EM RESPOSTA À CARTA REMETIDA AO SUPERVISOR

BNA rejeita diversificação de negócio nas casas de câmbio

DIVISAS. Banco central não quer casas de câmbio no negócio do microcrédito, nem na venda de saldos, como solicitada numa carta enviada a José Massano. Mas abre porta para correspondentes bancários, se os bancos aceitarem. Agentes de câmbio, sufocados, ameaçam despedir acima de 50% dos empregados. Há 20 agências sem trabalho desde que abriram portas.

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O Banco Nacional de Angola (BNA) travou a possibilidade de as casas de câmbio entrarem, de forma autónoma, no negócio das transferências monetárias, vendas de cartões pré-pagos e no serviço de microcrédito, por entender que as referidas operações já são executadas pelos bancos comerciais.

Segundo o presidente da Associação das Casas de Câmbio (ACCA), Hamilton Macedo, o banco central entende que os operadores terão de negociar com os bancos comerciais a possibilidade de serem correspondentes bancários e definirem as modalidades dessa colaboração.

A posição do BNA surge em resposta a uma carta que os operadores de câmbio remeteram ao governador do banco central, José Massano, a solicitar autorização para o alargamento dos negócios, estratégia encontrada para tirar as empresas do risco de falência com que se debatem.

“O BNA respondeu à carta, mas o pedido não foi atendido. O governador remeteu-nos para o correspondente bancário. E o correspondente bancário aumenta o nosso nível de dependência. Queríamos [ter] uma determinada autonomia. Tudo o que pedimos remeteu para o correspondente bancário, o que não satisfaz os nossos objectivos”, argumentou.

Sobre o cenário imposto pelo BNA, o presidente da ACCA entende que “pode minimizar a crise, mas não resolve”. “Minimizava muito mais, se as empresas tivessem autonomia para fazerem as coisas sem grande dependência. Com este grau de dependência, vai minimizar, mas minimiza muito menos. O que se queria era uma autonomia. Temos de reconhecer que o momento não é o melhor”, defende.

Na carta enviada ao banco central, os associados da ACCA solicitavam autorização para, entre outros, venderem recargas telefónicas, fazer serviços postais e de agentes de correctoras do mercado de capitais, serviços de microcréditos, além da autorização para fazer transferências monetárias e serviços de consultorias.

Da lista de pedidos, constava também a solicitação de “liberalização total do preço das notas”, mecanismo que permitiria a cada empresa praticar os preços que entendesse para combater o mercado informal. Para os associados da ACCA, a resposta do BNA deixa “à rasca” os operadores de câmbio, que, ainda assim, se comprometem em continuar a ‘lutar’.

“Se por um lado estávamos a arranjar uma forma de garantir a subsistência das nossas empresas, por outro lado, e com esse grau de dependência, sentimo-nos um bocadinho à rasca. E o termo ‘à rasca’ não é o termo que se deveria empregar, mas as empresas estão numa situação de sufoco”, lamentou o presidente da ACCA.

20 empresas sem trabalho…

De Julho a Dezembro do ano passado, foram inauguradas cerca de 20 novas casas de câmbio, mas nenhuma ainda teve actividade, pelo facto de nunca terem sido contempladas nos leilões de divisas do BNA. O cenário leva a associação a questionar as medidas de reformas que o actual governador do banco central disse estar a imprimir para dinamizar o mercado.

José Massano chegou ainda a prometer, numa reunião, fazer um leilão de divisas particular para as casas de câmbio, mas as ideias nunca tiveram concretização, segundo Hamilton Macedo. Lembra que as casas de câmbio caminham agora para o oitavo mês sem receberem um único centavo dos leilões do banco central. “Tivemos um encontro [com o senhor governador] e saímos muito satisfeitos desse encontro, mas, até agora, não há resultados.”

Metade dos colaborardes à beira do desemprego

Para poupar custos, a associação que congrega mais de 80 casas de câmbio antevê já um plano de despedimento de até 50% da staff, caso o quadro não melhore.

“Temos vindo a reduzir a mão de obra. Desde 2014 para cá, reduzimos a mão-de-obra a nível de 50% da nossa força de trabalho. E agora, se calhar, vamos ter de tomar medidas no mesmo sentido. E vamos reduzir mais de 50%, porque não têm trabalho. Vamos aguentar até quando?”, desabafa Hamilton Macedo.