Economia na Venezuela à beira do caos
TENSÃO. Presidente Nicolás Maduro cortou zeros do bolívar para ‘travar’ a hiperinflação. Medida ‘cosmética’ com a qual os venezuelanos convivem desde a semana passada pode estar condenada ao fracasso.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que a inflação na Venezuela poderá atingir o recorde de 1.000.000% este ano. Há anos que o país ocupa a ‘pole position’ de maior índice inflacionário actual no planeta.
De acordo com dados disponíveis, em 1973, quando o governo estabeleceu o câmbio livre, o dólar estava cotado em 4,30 bolívares. Em Janeiro de 1999, um mês antes da posse de Hugo Chávez, o dólar estava a 573,86 bolívares. Mas 19 anos mais tarde, na véspera do corte de zeros do bolívar ordenado pelo actual presidente, Nicolás Maduro, o dólar no mercado paralelo estava em 5.921.486,23 bolívares (5,9 milhões). Com o corte, a cotação fica em 59,21 bolívares soberanos. No entanto, sem a ‘maquilhagem’ dos cortes de zeros feitos por Chávez e Maduro (oito zeros entre os dois presidentes), o valor do dólar no paralelo seria de 5.921.486.230,00 (5,9 mil milhões de bolívares).
SEM DADOS
A análise do FMI revela que a Venezuela se transformou nos últimos três anos num país sem dados oficiais sobre o PIB, inflação, desemprego e balança comercial, “situação iniciada em 2014, quando o Banco Central começou a atrasar a publicação do índice de inflação”.
O último dado oficial anunciado de maneira formal foi conhecido em 2015. Depois disso, todos os números foram elaborados por consultorias económicas ou estimativas do FMI. O último número do PIB foi publicado em 2015. Nesse mesmo ano passou pelo ‘crivo’ do parlamento o último projecto de Orçamento Nacional. Mas, em Dezembro, a oposição venceu as eleições parlamentares e conquistou dois terços do poder legislativo. A partir daí, Maduro nunca mais enviou o Orçamento ao Parlamento e aprovou todos os gastos do Estado por decreto, sem explicitar os fundos destinados a cada área.
Se a inflação continuar a mesma aceleração actual, uma nota de 100 mil bolívares no mercado antes do ‘feriado bancário venezuelano’, daqui a um mês só poderá comprar metade do que comprava. Daqui a 100 dias essa nota só terá 10% do seu valor. E daqui a um ano, essa nota de 100 mil bolívares terá valor aquisitivo equivalente a 0,02% do seu valor inicial.
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