Crise leva concessionárias a revenderem carros velhos
REPORTAGEM. Quebra do poder de compra e escassez de divisas para a importação obrigam concessionárias a reiventar negócio. Prioridade é contornar risco de falência.
Com a dificuldade de importar viaturas novas e de ocasião e com as que estão no país a apanhar poeira nos parques devido à falta de poder de compra, as concessionárias têm procurado reinventar-se para se manterem no mercado. Muitas optaram por ‘caçar’ carros velhos à venda no país, os famosos ‘segunda mão’, que são reparados e posteriormente revendidos.
Em Malanje, por exemplo, a concessionária I.S.P conseguiu vender, no ano passado, apenas 16 viaturas usadas, depois de enfrentar graves baixas na compra de automóveis de ocasião e novos.
Há dois anos sem importar viaturas, Leandro Teca, responsável de uma concessionária localizada nas imediações do Estádio 11 de Novembro, em Luanda, confirma que a permanência no negócio é assegurada pela compra de veículos velhos dentro do país, visto que os bancos comerciais não dispõem de divisas. “Quando têm disponíveis vendem quantidade muito ínfima, nem dá para comprar duas viaturas”, refere.
Aos poucos, o maior mercado de compra de viaturas velhas tem se formado nas redes sociais. Muitos responsáveis de concessionárias recorrem às diversas plataformas, sendo que algumas dispõem inclusive, nos seus sites, de secções de compra de carros antigos. Já outras não se dão ao trabalho, compram de intermediários, como Gerson Canda.
O jovem viu a oportunidade de “fazer algum dinheiro”, localizando viaturas pelas várias vias, negoceando-as e entregando-as posteriormente às concessionárias. Para ele, o mercado de usados está a ganhar força. “É possível levar um usado pouco rodado, de categoria superior e mais equipado em relação a um zero quilómetro, que ainda passará pela temida desvalorização”, explica.
Pagamentos parcelados
Se uns optam pela recuperação de viaturas velhas, concessionárias como a Sutila, em Luanda, dão a possibilidade aos clientes de adquirirem automóveis de ocasião e novos, por prestações. No entanto, a primeira parcela não habilita à posse imediata da viatura, que é tida como garantia. “Os valores são altos, há poucas vendas, eles reclamam que não têm capacidade financeira, então nós temos de inovar para vender”, justifica Domingos Ngunza, responsável da Sutila.
Pelo curso económico e financeiro que o país segue, os importadores de viaturas antecipam “dias piores” no sector, o que deve influenciar a subida de preços ou até mesmo falência de muitas concessionárias. Por essa razão, os operadores recomendam ao Executivo a revisão do decreto de 2018 que autoriza a entrada de carros usados até seis anos. “Claro que, dessa forma, os preços não farão muita diferença, face aos carros actuais”, observa Isaías dos Prazeres, responsável da concessionária I.S.P, em Malanje.
No mesmo sentido, Domingos Ngunza diz não entender o que leva um país que “não fabrica nada a impedir a entrada de viaturas usadas de 2000 a 2007, em bom estado técnico.” O empresário que, nas suas deslocações à Coreia do Sul, onde compra as viaturas, gasta um milhão de kwanzas, com a falta de divisas e apoios, reduziu o ritmo. Actualmente, gasta mais tempo em contas e recomenda também um “olhar atento das autoridades às obrigações fiscais”.
Um sonho distante
Ter carro próprio ainda é sonho de muitos angolanos, particularmente jovens, para escapar aos empurrões e às horas a fio nas paragens de táxi. Ou ainda da enchente e asfixia dos transportes públicos. Em busca da realização do sonho, muitos trabalham a dobrar para comprar pelo menos o de ocasião, já que o preço do novo é de “bradar os céus”.
Nesta condição, está, por exemplo, o jovem Vieira Paulo. No ano passado, augurava comprar uma viatura nova da marca Toyota, modelo Celica, mas o preço de dez milhões de kwanzas estava longe das suas possibilidades. “Então como a questão era ter o meio de transporte, não tive outra opção, adquiri um já usado a 700 mil kwanzas visto que o de ocasião também é caro, cinco milhões”, confere.
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