Comércio de água em cisternas mantém-se atractivo
NEGÓCIO. Vendedores de água em cisternas arrecadam, em média, 1,3 milhões de kwanzas por mês e confessam temer pela progressão do ‘Programa Água para Todos’, iniciado pelo Executivo passado.
Os comerciantes de água potável em camiões cisternas em Luanda, que, em média, encaixam 1,3 milhões de kwanzas por mês, afirmam já terem tido dias “muito melhores”, mas, ainda assim, manifestam-se satisfeitos com o que arrecadam. No entanto, temem pela extinção do negócio face à progressão do ´Programa Água para Todos´, iniciado pelo Governo anterior.
Durante anos, embora o modelo de exploração dos recursos hídricos já estivesse tipificado na lei 6/2002 de 21 de Junho, muitos operadores retiravam o líquido em valas, em cursos de águas inadequados e, às vezes, em conluio com alguns trabalhadores das empresas gestoras das ‘girafas’ de água, fazendo ligações irregulares aos reservatórios. De acordo com alguns operadores formais, “só em 2015 é que o Governo passou a combater a fraude”. Nesse ano, após várias diligências, as autoridades detiveram mais de uma centena de ‘garimpeiros’ de água, além de terem destruído vários reservatórios ilegais, sobretudo no Benfica, Cazenga e Kicolo.
Para Guerra da Gama, vendedor de água em cisternas, 2015 foi o ano em que o “mercado passou a organizar-se”. O operador acredita ser hoje “impossível” comercializar água de locais impróprios, face à “fiscalização nas estradas e à consciencialização” dos consumidores. No entanto, manifesta-se contra o novo plano tarifário aprovado a 12 de Junho de 2018, assinado pelos ministros das Finanças e da Energia e Águas, que veio revogar o diploma 706/15, no qual se ajustava tarifa do produto apenas para Luanda e Benguela. Para a tarifa Girafa, local em que os comerciantes adquirem o produto para revender, o anterior documento fixava a taxa em 137 kwanzas o metro cúbico. O de 2018 aumentou a tarifa para os 258 kwanzas, acrescido de 10% de quota de serviço e 5% de Imposto de Consumo. “Na verdade, nas ‘girafas’ ainda não actualizaram os preços, mas quando o fizerem, as coisas serão mais complicadas do que já se encontram”, vaticina Guerra da Gama, que compra 20 mil litros de água a 3.500 kwanzas, no centro de distribuição do Kifangondo, e os comercializa entre os 15 mil e 16 mil kwanzas. Na maioria das vezes, compra o produto três vezes ao dia. E entrega, por imperativo contratual, 30 mil kwanzas ao patrão.
À semelha de Guerra da Gama, Nino Afonso, cujos sábados são exclusivamente reservados para si, confessa temer pela progressão do ‘Programa Água para Todos’. “De facto, o projecto é bom, melhora a vida colectiva. Mas, de certeza, que vai acabar com os nossos negócios. Por exemplo, hoje já não vendemos água no bairro São João, no Cazenga, porque já há água canalizada em quase todas as residências”, sublinha. Para Nino Afonso, de 47 anos, que também opera com uma viatura de 20 mil litros, o negócio já foi melhor, “quando em quase todos os bairros do Cazenga, Rangel e Sambizanga não havia água corrente. Hoje já é meio complicado”, sustenta.
Como da Gama e Afonso, Venceslau Pedro e Victor Alexandre, comerciantes de água há mais de oito e seis anos, respectivamente, louvam a iniciativa do Executivo que visou “sufocar as fontes de garimpo do produto” e apelam a uma maior fiscalização por parte da Polícia e a Direcção Nacional de Viação e Trânsito. No entanto, embora o fornecimento de água continue deficitário por Luanda, as zonas mais atractivas para os operadores são o Cacuaco, Viana, Quissama e Icolo e Bengo.
Formalização do negócio
Ao VALOR, Vladimir Bernardo, porta-voz da Empresa Pública de Águas de Luanda (Epal), destaca que para esses serviços, a viaturas devem ser “validadas pelo gestor da ‘girafa’”, com condições técnicas e de salubridade e ter a documentação em conformidade com as regras de trânsito. Em Luanda, existem 12 ‘girafas’ da Epal: Porto de Luanda, Prumo (no Kikuxi), Calumbo, Mulenvos, Limiary (Cacuaco), Edith Nacaputo e Mufulama (Benfica), Arnaldo Borges (Patriota), Acywo e Simoss (Talatona), Team Lider (Camama), PIV (Viana).
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