Crise obriga a maior prudência no crédito
BANCA. Média mensal do volume de crédito concedido à construção civil está abaixo dos mil milhões de kwanzas. BNA contabilizou apenas 520 milhões de kwanzas até Setembro.
O crédito cedido à economia, em 2017, registou uma estagnação, mantendo-se inalterada a sua estrutura por sector. Ainda assim, a construção civil foi das áreas que menos beneficiou do crédito concedido naquele ano, posicionando-se atrás dos serviços, imobiliário e comércio, mas à frente da indústria transformadora e agricultura.
Em contraponto, verificou-se em 2018 um aumento do crédito à economia, particularmente com os maiores aumentos a registarem-se no comércio, imobiliário e serviços, com a construção civil relegada, mais uma vez, para posições inferiores.
Os dados do estudo ‘Banca em Análise 2018’, da Deloitte, atestam que a construção civil conseguiu captar um volume de crédito de pouco mais de 980 milhões de kwanzas no final de Junho. A situação, no entanto, terá sido pior em 2016 e 2017 com o sector a conseguir apenas uma média mensal do bolo de cerca de 960 milhões de kwanzas, no final de Dezembro de um e de outro ano.
Mais conservadores, os dados do Banco Nacional de Angola (BNA), contabilizados no final de cada mês, colocam igualmente o volume do crédito cedido abaixo dos mil milhões de kwanzas. No final de Junho, o banco central contabilizou apenas 474 milhões de kwanzas, um valor que corresponde, ainda assim, a um aumento de 8,9% em relação aos 435 milhões registados no período homólogo de 2017.
Já no final de Setembro, segundo os mesmos dados, o volume de crédito cedido à construção civil fixou-se em cerca de 520 milhões de kwanzas, correspondendo a um aumento de 21,2% em relação aos 429 milhões captados em igual período do ano passado.
BANCA MAIS CAUTELOSA
Os operadores bancários, por sua vez, quando confrontados com o actual momento por que passa a construção civil, em relação ao volume do crédito cedido, são peremptórios em afirmar que a crise exige por parte da banca uma maior prudência na cedência de créditos.
Em declarações ao VALOR, o responsável da direcção de financiamentos estruturados e investimentos do BFA, José Faria, afirma, por exemplo, que o seu banco “não tem uma exposição muito grande na construção civil”.
Mas assegura, no entanto, que o banco está aberto em estudar novos projectos que apareçam “desde que tenham substância e uma boa componente de capitais próprios”. “A construção civil em Angola tem passado por muitos problemas. Existe actualmente um parque imobiliário muito grande que não está colocado no mercado. No entanto, não excluímos projectos. Mas a construção não tem sido o nosso foco”, ressalta.
Já Jorge Silva, director de pequenas e médias empresas do BAI, afirma que o banco continua a dar a devida atenção ao sector. Mas realça que estas acções são sobretudo para “acudir necessidades de muito curto prazo de tesouraria”. Ao contrário, as operações de médio e longo prazo, embora estejam a ser atendidas, têm exigido muito mais cautela na sua execução por parte do banco, tendo em atenção “os factores de riscos associados”.
Para Emílio Almeida Bivengo, gerente no banco BIC, o crédito cedido à construção civil “baixou consideravelmente em relação a há uns anos, devido à crise”. “Grande parte das empresas estava associada a obras do próprio Estado. Em função do paradigma que vivemos hoje, o Estado reduziu drasticamente ou quase parou as obras e isso fez com que essas empresas deixassem de necessitar tanto do crédito, uma vez que aguardam algum pagamento de obras feitas outrora”, refere.
No entanto, assegura que o banco BIC tem condições para continuar a ceder crédito em qualquer área, desde que as empresas solicitadoras “tenham garantias para dar e capacidade para auto se financiarem junto à banca”.
Embora os bancos contactados pelo VALOR não quisessem comentar a situação actual do crédito malparado na construção civil, há informações oficiais de que o fenómeno existe.
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