“Com o Angosat podemos vender serviços em África e na Europa a preços competitivos”
O sinal do primeiro satélite angolano, que deve entrar em órbita no terceiro trimestre deste ano, já começou oficialmente a ser comercializado aos potenciais interessados. O director executivo da Infrasat, empresa que está a gerir o processo das vendas, fala, em entrevista ao VE, das potencialidades e dos benefícios que o Angosat deverá acarretar para o mercado das telecomunicações a nível nacional e internacional.
Em que medida a Infrasat está preparada para a comercialização das capacidades do Angosat1?
Já nos estamos a preparar para esse desafio há algum tempo. Estamos a trabalhar na área de gestão de satélites há sensivelmente nove anos. Aliás, a nossa actividade, em Angola, esteve sempre centrada neste segmento. Portanto, temos experiência na matéria e temos estado a preparar, em termos técnicos, a nossa comercialização. Temos trabalhado também muito directamente com o Gabinete de Gestão Espacial (GGPN), no sentido de nos complementarmos. Ou seja, temos a parte técnica a cargo do GGPN e a parte comercial a cargo da Infrasat. Logicamente que as participações em ‘workshops’ e em grandes feiras tecnológicas de âmbito internacional nos dá mais arcaboiço. Em termos de feiras, por exemplo, temos participado de forma regular no Africom, que é realizado na cidade de Cape Town, na África do Sul; temos vários outros eventos que decorrem na Europa e nas Américas. Portanto, são eventos que servem sempre para a troca de experiências entre operadores de satélites. E, com isso, estamos a garantir o sucesso desta nova empreitada que nos foi atribuída.
A Infrasat já informou ter assinado contratos de reserva de capacidades do satélite com entidades angolanas e com pelo menos uma estrangeira. Já há muita procura nesta fase?
Já assinámos um contrato de reserva de banda com a República do Congo Democrático e já assinámos também com algumas empresas nacionais. Neste momento, estamos em negociações com outras empresas internacionais que também já manifestaram a intenção de reserva de banda no Angosat.
Pode enumerar as empresas com as quais já foram firmados contratos?
De momento, não! Porque ainda estamos em negociações e, até fecharmos esta etapa, não seria bom adiantarmos os nomes das empresas. Mas posso garantir que as negociações estão muito avançadas. Neste momento, o que estamos a fazer é a reserva da banda. Ou seja, as empresas estão a apresentar-nos as suas necessidades e nós, Infrasat, estamos a apresentar as capacidades disponíveis. Em termos práticos, o processo decorre da seguinte maneira: se um determinado cliente que hoje dispõe de 36 megas de internet quiser passar a receber este sinal a partir do Angosat, ele terá de vir até à Infrasat fazer uma reserva da banda que pretende. É a isso que chamamos de acordo de reserva de banda. Só depois disso é que assinamos o acordo de reserva de banda com a entidade que solicita. Portanto, este é o processo que estamos a desenvolver neste momento. Normalmente, e digo isso fruto das experiências internacionais que temos, os satélites começam a ser comercializados um ano a seis meses antes do seu lançamento. É por essa razão que já começamos também a comercializar o sinal do Angosat. Ou seja, estamos já a dizer efectivamente a capacidade de que dispomos e o que estamos a disponibilizar.
Como está a ser feita, em termos práticos, a comercialização do sinal. Há vários pacotes com capacidades e preços distintos ou é tudo uniformizado?
Nós só definimos os preços, em função da banda que o cliente quer e do tempo que vai requer o serviço. Tal como disse anteriormente, o processo de comercialização é discutido entre a entidade e a Infrasat. Ele (cliente) vem com as necessidades e nós, em função disso, vamos dizer qual a banda que podemos disponibilizar.
Os preços estão fixados somente em kwanzas? Há um preço referência para a banda solicitada?
Para os operadores locais os preços vão ser em kwanzas. Para os compradores internacionais vamos utilizar a moeda mais utilizada internacionalmente. Em relação ao preço referência, o que posso garantir é que, a partir dos estudos que fizemos, os preços vão ser competitivos e acessíveis para além de que vão melhorar os preços que tínhamos anteriormente. Temos um satélite nosso e que foi desenhado para cobrir as necessidades de Angola. Portanto, vamos lançar-nos no mercado com preços competitivos e moderados para que todo o mundo que hoje trabalha com satélite tenha acesso. Os preços vão ser competitivos e acessíveis a todos os operadores.
