Empresários contra cálculo estimado da ENDE
ELECTRICIDADE. Empresário agrícola José Monteiro encontra, na forma de taxar o consumo, o ‘handicap’ que está a atrapalhar a produção tanto no sector agrícola, como no industrial. Mas presidente da AAVIL acha que “as queixas neste momento devem estar concentradas na procura de equilíbrio das matérias-primas”.
Diversos empresários criticam a cobrança por cálculo estimativo da ENDE. José Monteiro afirma que o pagamento da energia eléctrica por estimativa de consumo está a prejudicar a actividade produtiva e, por conseguinte, acaba por encarecer o produto final. “Tanto a empresa da energia eléctrica como da água, tinham de ser das primeiras a privatizar para serem mais bem operacionalizadas”, constata, sugerindo “calma”, porque “estas devem ser entregues a entidades credíveis”. E cita o exemplo da “RDC onde não falta energia eléctrica, sendo que a barragem do Inga está sob gestão de canadianos”. Segundo José Monteiro, “os canadianos, além de pagarem impostos, têm espírito de servir e os angolanos são indisciplinados”. O empresário acrescenta que o problema não é haver água com fartura nos rios, mas o facto de o pessoal de base ligado a estas empresas (água e a energia) não ter capacidade. “Como é que se remenda um tubo rebentado para os agricultores da Funda com uma fita de borracha? Nunca vi”, reclama.
Mas o também empresário Rui Santos contraria, considerando que, “neste momento, privatizar o sector da energia e águas seria o caos”, porque “os privados poderiam a seu bel- -prazer aumentar ainda mais os custos desses factores de produção, alegando regras da economia de mercado”.
Para o também presidente da Associação dos Avilcultores de Luanda (AAVIL), “o mais importante, por esta altura, é a procura da estabilidade do fornecimento de matérias-primas” já que, a esse respeito, “o país está muito desorganizado, por deixar ‘rebentar’ os stocks, para depois andar à caça de divisas para importar milho. Quando Cabo Verde não produz milho mas já exporta ovos para a Guiné-Bissau e países europeus”.
José Monteiro volta à conversa e aponta que, “se não se privatizam esses sectores agora, no futuro será mais prejudicial para a economia”, sendo que “as subvenções não funcionam numa economia de livre concorrência”. Também é contra a cobrança aos industriais da taxa de consumo doméstica “mais cara”, quando “em qualquer parte do mundo o sector industrial trabalha com energia de média tensão”, por conseguinte, “mais acessível”. “E o mais arreliante, no Bengo, por exemplo, é que tudo é feito com base no cálculo por falta de contadores”.
BOMBAS COM 26 ANOS
Monteiro dá o seu próprio exemplo e refere ter montado, há 26 anos, uma conduta com capacidade para bombear 250 metros cúbicos de água por hora, que ainda hoje funciona sem sobres- saltos. “A mim ninguém engana! Essas bombas que montei chegaram a abastecer a população do bairro Panguila e a rega de plantas durante mais de quatro anos por contrato celebrado com o então Ministério da Construção”.
Não tendo razões de queixa, porque “o Ministério da Construção na altura dirigido por Higino Carneiro pagou a empreitada”, Monteiro seria então ‘arrastado’ para participar num concurso público para o fornecimento de água ao Panguila.
Mas, de acordo com ele, “o concurso estava viciado, por- que apareceu a TEG, empresa que tinha à testa dois moçambicanos e um angolano, identificado apenas por brigadeiro Carneiro que, em pleno concurso, disse que tinha disponíveis um milhão de dólares.
Em face disso, conta, “a obra foi a eles adjudicada mas os executivos da TEG afinal nada sabiam em termos de execução de obras hidráulicas e por isso acabaram por subcontratar os chineses da Golden Nest que também, por sua vez fizeram um trabalho paliativo, por- que em pouco tempo a tubagem começou a rebentar”.
Minea defende privatização
Fonte do Ministério da Energia e Águas (Minea) também está “de acordo” com a ideia da privatização e considera mesmo “positiva”, porque “vai dinamizar o sector”. Sobre a taxa ‘arbitrária’, ou seja, o cálculo da Ende, o executivo do Minea salientou que “é uma prática que poderá acabar com a efectivação do sistema pré-pago que também só pode ser bem-sucedido no âmbito da previsível e necessária privatização”.
Festas em Angola deixaram de ser negócio rentável