Donald Trump com ‘meia’ razão
EUA. Donald Trump tem repetido com alguma insistência que a economia dos EUA “nunca esteve tão bem como agora”. De acordo com uma estimativa de Setembro, do jornal ‘Washington Post’, o presidente norte-americano fez essa afirmação 40 vezes em três meses.
Com o objectivo de constatar se Trump tem ou não razão, a ‘BBC New’ fez uma comparação entre os principais indicadores económicos dos EUA. O resultado mostra que, em alguns indicadores, dão razão a Trump, está melhor que os antecessores, mas não é o caso do aumento dos salários.
No que diz respeito ao crescimento do PIB, o indicador alcançou a taxa anual de 4,2% no segundo trimestre de 2018. É a melhor taxa dos últimos anos, mas menor que os 4,9% alcançados no terceiro trimestre de 2014. Houve épocas, nas décadas de 1950 e 1960, em que o crescimento do PIB foi ainda maior. “Se optar por ver a saúde da economia com base no PIB, as afirmações de Trump não são tão precisas quando comparamos com o ‘boom’ económico dos EUA nos anos do pós-guerra”, adiantou à BBC Megan Black, professora de história da London School of Economics, no Reino Unido.
O período pós-guerra foi de grande crescimento económico, mais notório em manufactura, mas também em agricultura, transporte, comércio, finanças, mercado imobiliário e mineração.
O mesmo vale para a taxa de desemprego - também usada quando se fala em medir a saúde da economia - que alcançou 3,7% em Setembro. Na década de 1950, houve anos em que a taxa de desemprego estava mais baixa do que agora. Portanto, os indicadores actuais são bons, mas não os melhores da história.
Mercado de acções
Donald Trump tem destacado a valorização do mercado de acções, em particular a Dow Jones, que acompanha as acções de 30 das maiores empresas norte-americanas. Atingiram recordes durante a administração Trump e vozes favoráveis ao presidente argumentam que esse crescimento foi influenciado por cortes de impostos, pela política de colocar os interesses dos “EUA em primeiro plano”, a adopção de medidas para reduzir a burocracia e as promessas de investimento em infra-estruturas.
Trabalho e salários
A taxa de desemprego actual está nos 3,7% - a mais baixa desde 1969. Vem caindo por alguns anos, mas a queda começou durante a presidência de Barack Obama. Ryan Sweet, da consultoria Moody’s Analytics, aponta que o factor chave para esse resultado foi a mudança no perfil da mão-de-obra.
Há uma proporção maior de trabalhadores mais velhos e com alto nível de escolaridade e, para essas duas categorias, as taxas de desemprego são tradicionalmente menores. “O mercado de trabalho em 2000 tinha uma taxa de desemprego menor que 4%. Mudanças demográficas desde então sugerem que o percentual actual poderia ser ainda menor do que os 3,7% de Setembro”, regista Rya Sweet.
Quanto a salários, a média da remuneração por hora trabalhada em 2017 teve um crescimento entre 2,5% e 2,9%, seguindo uma tendência de alta que também começou na administração Obama.
Em Setembro, o aumento foi de 2,8%. Mas a inflação ficou em 2,7%, portanto o aumento real foi bem menor.
Outro indicador observado é o rendimento familiar. A média tem crescido nos últimos três anos, mas a velocidade diminuiu, segundo dados oficiais.
Alguns analistas questionam por quanto tempo a trajectória económica vai continuar. “Nós estamos a experimentar um ‘boom’ agora, mas é provável que isso acabe na próxima década, quando o estímulo fiscal tiver de ser reduzido e a economia tiver de lidar com taxas de juros mais altas”, afirma Mark Zandi, do Moody’s Analytics.
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