“É frustrante quando ?Angola não nos reconhece”
MÚSICA. Vui Vui é o primeiro rosto angolano a representar a marca francesa de cognacs ‘Rémy Martin’, em Angola, por um ano. Fundador do grupo de rap Kalibrados, prepara-se para lançar o terceiro álbum, em Dezembro. A música, produção musical, rádio, televisão, palestras e a escrita fazem parte dos seus desafios e paixões.
Como e quando surgiu o convite da Rémy Martin?
Sinto-me lisonjeado, porque não é uma marca angolana e o convite não veio de Angola. Dá a sensação de que alguém está a apreciar o meu trabalho. Isso é bom e mau. Na verdade, é um namoro antigo. Este ano, a Rémy Martin realizou um evento num bar de Luanda com três ou quatro rappers. Gostaram de ter trabalhado comigo e, passados dois ou três meses, procuraram saber se estava aberto a representar a marca.
E isso é bom e mau porquê?
É boa, porque alguém de fora está a observar e reconhece o trabalho, e má, porque esse reconhecimento vem de fora.
Já esperava por um convite interno?
Olho para alguns músicos angolanos, por exemplo, Waldemar Bastos, Mário Rui Endipe e Bonga, e é triste que o mundo reconheça mais esse trabalho do que os próprios angolanos. É um bocado frustrante quando Angola não nos reconhece. Muitas vezes, serve de incentivo porque, se calhar, estamos a fazer bem.
Tem exclusividade?
Não assinei exclusividade com a marca. Mas cabe ao bom senso de cada pessoa não fazer outra publicidade com uma marca concorrente perto de um ano. É uma quantia considerável, mas sem exclusividade.
Até que ponto a responsabilidade do artista vai reflectir na consciência dos jovens?
É um produto para um público-alvo específico. E os horários de publicidade são estabelecidos. A responsabilidade em relação ao consumo do álcool não é minha. Quem tem de regular isso é quem de direito neste sentido. O meu público da televisão, rádio, palestras e música não é infantil.
A sua faceta artística vai além da música, televisão, rádio, literatura e palestras. Qual delas influencia mais?
Sou apaixonado pelo que faço. Mas a minha prioridade e paixão principal são a música. Quando falo do meu negócio, a música é um item, não é a meta. Basicamente tudo o que a música me dá e que influencia a minha imagem depois passa para a outra vertente. Da rádio, surgiu a vontade de fazer algo similar em televisão e foi fluindo. Surgiu o lançamento do livro em banda desenhada dos ‘Kalibradinhos’, em Agosto. Tudo o que a música dá tento transformar numa maneira de ganhar dinheiro. A visibilidade que a minha carreira dá tento aproveitar ao máximo.
O livro ‘Não basta apenas ter talento’ é um recado?
Quando digo ‘Não basta apenas ter talento’ não é simplesmente para os artistas, mas para todas as facetas da sociedade. É um livro de auto-ajuda. É um discurso que, internamente, chamamos de ‘papo-recto’.
Este livro abre portas a outros?
Não pretendo estar no nível de me compararem, por exemplo, a Pepetela, Augusto Cury ou Manuel Rui Monteiro. Não é essa a minha vertente.Da mesma forma que não pretendo estar em comparação com radialistas como Afonso Quintas ou Jorge Gomes. Deixo bem claro que tento estar nessas categorias em música. Não faço isso com intuito de estar noutras categorias.
Em Dezembro, vai lançar o terceiro álbum. O que se pode esperar?
O álbum está gravado há algum tempo. Em princípio, não vamos vender o álbum. Vai ser lançado gratuitamente nas plataformas digitais. Em termos de estúdio, estamos a fazer muita coisa. Em termos de negócio é irreal vender um disco a mil kwanzas nesta fase em que têm de se comprar euros e dólares. Nós não temos fábricas de CD. Se não for para lucrar, vale a pena oferecer. Temos uma dívida moral com as pessoas, porque não lançámos há oito anos.
Este é o último álbum enquanto grupo?
Este não é o fim do grupo, porque Kalibrados é uma marca e não vai acabar. É uma pausa que os membros vão dar, para cada um dar continuidade a projectos pessoais.
E projectos a solo?
Estou a montar uma produtora nova ‘Good Felling’, onde vou trabalhar com todos os artistas na produção, composição e planificação de carreiras, novos e antigos. Depois de o álbum dos Kalibrados sair, poderei pensar em carreira a solo e noutros projectos. Tenho um programa ‘beat box’ na Rádio Luanda, realizo palestras e ‘workshops’, estou a vender o livro, estou a preparar o meu programa de televisão
Sente que tem uma responsabilidade social?
A minha responsabilidade social passa sempre, desde 2015, por dar e ajudar as crianças do hospital ‘David Bernardino’. 10% do meu ‘cachet’ é doado em brinquedos às crianças em Junho. Paguei uma escola de quatro salas no Cunene.
PERFIL
Nome: Ivo Duval de Carvalho Simões
Estado civil: Casado
Filhos: Três
Livro lançado: ‘Não basta ?apenas ter talento’
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