades confirmam que continuam bloqueados os canais para importação da nota verde, mesmo depois de várias reformas impostas pelo regulador. Hoje, só se ‘safam’ entidades com gabinetes de operações no estrangeiro e os enraizados no estrangeiro. Mas só funciona para pagamentos lá fora. Dólar entra, mas só com petróleo.
O mapa consolidado de divisas do Banco Nacional de Angola (BNA) não regista vendas regulares de dólares, nos leilões oficiais, desde finais de 2015, completando assim dois anos e meio que essa divisa não circula nas operações da banca e demais entidades financeiras.
Várias fontes bancárias consultadas pelo VALOR garantiram que persistem as dificuldades em matéria de importação ou mesmo de compra, no mercado interno, do dólar dos Estados Unidos, moeda que foi substituída pelo euro, nos leilões de divisas.
Dezembro de 2015 foi a última vez que o banco central fechou um leilão completo em dólar (ver gráfico). Para todo o ano, foram colocados, no mercado cambial, 17,4 mil milhões de dólares, o maior volume de divisas desde então.
No ano seguinte, o banco central fez uma venda tímida de 832 milhões de dólares, numa sequência irregular. Ou seja, depois de ter despachado os 822,4 milhões entre Janeiro e Maio, o BNA só voltou a autorizar mais um leilão de 9,5 milhões, em Outubro, a última venda do período.
De lá para cá, e após várias reformas introduzidas nos consulados dos três últimos governadores do banco central, as operações em moeda estrangeira passaram a ser realizadas apenas em euros. Já o dólar, só circulava (e circula) no mercado paralelo, sob forte controlo das autoridades.
O VALOR sabe, no entanto, que, pelo menos, três bancos mantêm operações marginais em dólar, graças aos seus gabinetes de operações no estrangeiro, ou através de contas que mantêm domiciliadas em bancos estrangeiros. São os casos dos bancos Angolano de Investimento (BAI), o de Fomento e Angola (BFA) e o Standard Bank Angola (SBA).
O BAI tem representação internacional através do BAI Europa, em Portugal, e do BAI Cabo Verde, no país com o mesmo nome, além de outras parcerias que asseguram o negócio BAI em São Tomé e Príncipe. Segundo um alto quadro da sua administração, é por esta via que o banco desenvolve operações em dólares.
“Temos contas em dólares e trabalhamos com correspondentes, essencialmente para pagamentos de mercadorias. As importações de mercadorias são pagas em dólares. Não há restrições nesse quesito. O que não importamos é dólar. Não houve melhoria nesse capítulo”, disse a fonte de um dos integrantes do ‘top 5’ da banca comercial angolana.
Também o BFA, através da sua ‘casa-mãe’ – o luso Banco Privado de Investimento – e demais parcerias mantém operações e contas abertas em dólar no estrangeiro. É o mesmo que sucede com a filial angolana do gigante sul-africano Standard Bank.
DE ONDE SAI O DÓLAR
Enquanto os bancos se debatem com a falta do dólar, nas ruas de Luanda sempre houve dólares. Reportagens do VALOR confirmaram isso, com o bairro Mártires do Kifangondo, Cassequel e Hoji-Ya-Henda como epicentro das operações paralelas do dólar.
Há, entretanto, um grupo de gestores que garante que há dólar a entrar no país. O que também deixam claro é que os recursos são cada vez mais escassos. Aliás, fonte do Standard Bank Angola assegura que, neste momento, a indústria petrolífera é a que que mais tem captado recursos em dólar, através das companhias petrolíferas e dos barris de petróleos vendidos por Angola.
Aliás, sempre foi o petróleo o maior captador de recursos em moeda estrangeira. Este potencial começou a diminuir no fim do primeiro semestre de 2014, precisamente em Junho, quando o barril de crude despencou dos 112.94 dólares para os actuais 77.68 dólares (preço de quinta-feira, 28/6), depois de já se ter situado abaixo dos 50 dólares.
REFORMAS DE RESGATE
O desaparecimento do dólar dos leilões oficiais de divisas obrigou o banco central a ensaiar um conjunto de medidas para o resgate de bancos correspondentes que intermediavam na venda do dólar para Angola. Essas operações ficaram suspensas pelo regulador norte-americano que alegadamente apontou suspeitas de lavagem de dinheiro nas operações financeiras angolanas.
Com o Valter Filipe à frente do governo do BNA, iniciou uma campanha de visitas a entidades congêneres com vista a captar melhores práticas de gestão e de supervisão bancária. Esse responsável que antecede a José Massano no banco central visitou os Estados Unidos, França, Portugal, Itália e Inglaterra. O périplo incluiu a África do Sul.
Ao VALOR, gestores bancários garantem que nem isso mesmo minimizou as pressões sobre as divisas, vindas das pequenas e médias empresas e até de particulares. Situação que ajudou na corrosão das reservas internacionais líquidas do país, hoje situadas nos 12,9 mil milhões de dólares.
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