ANGOLA GROWING
POR ALEGADA FALTA DE APOIO

Carpinteiros navais sobrevivem a trabalhar em locais impróprios

24 Aug. 2022 (In) Formalizando

Barcos. Construtores de barcos artesanais que trabalham nas praias da Mabunda na Samba e na Ilha de Luanda clamam por atenção do Ministério das Pescas para melhorarem condições de trabalho e contribuírem mais para a economia.

Carpinteiros navais sobrevivem a trabalhar em locais impróprios

Profissionais dedicados à construção de embarcações artesanais para a pesca, na costa marítima do país, desempenham a actividade em locais impróprios e em condições precárias por falta de acompanhamento e apoio do órgão regulador do sector.

Considerando-se a “base de toda a cadeia”, enquanto responsáveis pela construção e manutenção das chatas e barcos, os carpinteiros navais apontam o dedo ao Ministério das Pescas que os “relegou para o esquecimento”, contrariamente à atenção dispensada “aos donos das embarcações e aos pescadores”. “Não temos nenhum apoio, por isso estamos a trabalhar num espaço aberto, ao ar livre e que é proibido para este tipo de trabalho”, lamenta José Daniel, responsável de uma oficina.

Assim como na arte da pesca, a construção e reparação de chatas e barcos é uma tradição conservada pelos ilhéus e seus descendentes e transmitida de geração em geração dentro das famílias. José Daniel exerce a actividade há mais de 30 anos, aprendeu a construir e reparar os barcos com o seu primo na Ilha de Luanda e, há 15 anos, começou a trabalhar por conta própria na praia das Mabundas na Samba.

Hoje, com oito trabalhadores, entende que, se tivessem apoio financeiro ou se lhes fosse dado um espaço melhor para trabalharem, empregava mais pessoas assim como contribuiria para o Estado, pagando os impostos, o que não acontece por não estarem organizados. “Este espaço é da capitania e, por vezes, vêm reclamar por estarmos aqui. Há momentos que prendem os equipamentos, temos que negociar e pagar multas, mas, também como sabem que não temos onde ir, deixam-nos”, salienta.

João Pedro Fino, responsável de uma outra oficina, conta que não consegue constituir a empresa por conta das dificuldades e a burocracia que envolvem o processo de aquisição da documentação. Avança, por outro lado, que está em vias de criar a associação dos carpinteiros navais para defender os interesses destes profissionais. “Visto que nunca fomos olhados e nem conseguimos ter um empréstimo bancário, o que traria benefícios para empregar mais jovens”, justifica, notando que a única vez que foram chamados pelo Ministério não foram ouvidos. “Quando o actual Presidente assumiu o poder, fomos chamados pelo Ministério para uma reunião que não aconteceu e mandaram-nos voltar no dia seguinte, e nunca mais disseram nada”, lamenta.

Os carpinteiros navais, em Luanda, contam com o apoio de um empresário apenas que é proprietário de um estaleiro onde recorrem para atender os clientes com os barcos maiores. “Este empresário faz tanto esforço e permite-nos que façamos os nossos trabalhos no seu estaleiro sem lhe pagarmos, não se sabe o que seria de nós se não tivéssemos este empresário”, afirma.

CONSTRUÇÃO CUSTA ATÉ 10 MILHÕES KZ

As embarcações construídas de forma artesanal variam entre as chatas de até 13 metros e os barcos de pequeno porte. Os custos de construção variam entre os 80 mil e os 400 mil kwanzas para as chatas pequenas de até sete metros, 800 mil a 1,5 milhões de kwanzas para as chatas de 8 a 13 metros, enquanto os barcos chegam a custar mais de 10 milhões de kwanzas.

A matéria-prima composta por madeira, pregos, tintas, varões de inox, guinchos entre outras, são adquiridas principalmente no mercado do Kikolo. João Júlio, mestre da empresa Coap Pesca, assegura que o negócio “é rentável”, visto que são responsáveis apenas pela construção ou reparação dos barcos, enquanto os motores são da responsabilidade dos clientes.

José Daniel compra a madeira na província do Uíge e chega a gastar mais de 5 milhões de kwanzas para transportar 10 toros de madeira, enquanto João Pinto compra na cerração do Bengo. Ambos afirmam ter dificuldades, quando o Governo proíbe a circulação da madeira, visto que, nessas fases, os preços também disparam.