Dois anos, 80 mil dólares, muita competitividade e uma forte crença

Café Cazengo com passos seguros nos EUA

EXPORTAÇÕES. Administrador da Triases perspectiva aumento da facturação com a entrada do ‘Café Cazengo’ nas plataformas de entrega ao domicílio nos Estados Unidos. E critica o modelo “inoperante” de diversificação da economia levado a cabo pelo Governo.

Café Cazengo com passos seguros nos EUA

A empresa Triases, detentora da marca ´Café Cazengo´, único produto nacional, com a excepção ao petróleo, exportado para os EUA, arrecadou, entre 2016 e 2017, um total de 80 mil dólares, com a venda naquele país.

Ao VALOR, José dos Santos Gonçalves, administrador da companhia, antevê dias ainda “melhores” para a empresa, com a entrada da marca em diferentes plataformas de entrega ao domicílio em solo norte-americano.

O ´Café Cazengo´ deu entrada, pela primeira vez nos EUA, em 2016 e até 2017 foram exportadas 18 toneladas de café comercial e 16 toneladas de café empacotado. Daí em diante, a companhia passou a transportar apenas pequenas quantidades em aviões, para acrescentar no que ainda tem no local. “De facto, não tem sido fácil para uma marca africana determinar-se ao mercado norte-americano, dado a competitividade aí existente, mas estamos a aparecer e a parceria com as plataformas de entrega vai relançar -nos ainda mais”, acredita o administrador da Triases.

José Gonçalves recorda ter sido “mais fácil” receber o produto nos EUA do que retirá-lo de Angola, por causa do “excesso de burocracia”, além de empregar custos acima dos 9,5 mil euros. Propõe a construção de um pólo, onde todas as instituições necessárias para a importação e exportação estejam representadas.

Difícil acesso às cidades ´travam´ diversificação

O administrador da Triases aponta a “ausência de vias de acesso” das fazendas às cidades como o maior desafio para os empresários do sector. E duvida que se atinja os objectivos da diversificação da economia nessas condições. O responsável espera que o Governo imite os “bons exemplos” do ramo agrícola, apontando o Brasil como referência. José Gonçalves lembra que, no Brasil, não precisou de andar de jipes para visitar fazendas. Alugou um Polo GTI, face à acessibilidade das vias. Contrariamente, compara, em Angola, quem pretende investir no sector agrícola tem de gastar “mais de 50 mil ou mesmo 90 mil dólares” para comprar um todo-terreno .

O empresário manifesta-se também contra a “tendência” do Executivo em “conceder ou facilitar a concepção de crédito a grandes empresários”, em detrimento do agricultor familiar. O gestor denuncia que boa parte dos “ditos grandes empresários não produz nada e a única coisa que possuem é o título de concepção de terras”.

Na perspectiva de José Gonçalves, o Governo “deve apoiar os agricultores familiares, por serem os que de facto alimentam o país”, sublinhando que foi com os pequenos camponeses que a empresa duplicou a produção, dado que, antes da parceria, “colhia apenas cerca de 10 toneladas” de café por ano.

Redução da taxa de crédito em 5%

Para o administrador da Triases, a taxa de juros para o reembolso da prestação de crédito fixada em 15,75% “é muito alta”. Sugere uma redução de até 5% pelo menos para a produção do café, à semelhança do que aconteceu com a taxa de juro de crédito ao sector real da economia. Além da redução da taxa, o gestor propõe a diminuição da documentação exigida e o aumento do período de carência, que ainda ronda os cinco anos. Ou seja, José Gonçalves defende que o banco inicie a cobrar só depois de sete anos, dado que o café começa o processo de crescimento no limite de cinco anos. “Se o banco começa a cobrar-me os juros, ao atingir os cinco anos como acontece até agora, não tenho como pagar porque ainda não colhi. Espero que o Governo crie políticas que ajudem o empresariado a melhorar”, apelou José Gonçalves, que acusa os bancos de se recusarem a conceder crédito aos cafeicultores.

Criado há 10 anos, o ´Café Cazengo´ é produzido no Kwanza- Norte, numa área de 680 hectares, onde funcionam mais de 21 colaboradores. É exportado para os EUA, no âmbito do AGOA, um diploma legal, aprovado em 2000, para facilitar a entrada de produtos africanos no mercado norte-americano.