TETA LÁGRIMAS, MÚSICO E GESTOR

“É preciso conhecer o mercado e as grandes empresas”

CULTURA. Considera-se um dos músicos que mais vende em Angola, mas garante que isso acontece porque também tem uma estratégia. Não adormece sobre os ‘louros’. Além de escolher onde quer actuar, Teta Lágrimas não depende só da música e vai abrir um espaço com discoteca, hotel e salão de festas.

Quais são os seus projectos?

Estou em tournée com o álbum ‘Lagrimas do Coração’, lançado em 2014. Vende muito bem, já passei por Luanda, Lobito, Uíge, Huambo e estou com agenda para o Lubango e Saurimo, mas falta apoio. Já vendi mais de 50 mil cópias desde 2014 e estou sempre nas grandes superfícies comerciais, de sexta a domingo. Por semana, vendo cerca de duas mil cópias. Normalmente, ‘tiro’ um disco de três a quatro anos. Os álbuns não podem ser tirados de um em um ano, só se faz isso, com um tipo de música que não fica permanentemente. Há aquelas músicas que ficam anos e anos, como é o caso de Teta Lando e outros artistas nacionais, que mesmo depois de 10 anos, continuam a vender.

Qual é o segredo para vender?

Os meus discos em Angola são os mais vendidos, por terem muita qualidade. Depois vou ao encontro dos consumidores, nos locais mais recônditos. Como sou o gestor da minha empresa e canto também, consigo usar mecanismos para ir ao encontro do consumidor. Isso, se calhar, é que está a faltar noutros artistas. É preciso conhecer o mercado e ter relacionamento com as grandes empresas. Estou a comercializar os três discos de Teta Lando num duplo ‘Memórias’, em que estão todas as músicas mais antigas e um com nova roupagem ‘Esperança idosa’.

Tem recebido convites?

Alguns para casamentos. Para ‘shows’ é preciso que o cantor esteja vinculado a uma agência ou realize os seus próprios ‘shows’.

É muito exigente nas escolhas?

Sou muito exigente. Graças a Deus, já posso dar-me ao luxo. Há convites que não aceito, porque não têm as condições suficientes. Prefiro vender. Se não se vende, o público não conhece o artista. O disco é composto por mais de dez músicas e, muitas vezes, só é explorada uma ou duas.

Merecia ser mais reconhecido?

Sou reconhecido, muito pelo meu trabalho. Mas os espectáculos não funcionam pelo reconhecimento do artista. As empresas, durante o ano, já têm espectáculos agendados e são os das agências que actuam e não buscam de fora.

Os artistas da nova geração respeitam as raízes?

Alguns artistas tentam manter as raízes, a qualidade musical e vocal, mas 90% está a desviar-se da raiz e da qualidade das décadas de 1960 e 1970. Alguns artistas procuram-me, mas nego, às vezes, porque prefiro que as minhas músicas sejam interpretadas por alguém que saiba interpretar, como o Yuri da Cunha, Eddy Tussa e outros. Evito muito dar a qualquer pessoa. Posso autorizar e depois perder qualidade e isso ofusca a original.

Tem projectos paralelos à música?

Tenho uma casa a ‘Quinta de Teta’, no Benfica, que abre ainda este ano. Tem uma discoteca, salão de eventos e um hotel. A partir dai, vou começar a fazer os meus espectáculos e dar voz aos artistas que têm talento e estão no anonimato.Tudo é com o dinheiro da música. Faço a minha vida artística de forma pacata.

Canta composições de outros artistas?

Componho todas as minhas músicas e só cantei duas versões de Teta Lando, porque ele é um artista ‘top’.

É possível enriquecer só com a música?

Se for empreendedor e souber gerir o que ganha e deixar a vaidade, sim. Vejo a música com toda a seriedade e penso na minha reforma. Muitos músicos não pensam assim. Não digo ficar rico, mas folgado.

Como vê o apoio da cultura em Angola?

Já tivemos muito longe daquilo que podemos considerar um apoio institucional. A Lei do Mecenato vai ajudar os profissionais da cultura.

Continua convicto de que os concursos de música “são corrompidos”?

Alguns ainda são. Pode haver um ou outro que seja de fé, digo sem medo de errar, há coisas que dão na cara, não podemos tapar o sol com a peneira. Por exemplo, o ‘Angola Music Awards’ é um bom projecto, mas devia dignificar mais o artista, dando um prémio em valor monetário, para o 1.º, 2.º e 3.º lugares. Não basta um troféu. O artista perde muito tempo a ensaiar para depois ir receber só um troféu! Mas não estou a dizer que esse seja corrompido.

O empresariado deve envolver-se mais no apoio à cultura?

Devia! O empresariado tem um benefício dos impostos dos produtos que importa. O mecenato faz com que as empresas que apoiam projectos tenham contrapartidas do Estado, com a diminuição de impostos.

 

PERFIL

Nome: Abel Lágrimas da Conceição Santos Teta

Aniversário: 5 de Julho de 1956

Natural: Zaire

Filhos: Vavita Teta, Letícia Teta e Ângela Teta

Álbuns: 8