Que requisitos os interessados têm de cumprir para poder aceder ao sinal do Angosat?
Basta ser um operador que preste serviço ao público-alvo por satélite para estar automaticamente habilitado para vir comprar capacidade de banda no Angosat. No nosso país, os interessados terão logicamente de ter, primeiro, as licenças correspondentes para poder prestar estes serviços. E aí, aproveitamos também abrir uma deixa para os pequenos empresários que também queiram fazer algum negócio na área de telecomunicações por satélite.
Já se sabe que o Angosat permitirá levar as comunicações em todo o país. Há capacidade para que esta possibilidade chegue a países vizinhos, no caso de haver potenciais interessados no sinal do satélite angolano?
O satélite angolano, na banda C, tem uma capacidade de cobertura numa extensão que vai da África do Sul até à Europa. Na banda KU, que é outra faixa de frequência, o Angosat cobre toda a África subsaariana. O que significa que nós podemos vender serviços, quer em África, quer na Europa, a preços competitivos.
A gestão do sinal do Angosat, por parte da Infrasat, será toda efectuada a partir de Luanda ou estará prevista a criação de delegações noutros pontos do país e no exterior devido aos potenciais interessados no estrangeiro?
Os nossos escritórios são em Luanda e a partir dessa parcela do território que vamos começar a comercializar. Nesse mundo (das telecomunicações), não são os interessados a vir ter connosco. Nós é que vamos ter com os interessados. Logicamente, se alguém tiver necessidade e quiser vir ter connosco, estamos preparados para os receber. Aliás, foi por isso que fizemos o lançamento da campanha de comercialização do Angosat para informar os potenciais clientes que, de facto, estamos abertos à venda. Esta é uma das formas de chegar até ao cliente. Logicamente, temos de pensar em ir para fora também para divulgar o nosso projecto.
Com o lançamento do Angosat, os utilizadores de internet no país, por exemplo, poderão beneficiar de uma maior velocidade de internet?
A internet hoje é disponibilizada por vários meios, nomeadamente fibra, rádio e também satélite. Nesse momento, o satélite vem trazer, primeiro, qualidade e, depois, mais disponibilidade. Ou seja, os clientes vão poder ter mais acesso à internet. O nível da velocidade depende muito da largura de banda contratada pelo cliente. Se algum provedor de telefonia móvel, por exemplo, se dirige à Infrasat e solicita uma largura de banda de dois megas, a velocidade do sinal de internet, neste caso, só será mais rápida se forem poucas pessoas a navegar. Nestes casos, se o provedor pretender ter um sinal mais forte, terá de contratar mais largura de banda. Portanto, o Angosat vem trazer qualidade, mais disponibilidade de dados, internet e outros serviços. Agora, mais velocidade tem de ser associada a outras coisas. Uma das coisas que é importante referir é que os satélites vêem diminuir as assimetrias. A infoexclusão são aquelas pessoas que estão no país mas não têm acesso às tecnologias de informação. Com os satélites, com uma cobertura global do país, vamos conseguir atingir todas essas pessoas que neste momento estão excluídas de telecomunicação. O grande ganho está exactamente aí. Ou seja, vamos ter um satélite que tem cobertura nacional e com preços acessíveis onde todo o cidadão angolano vai poder ter acesso a internet, a dados, a televisão, através do Angosat.
As valências do Angosat são capazes de concorrer com as de satélites de outros países africanos, como a África do Sul, Nigéria e Egipto?
Nós tivemos o cuidado de avaliar tudo isso. E esses são só os satélites que os países têm, porque existem muitos mais como as que são utilizadas pelas companhias que vendem o sinal de satélites. Portanto, o nosso satélite tem qualidade. Foi construído pelos melhores do mercado internacional. E depois, num mercado como o nosso, que tem muita necessidade, há espaço para todos. Temos de ser acutilantes, ir atrás dos clientes e mostrar aquilo que somos. Mas pela comparação que fizemos, dos satélites que cobrem África, nós temos qualidade suficiente.
O Angosat custou ao Governo 330 milhões de dólares, segundo dados oficiais. O plano de negócios que está estabelecido conseguiria no prazo de vida útil do satélite, que são 15 anos, prever o retorno deste investimento?
Temos um plano de negócios que vamos seguir à risca para poder obter os dividendos deste investimento que o Estado fez. Este investimento tem vários dividendos, desde financeiros, sociais, entre outros. Mas o plano de negócio visa exactamente recuperar o investimento que o Estado fez neste projecto.
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