PELO SEGUNDO ANO CONSECUTIVO

BPC ‘apaga’ do orçamento despesas com festas e patrocínios

CUSTOS. Banco assume não haver dinheiro para “apoiar qualquer um”. E limita festejos do 27.º aniversário a uma campanha interna de doação de sangue.Cortes atingem patrocínios e distinções de colaboradores. Despedimentos são para concretizar e devem colocar mais de mil em casa.

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O Banco de Poupança e Crédito (BPC) cortou, do seu orçamento anual, as despesas com torneios desportivos, festas de aniversário, distinção de trabalhadores e apoio ao mecenato, actividades que eram práticas indispensáveis nas celebrações de aniversário da entidade, sobretudo nos mais de 10 anos da gestão de Paixão Júnior, antigo PCA.

O facto chegou ao VALOR através de quatro responsáveis da gestão do banco, entre os quais auditores e gerentes de agências-sede de duas províncias, e foi confirmado pela direcção de comunicação e marketing da entidade, que assegura não ter havido, este ano, patrocínios a “rigorosamente ninguém”.

Só em 2017, o banco gastou 51.593 milhões de kwanzas, mais 20% do que no ano anterior, com a rubrica custos com o pessoal, 833,8 milhões dos quais destinados a ‘outros encargos sociais facultativos’.

Para celebrar o seu 27.º aniversário desde a fundação, o banco limitou-se a organizar uma campanha interna de doação de sangue, tirando do portefólio de actividades festivas várias campanhas de solidariedade. Só o ‘Prémio António Jacinto’ resistiu aos cortes, segundo o banco.

“Para assinalar esta efeméride, o BPC promove uma campanha denominada ‘Doe Sangue, Doe Vida’, restrita apenas aos seus Colaboradores, com o propósito de contribuir para que haja sangue nos hospitais”, descreve a entidade, numa nota no seu website, dando conta da campanha.

É a segunda vez, desde 2016, com a saída de Paixão Júnior à frente do BPC, que não se assistem a actividades recreativas e sociais no banco. Este facto ficou ainda mais evidente com a entrada de Alcides Safeca na gestão do banco, que leva consigo uma agenda com um amplo programa de redução de custos e de optimização dos recursos.

Ao que soube o VALOR, Alcides Safeca ainda não autorizou este ano nenhuma contratação. Aliás, ele próprio “não contratou uma secretária”, segundo o gabinete de comunicação e imagem do banco.

“Antigamente, novos administradores ou directores podiam trazer uma secretária, por causa da confiança, alguns até motorista. Já não está a acontecer isso. O processo de redução de pessoal do banco já está em curso”, sublinha a entidade.

Os quatro responsáveis do banco estatal, que pediram para não serem “expostos”, garantiram que “sempre houve dinheiro para estas actividades [aniversários]” do banco. “Até aqui na província”, enfatizou outro gestor, para quem essas acções “eram sustentadas com orçamento próprio”, no mesmo pacote financeiro das actividades de responsabilidade social.

Despedimento preocupa…

“Mas este não é o ponto que preocupa os trabalhadores”, assegurou um dos técnicos do banco, que aponta os últimos pronunciamentos do presidente do BPC, Alcides Safeca, sobre a possibilidade de haver despedimentos no banco, como “o grande problema”. Em resposta, o gabinete de comunicação e imagem assegura que o anúncio de Alcides Safeca sobre despedimentos é para concretizar. E dá exemplo de um grupo de trabalhadores em idade de reforma que já começou a ser dispensado.

“As pessoas ainda não começaram a ser desvinculadas, mas esse processo vai obedecer a critérios. Um deles, que já começou a ser feito, são as reformas. As pessoas já começaram a ir para casa, porque é um direito delas de descansar”, atestou o banco.

Há duas semanas, Alcides Safeca garantiu à imprensa que a entidade a que preside iria avançar com despedimentos, sem, no entanto, indicar datas, números de colaboradores a afastar, nem mesmo as áreas do banco em que a medida começaria a ser aplicada.

…E vai levar mais de mil

Por seu turno, a direcção de comunicação assegura que o plano é despedir mais de mil trabalhadores, sem precisar se o número já engloba os que estão a ser afastados por idade de reforma.

“O objectivo é [chegar] a mais de mil pessoas. Ainda assim, poderá haver acordos, com pessoas que ainda não estão no período de reforma e que podem pedir reforma antecipada com contrapartidas, como fez a Taag”, respondeu o banco.