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PRESSIONADO POR EMPRESAS NA LINHA DO BAD

BPC remete ao BNA proposta de câmbio fixo para crédito

FINANCIAMENTO. Instituição pondera consertar com BNA taxa de câmbio fixa nos contratos de crédito. Iniciativa é de empresários que receiam que desvalorização prejudique reembolsos na linha de crédito do BAD. Recursos estão disponíveis desde a semana passada.

 

BPC remete ao BNA proposta de câmbio fixo para crédito

O Banco de Poupança e Crédito (BPC) deve discutir, nos próximos dias, com o Banco Nacional de Angola (BNA), a possibilidade de se estabelecer uma taxa de câmbio fixa nos contratos de crédito da linha do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). A proposta visa responder às preocupações dos empresários, com receios da desvalorização do kwanza e do aumento dos custos com reembolso. “Actualmente, a política cambial é flutuante. Logo, na componente das taxas [de câmbio], não temos intervenção. O que vamos fazer é levar junto do Executivo no sentido de o BNA ver, de facto, qual poderá ser a possibilidade para o futuro”, admitiu, ao VALOR, Óscar Rodrigues, administrador comercial da entidade.

Apesar disso, a linha de crédito está aberta desde a semana passada e a instituição criou duas modalidades para salvaguardar-se da oscilação cambial.

“Criámos uma modalidade de financiamento indexado, que vem proteger a componente cambial. Está salvaguardado o momento actual. O que me parece é que eles apresentaram [a preocupação] naqueles casos de clientes que se vão financiar internamente em kwanzas e, de facto, faz sentido a apresentação que nos estão a pôr”, antecipou o administrador, a quem coube os esclarecimentos técnicos sobre a modalidade de financiamento, no segundo encontro com empresários candidatos à linha do BAD, na semana passada.

O dono da Alves & Irmão, empresa agro-industrial, deu voz ao grupo de empresários que, na semana passada, questionou o BPC sobre os mecanismos do crédito. Para Vítor Alves, se não houver taxa fixa de câmbios, vários são os empresários que correm riscos de não reembolsar a dívida dentro dos prazos.

“Essa situação preocupa, porque estamos num país que é novo e a sua moeda é deslizante, como em toda a parte do mundo. Mas aqui está a ser maior. Se vai contrair um empréstimo, em dólares, e vai utilizar em kwanzas (porque a nossa moeda é kwanza), quando for pagar em dólares, indexados ao câmbio da altura, pagará mais do que o solicitado”, alerta Vitor Alves.

Este empresário baseado em Caimbambo, Benguela, antevê um novo ciclo de malparados na banca, sobretudo no BPC, se o Estado, através do BNA, não acatar a advertência desses operadores.

O produtor de bebida alcoólicas e açúcar considera que o reembolso do crédito deve ser realizado à taxa fixa acordada no momento de contratação. E dá exemplos de como as coisas podem acontecer: “o senhor investiu ao câmbio de 300 agora, quando for pagar está a 700 ou 800 kwanzas. Quem é que vai querer pagar? Ou como é que o indivíduo pode vencer? Não vence. Não consegue. Isso não é possível. Por isso, essa responsabilidade tem de ficar sim com quem trabalha com o dólar, o BNA. É o BNA que tem de ficar com a responsabilidade”.

“O câmbio pode ser flutuante. Quando se recebe um financiamento hoje, o câmbio é de hoje. Tem de se suportar o financiamento com aquilo que se pôs hoje. Não pode pôr o bago de milho na terra e esperar colher batata. Não pode”, ironizou o gestor, sobre o actual regime cambial.

Crédito Aberto

Aberta oficialmente na semana passada, a linha de crédito tem disponíveis 325 milhões de dólares para suportar as pequenas e médias empresas. “A linha de crédito está aberta a partir de hoje (8/11). E os critérios foram bastante frisados. Deverão ser ou ‘startups’ ou clientes que já tenham créditos, mas que tenham capacidade de endividamento, que tenham projectos que, de facto, lhes possam dar a viabilidade, que sejam proponentes com experiências. Que pretendam, por exemplo, fazer apoio e aceleração de projectos nos vários sectores”, anunciou Óscar Rodrigues.

Para aceder aos recursos, empresários são obrigados a observar critérios previamente definidos pelo Banco Africano de Desenvolvimento, que, entre outros, incluem estudos de impacto ambiental. Já do BPC, os interessados terão de entrar com um colateral de até 20%, em dinheiro fresco.