BCI priva dividendos por mais três anos
BANCA. Sonangol, TAAG, ENSA e outros accionistas vão esperar mais três anos para verem retorno do BCI. PCA da entidade justifica medida com prejuízos acumulados. Maioria das empresas não injectou fundos no banco quando necessário. Antes dos lucros, banco tinha “má imagem”, contabilidade duvidosa e levou sete reservas de auditores.
Os accionistas do Banco de Comércio e Indústria (BCI) não vão receber dividendos dos lucros recolhidos em 2017 e dos anos subsequentes até a entidade apagar dos registos contabilísticos os prejuízos acumulados dos anos anteriores, medida que deve durar três anos.
A estratégia surge pela necessidade de o banco limpar dos históricos as perdas registadas entre 2012 e 2015. Já os exercícios financeiros de 2016 e 2017 foram os melhores da história recente do banco e da gestão de Filomeno Ceita que lidera a instituição desde finais de 2011. Em 2016, o banco registou lucros de 302 milhões de kwanzas e, em 2017, de 663 milhões (ver gráficos).
“Não podemos dar destino nenhum [dos dividendos] enquanto não tivermos ultrapassado as perdas anteriores. Essa é a regra contabilística. Os accionistas não beneficiaram. Temos empresas públicas entre os accionistas. Nenhuma beneficiou porque já temos prejuízos anteriores”, revelou, ao VALOR, o presidente do conselho de administração, Filomeno Ceita. “Três anos é perfeitamente suficiente”, estimou o gestor à margem de uma conferência de imprensa, para saudar o 27º aniversário do BCI.
Segundo Filomeno Ceita, não haverá uma divisão imediata dos dividendos também porque “uma boa parte dos accionistas está em dívida, porque não capitalizou quando devia capitalizar”. “Quando tivermos essa situação mais ou menos limpa, temos de fazer essas contas”, garantiu Ceitas, para quem a maioria dos accionistas “não tem uma saúde financeira por aí além”.
Até Dezembro passado, integravam a estrutura accionista do BCI o Estado, com 93,60%, o Porto de Luanda, a Sonangol, a TAAG e a ENSA, estas três últimas com 1,3%. Do grupo, estão ainda a Cerval (0,45%), Angola Telecom (0,45%), Endiama (0,45%), TCUL (0,45%) e a Bolama (0,08%).
PASSADO DE “MÁ IMAGEM” …
Dados apresentados pelo conselho de administração mostram que, em 2012, que foi o primeiro ano completo de liderança de Ceita, a entidade tinha “contabilidade muito pouco credível”, “má imagem” e “grande desmotivação no seio dos trabalhadores”. Havia também “milhões de dólares por regularizar”, estimando-se em cerca de 50 milhões. O relatório faz ainda referência à “prática regular de refinanciamentos administrativos”.
Só em 2012, o banco do Estado já tinha levado sete notas negativas dos auditores independentes. Este número baixou para zero até ao final de 2017, depois de se ter situado nas duas reservas e uma, em 2015 e 2016, respectivamente.
Entram ainda no ‘currículo’ de Ceita a gestão do programa de crédito do Governo ‘Projovem’, gerido pelo BCI. Desde que foi instituído, o banco já financiou cerca de 3,9 mil milhões de kwanzas, para 276 projectos aprovados. O número inicial de projectos era 1.373, dos quais 701 ficaram pendentes.
Da agenda de Ceita no BCI, constam a retoma de programas do Governo que ficaram paralisados, pagamento de dívida dos clientes junto de instituições públicas; o aumento de parceria com o Estado e com as empresas públicas; e subida “significativa” da liquidez e dos canais de distribuição. Não consta dos planos do banco a fusão com o BPC ou com qualquer outra entidade financeira.
Banco com 20% de malparado
Pelo menos 20% do total da carteira de crédito do BCI entrou em incumprimento até Dezembro de 2017, quando o banco fechou o balanço do referido período. Os números são da direcção de contabilidade e finanças, que aponta o crédito às empresas a rubrica com maior tendência para não honrar compromissos de crédito a tempo.
Apesar disso, o banco considera que a taxa esteve três pontos percebntuais abaixo do registado no período anterior, quando a contabilidade registou apenas 17% da taxa de crédito vencido com respeito ao total.
“Em 2017, a taxa de crédito vencido sobre o crédito total situou-se em 20%. Esteve ligeiramente acima da registada em 2016, que foi de 17%, mas [esteve] muito abaixo das taxas dos anos anteriores, que estiveram acima de 30%. Ou seja, o ano de 2017 foi particular por causa da situação macroeconómica do país”, assegurou Mateus Canha, responsável da área de contabilidade.
Para o gestor, a carteira de crédito do banco é caracterizada essencialmente pelo crédito concedido às empresas. Aliás, é a este grupo que a “taxa de incumprimento recai mais” contra os particulares.
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