ANGOLA GROWING
IBÉRIA PODE TER SIDO O PRIMEIRO CASO

Crise poderá ´excluir´ mais operadoras do espaço aéreo

AVIAÇÃO. A crise cambial que afecta o país está a ser encarada como o principal factor que poderá levar diversas companhias a reduzir as frequências para a Angola.

 

O anúncio de que a Ibéria vai deixar de voar para Angola, a partir de Junho, é uma situação que, no curto prazo, poderá afectar também outras operadoras, caso persista a crise cambial que assola actualmente o país, consideram analistas.

Abordado pelo VALOR ECONÓMICO, Carlos Vicente, da companhia aérea nacional, TAAG, argumenta que “qualquer companhia que deixa de operar por falta de tráfego é porque a operação em causa já não se justificava”.

“As companhias vivem do tráfego de passageiros”, destacou Carlos Vicente, reforçando que a decisão da Ibéria, de se retirar do mercado angolano, poderá ter sido influenciada pelo reduzido número de passageiros que a determinada altura passou a transportar.

“Isso poderá significar que aquilo que (a operadora) transportava, em termos de passageiros, nem sequer dava mais para cobrir as despesas operacionais. Quando isso acontece, logicamente as companhias retiram-se do mercado, porque deixou de ser fiável”, reiterou.

Carlos Vicente salienta que, a partir do momento em que começou a haver escassez de divisas no mercado nacional, as companhias aéreas, de um modo geral, começaram a ressentir-se da situação.

Por isso diz não ser de estranhar se um caso, idêntico ao da Ibéria, venha a verificar-se também com qualquer outra companhia que opera no mercado, enquanto persiste a crise cambial.

“Há companhias que não anunciaram, mas há muitas que têm estado a reduzir as frequências de voos”, apontou o também porta-voz da TAAG, no entanto, sem citar nomes.

O anúncio de que a companhia espanhola suspenderia a rota Madrid/Luanda e vice-versa surgiu no início da semana passada. Em comunicado de imprensa, a empresa informou que “a decisão deriva da actual situação económica de Angola, na sequência da quebra dos preços do barril de petróleo, e da subsequente falta de divisas”.

A companhia reforçou que “a ligação entre Luanda e Madrid tem tido ultimamente um número reduzido de passageiros, situação que não se enquadra com os encargos fixos associados a esta rota”.

“Os nossos clientes estão a ser reembolsados ou encaminhados para outras companhias, de acordo com as suas necessidades”, garantiu o representante da companhia em Angola, Joy A. Horrik Kupuiya.

A Ibéria deu início às operações comerciais entre as cidades de Madrid e Luanda, em Maio de 2011. A companhia aérea espanhola operava dois voos semanais entre a capital angolana e espanhola, todas as segundas e sextas-feiras. Nesta ligação, a Ibéria utilizava aviões A340/300 que possuem capacidade para cerca de 250 passageiros.

 

CRISE É ANTIGA

Algumas companhias aéreas, nomeadamente a portuguesa TAP, já tinham restringido o pagamento em kwanza a viagens, apenas com origem em Luanda, devido à falta de divisas. A falta de passageiros, entretanto, acentuou o problema, chegando a afectar inclusivamente a companhia aérea angolana, TAAG.

Em Julho do ano passado, a TAAG havia igualmente suspendido, para um período de três meses, os voos para o Dubai (Emirados Árabes Unidos) e reduziu os voos para São Paulo (Brasil). A redução da taxa de ocupação esteve na base da decisão do Conselho de Administração da companhia.

Os aparelhos operados na rota Luanda-Dubai, do tipo Boeing 777-300 com mais de 200 lugares, estavam a transportar na ligação entre Luanda e o Dubai menos de 50 passageiros, segundo informou o porta-voz da empresa, Carlos Vicente.

No ano passado, a companhia aérea lusa, TAP, anunciou, pela primeira vez desde 2009, prejuízos nas suas receitas, motivado pela falta de passageiros nos seus dois principais mercados: Brasil e Angola.

Num comunicado, distribuído à imprensa, a empresa admitia impactos “da crise económica e política do Brasil”, referindo que provocou “não só uma quebra do volume de tráfego, mas também uma redução significativa da tarifa média”.

E acrescentava que, “embora em menor escala, a contracção da economia angolana influenciou também negativamente as ligações aéreas”.

A TAP adiantou ao jornal O Público que transportou 11,3 milhões de passageiros em 2015, o que representou uma queda de 0,8% face ao ano anterior, em que tinha registado um aumento de 6,5% para 11,4 milhões.

A retracção na procura reflectiu-se nas receitas da transportadora aérea, que desceram 3,7% no ano passado, para 2.398 milhões de euros (menos 91,4 milhões do que em 2014). Mas, além da redução do tráfego, houve também um contributo negativo em nível das tarifas, que caíram 4,3%.