“É preciso rentabilizar o Carnaval
CULTURA. 170 Milhões de kwanzas é o valor estipulado para a edição deste ano do Carnaval de Luanda, mas o organizador não está satisfeito. O Ministério da Cultura participa apenas com 25%, o resto depende dos patrocinadores.
Em 2016, o orçamento do entrudo foi de 140 milhões de kwanzas. Nesta edição, estão previstos 170 milhões. É satisfatório?
Não! O Carnaval de Luanda cresceu muito e implica meios financeiros. Este ano, temos um orçamento de 170 milhões de kwanzas, o que não é suficiente tendo em conta que temos feito atenuações de subsídios aos grupos na ordem de 700, 500 e 300 mil kwanzas para as classes A, B e infantil.
É justo o valor atribuído aos grupos?
Não é o mais justo, mas é o real. Esses subsídios já não se justificam. Seria bom se pudéssemos fazer a entrega de um milhão e 500 mil para a classe A, um milhão e 200 mil para a B e um milhão de kwanzas para a Infantil. Estamos a trabalhar com os nossos parceiros, os patrocinadores, GPL e Ministério da Cultura (Mincult), para conseguirmos esses valores.
A subvenção aos grupos é da responsabilidade do Mincult ou só o faz por falta de patrocínios?
Não é uma obrigação. Seria quase obrigação se estivesse a funcionar a Lei do Mecenato. Mas há empresas que se identificam com a cultura angolana e apostam no Carnaval. Hoje temos patrocinadores tradicionais.
São suficientes?
O problema não é termos muitos patrocinadores, mas sim patrocinadores com valores mais altos. Porque se hoje entregarmos a área de ‘marketing’ a um só patrocinador, ele é capaz de assumir o Carnaval à volta de 50% a 70%. Queremos encontrar patrocinadores bons e fortes.
O Carnaval está entre as prioridades do Mincult?
Somos um órgão da sociedade e parceiros do Mincult. A nossa missão é fazer com que as coisas aconteçam antes. Estamos a trabalhar nesta vertente, tem sido difícil. Uma novidade é que os nossos associados criaram um órgão de valorização do carnaval.
De onde provêm as verbas?
75% é dos patrocinadores, 25% do Mincult. Não se altera muito o quadro de grupos todos os anos. Porque são quase sempre 15 para cada classe.
Como os grupos podem atrair patrocinadores?
Os grupos devem encontrar patrocinadores e padrinhos directos. Mas, muitas vezes, os patrocinadores questionam porque fazem um investimento de sete milhões de kwanzas e consegue reaver três, o que não compensa. Os grupos devem criar políticas de rentabilização financeira. Têm de ter vida cultural durante o ano todo.
Os grupos têm tido essa vida cultural?
Em Angola, há os produtores culturais e os artistas. Os artistas dependem dos produtores que não têm sensibilidade em convidar os grupos. É capaz de um grupo realizar apenas duas actividades anuais.
O atraso na entrega de valores afecta o desempenho dos grupos?
Sim! Há coisas que ficam a depender. A entrega de valores tinha de começar a ser feita a partir de Setembro/Outubro. Isso porque o nosso mercado é muito fixo. Se for antecipado, por exemplo, podem pagar cada peça a mil kwanzas, mas se estiverem em cima da hora, pode custar até 1.500 kwanzas.
Está a estudar outras formas para motivar os grupos?
Sim, este ano vamos realizar ‘workshops’, em que um dos itens é a vertente económica do Carnaval. Vamos encontrar prelectores que nos possam ajudar no que é a rentabilização do nosso Carnaval.
Estamos na 40.ª edição do Carnaval, desde o ‘Carnaval da vitória’. É possível fazer comparações?
Há muita coisa diferente. Cada edição tem novos elementos. Em 1978, grupos como Kabokomeu, Mundo da Ilha e Kiela a sua composição tinham 50 a 70 pessoas e as alegorias eram carros-de-mão para simbolizar o operário. Hoje, os grupos são compostos por aproximadamente 800 pessoas. E as temáticas antigamente eram mais viradas para a política, hoje o Carnaval está mais aberto, há mais criatividade e liberdade. É mais moderno, mas com a essência da tradição.
Hoje ainda se comemora a quarta-feira das Mabangas?
Hoje já não tem uma presença muito visível. Era tida como a ressaca do Carnaval, em que cada um dos grupos saía à rua a dançar e recebia ofertas dos mercados. Hoje a realidade é bem diferente e quem mais contribuía eram comerciantes. Mas os grupos mais tradicionais e antigos como o Kiela, Mundo da Ilha, 54 e Kabokomeu, mais virados para o litoral, ainda fazem. É uma festa mais de Luanda.
Os grupos têm reclamado os resultados. São justas as reclamações?
Todos os que participam no concurso querem estar no pódio e quando isso não acontece, o primeiro alvo a abater é o júri. Também é justo que os grupos façam apreciações muito correctas dos sete itens em avaliação: canção, dança, alegoria, corte, comandante, bandeira, falange de apoio. O júri é composto por 21 elementos. Pode haver falha num ou noutro, mas é impossível que os 21 estejam enganados. Os nomes do júri só são revelados uma semana antes do desfile.
Qual é a grande novidade desta edição?
Os grupos estão apostados em fazer uma homenagem ao Presidente João Lourenço.
Conta com a participação de outras províncias?
Não será possível. Um grupo de carnaval é diferente de um grupo de dança, pois tem de se ter em conta a logística para albergar mais de 300 pessoas. Estaríamos a desfalcar o Carnaval da província convidada, porque teria de vir o melhor grupo. É um projecto que o Mincult está a tentar implementar. Já tentámos outros anos, mas não funcionou!
Mas a ministra já se pronunciou…
Estamos a aguardar. Os grupos em Luanda ainda não receberam os subsídios de apoio quanto mais de âmbito nacional…
Como está a organização do Carnaval?
Temos estado a receber sugestões. Estamos a estudar outros modelos de Carnaval, como mudar o horário para as 18 horas e terminar de manhã.
PERFIL
Secretário-geral da Aprocal há cinco anos, António Francisco de Oliveira ‘Delon’, de 57 anos, natural de Luanda, é também actor e encenador. Ainda é do tempo do ‘Carnaval da vitória’, que contou com a presença do primeiro presidente, António Agostinho Neto. Há 40 anos que participa na festa.
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